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GA24:89-93 – Intencionalidade

quinta-feira 7 de março de 2024, por Cardoso de Castro

Casanova

[…] A concepção usual da intencionalidade desconhece aquilo para o que se dirige – no caso da percepção – o perceber. Juntamente com isso, ela também desconhece a estrutura do dirigir-se-para, a intentio. A interpretação falsa reside em uma subjetivação às avessas da intencionalidade. Estabelece-se um eu, um sujeito, e deixa-se que vivências intencionais pertençam à sua assim chamada esfera. O eu é aqui algo dotado de uma esfera, na qual são por assim dizer encapsuladas suas vivências intencionais. A partir de agora mostra-se para nós que os comportamentos intencionais mesmos constituem o transcender. Daí se segue que a intencionalidade não pode ser mal interpretada com base em um conceito arbitrário de sujeito e de eu tanto quanto de uma esfera subjetiva e tomada como ensejo para um problema às avessas da transcendência, mas que se precisa determinar inversamente com base no caráter imparcialmente visto da intencionalidade e de sua transcendência pela primeira vez o sujeito em sua essência. Por conta da cisão usual de um sujeito com a sua esfera imanente e de um objeto com a sua esfera transcendente – por conta em geral do fato de a diferença entre um dentro e um fora ser construtiva e dar constantemente ensejo a outras construções –, não falaremos mais futuramente de um sujeito, de uma esfera subjetiva, mas compreenderemos o ente ao qual os comportamentos intencionais pertencem como ser-aí; e, em verdade, de tal modo que, com o auxílio do comportamento intencional corretamente compreendido, procuraremos caracterizar de maneira adequada precisamente o ser do ser-aí, uma de suas constituições fundamentais. Dizer que os comportamentos do ser-aí são intencionais significa dizer que o modo de ser de nosso si próprio, do ser-aí, é de acordo com sua essência de tal modo [99] que esse ente, na medida em que ele é, já se mantém sempre a cada vez junto a algo presente à vista. A ideia de um sujeito que só possui em sua esfera vivências intencionais e ainda não se acha fora, mas fechado em sua cápsula, é um disparate, que desconhece a estrutura fundamental ontológica do ente que nós mesmos somos. Se nós, tal como observamos anteriormente, denominamos de maneira sintética o modo de ser do ser-aí como existência, é preciso que se diga: o ser-aí existe e nunca se encontra presente à vista como uma coisa. Um caráter diferenciador entre existente e presente à vista já se acha precisamente na intencionalidade. O ser-aí existe significa entre outras coisas que ele é de tal modo que ele se comporta, sendo, em relação a algo presente à vista, não como algo subjetivo. Uma janela, uma cadeira, em geral qualquer ente presente à vista no sentido mais amplo possível, nunca existem, porque eles não podem se comportar em relação ao ente presente à vista sob o modo do dirigir-se intencional para. Algo presente à vista não é um ente presente à vista senão entre outros entes presentes à vista.

Com isso, tomamos apenas um primeiro impulso para protegermos o fenômeno da intencionalidade das mais toscas incompreensões e para o visualizarmos aproximadamente. Esse é o pressuposto para que possamos transformar a intencionalidade em problema, tal como procuraremos fazer na segunda parte da preleção.

De saída, temos o intuito de clarificar fundamentalmente o fenômeno da percepção, rejeitando, no que concerne à intencionalidade, duas incompreensões naturais e tenazes. Resumamos as duas interpretações equivocadas. Em primeiro lugar, contra a objetivação às avessas, é preciso dizer: a intencionalidade não é uma relação presente à vista entre entes presentes à vista, um sujeito e um objeto, mas uma estrutura que constitui o caráter relacional do comportamento do ser-aí enquanto tal. Em segundo lugar, é preciso contrapor à subjetivação às avessas o seguinte: a estrutura intencional não é algo que seja imanente ao assim chamado sujeito e que careceria em primeiro lugar da transcendência. Ao contrário, a constituição intencional dos comportamentos do [100] ser-aí é precisamente a condição de possibilidade ontológica de toda e qualquer transcendência. Transcendência, transcender, pertencem à essência do ente, que (com base nela) existe como um ente intencional, isto é, que existe sob o modo do manter-se junto ao ente presente à vista. A intencionalidade é a ratio cognoscendi da transcendência. Essa é a ratio essendi da intencionalidade em seus diversos modos de ser.

A partir dessas duas definições vem à tona o seguinte: a intencionalidade não é nem algo objetivo, presente à vista como um objeto, nem algo subjetivo no sentido de algo que ocorreria no interior do assim chamado sujeito, cujo modo de ser permanece completamente indeterminado. Intencionalidade não é nem objetiva, nem subjetiva no sentido usual, mas antes as duas coisas ao mesmo tempo em um sentido muito mais originário, na medida em que a intencionalidade, pertencente à existência do ser-aí, possibilita o fato de esse ente, o ser-aí, assumir, existindo, um comportamento em relação a algo presente à vista. Com a interpretação suficiente da intencionalidade, o conceito tradicional do sujeito e da subjetividade torna-se questionável; e não apenas aquilo que a psicologia compreende por sujeito, mas também aquilo que ela precisa pressupor tacitamente enquanto ciência positiva sobre a ideia e a constituição do sujeito e que a filosofia mesma só determinou até aqui de maneira extremamente imperfeita e deixou no escuro. Mesmo o conceito filosófico tradicional do sujeito é determinado insuficientemente com vistas à constituição fundamental da intencionalidade. Não se pode decidir algo sobre a intencionalidade a partir de um conceito de sujeito, porque essa intencionalidade é a estrutura essencial, ainda que não seja a estrutura mais originária do próprio sujeito.

Em face das assim chamadas interpretações falsas, não é autoevidente o que se tem em vista com o discurso tradicional acerca do fato de a percepção se relacionar com algo percebido. O fato de se falar hoje com tanta frequência sobre intencionalidade a partir da influência da fenomenologia ou de se introduzir um outro termo para tanto ainda não prova que [101] se viu fenomenologicamente o fenômeno que é assim designado. O fato de os comportamentos: representação, juízo, pensamento, vontade serem estruturados intencionalmente não é um princípio que se possa notar e saber, a fim de retirar daí, por exemplo, conclusões, mas é uma indicação para nos conscientizarmos do que se tem em vista com isso, a estrutura dos comportamentos, para nos assegurarmos constantemente de maneira nova da correção desse enunciado junto aos fenômenos.

As interpretações falsas não são casuais. Elas também não estão fundamentadas exclusiva e primariamente em uma superficialidade do pensamento e da confrontação filosófica. Ao contrário, elas têm o seu fundamento na concepção natural das próprias coisas, tal como essas se encontram no ser-aí segundo a sua essência. De acordo com isso, o ser-aí tem a tendência de conceber todo ente, seja esse ente algo presente à vista no sentido da natureza, seja ele dotado do modo de ser do sujeito, de saída no sentido de algo presente à vista; compreendo-o como presença à vista. Essa é a tendência fundamental da ontologia antiga, que até hoje ainda não foi superada, porque ela pertence concomitantemente à compreensão de ser e ao modo da compreensão de ser do ser-aí. Na medida em que nessa concepção de tudo o que é dado como algo presente à vista a intencionalidade não tem como ser encontrada como relação no interior das coisas presentes à vista, é preciso atribuí-la aparentemente ao sujeito; se ela não é nada objetivo, então ela é algo subjetivo. Também se concebe aqui uma vez mais o sujeito a partir da mesma indeterminação de seu ser como um ente presente à vista, tal como esse se mostra no cogito sum de Descartes  . Assim, quer a apreendamos objetiva ou subjetivamente, a intencionalidade permanece algo que está de algum modo presente à vista. Em contrapartida, é precisamente com o auxílio da intencionalidade e da peculiaridade de que ela não é nada nem objetivo, nem subjetivo, que precisamos nos colocar em um estado de perplexidade e perguntar: Com base nesse fenômeno que não é nem objetivo, nem subjetivo, o ente ao qual ela evidentemente pertence não precisa ser apreendido de uma maneira diversa da que tinha se dado até aqui?

Courtine

[…] La conception courante de l’intentionnalité méconnaît ce sur quoi, dans le cas de la perception, se dirige le percevoir. Elle méconnaît du même coup la structure du se-diriger-sur, l’intentio. La mécompréhension réside dans une subjectivisation à contresens de l’intentionnalité. On pose un Moi, un sujet, à la « sphère » duquel appartiennent des [89] vécus intentionnels. Le Moi est ici quelque chose [aliquid], ayant une sphère propre dans laquelle les vécus intentionnels sont pour ainsi dire enfermés comme dans une boîte. Or il nous est apparu que les comportements intentionnels constituaient par eux-mêmes la transcendance. Il en résulte donc que l’on ne doit pas mésinterpréter l’intentionnalité en fonction d’un concept arbitraire du sujet, du Moi et de sa sphère subjective, ni en faire le point de départ d’un pseudo-problème de la transcendance, mais qu’il convient en revanche de (901 déterminer, en premier lieu, le sujet dans son essence à partir de ce caractère intentionnel, envisagé sans prévention. Dans la mesure où la séparation couramment opérée entre un sujet, avec sa sphère immanente, et un objet avec une sphère transcendante – de manière encore plus générale, la différence entre un dedans et un dehors – est construite de toutes pièces et fournit toujours occasion à de plus amples constructions, nous ne parlerons plus à l’avenir de sujet, ni de sphère subjective, mais nous comprendrons l’étant auquel appartiennent ces comportements intentionnels comme Dasein, et cela de manière à essayer de caractériser comme il convient l’être du Dasein – une de ses structures fondamentales – à l’aide du comportement intentionnel bien compris. Les comportements du Dasein sont intentionnels, cela signifie que le mode d’être qui est le nôtre, celui du Dasein, est en son essence tel que cet étant, dans la mesure où il est, se tient toujours déjà auprès d’un étant-subsistant. L’idée d’un sujet n’ayant de vécus intentionnels que dans sa sphère, sans être dehors, mais restant enfermé dans sa boîte, est un non-sens qui méconnaît la structure ontologique fondamentale de l’étant que nous sommes nous-mêmes. Quand nous désignons – comme nous l’avons fait remarquer précédemment – le mode d’être du Dasein comme existence, cela veut dire que le Dasein existe, et par conséquent n’est jamais présent-subsistant comme une chose. Or l’intentionnalité est précisément un caractère distinctif de l’existant par rapport au présent-subsistant. Le Dasein existe: cela signifie, entre autres choses, que dans son être il se rapporte certes au présent-subsistant, mais non au présent-subsistant au sens du subjectif. Une fenêtre, une chaise, un quelconque présent-subsistant, au sens le plus large du terme, n’existent pas, parce qu’ils ne sont pas en mesure de se rapporter à l’étant-subsistant, à la manière du se-diriger-sur intentionnel. Un étant-subsistant est tout simplement subsistant parmi d’autres.

Mais ce n’est là encore qu’une première étape destinée à préserver d’une mécompréhension encore plus grossière le phénomène de l’intentionnalité et à le prendre en vue de manière approximative. Tel est en effet le premier réquisit, si nous voulons véritablement faire de l’intentionnalité un problème, comme nous l’essayerons dans la [91] seconde partie de ce cours.

[90] Afin de clarifier dans son principe le phénomène de la perception, il nous a donc fallu tout d’abord repousser deux contresens naturels et tenaces relatifs à l’intentionnalité. Résumons brièvement ces deux interprétations trompeuses. Il faut affirmer en premier lieu, contre toute fausse objectivation de l’intentionnalité, que celle-ci n’est pas une relation subsistante entre un sujet et un objet, mais une structure qui constitue le caractère de rapport du comportement du Dasein comme tel. Il faut souligner ensuite, contre toute fausse subjectivisation, que la structure intentionnelle des comportements n’est pas quelque chose d’immanent à un prétendu « sujet », qui aurait d’abord et avant tout besoin de transcendance, puisque la constitution intentionnelle des comportements du Dasein est précisément la condition ontologique de possibilité de toute transcendance. La transcendance, le transcender appartient à l’essence de l’étant qui, fondé sur cette transcendance, existe en tant qu’intentionnel, autrement dit, qui existe sur le mode du séjourner-auprès de l’étant-subsistant. L’intentionnalité est la ratio cognoscendi de la transcendance. Cette dernière est la ratio essendi de l’intentionnalité dans ses différents modes.

Il résulte de cette double détermination que l’intentionnalité n’est ni quelque chose d’objectif, présent-subsistant comme un objet, ni quelque chose de subjectif, au sens de ce qui survient à l’intérieur d’un prétendu « sujet » dont le mode d’être demeure par ailleurs totalement indéterminé. L’intentionnalité n’est ni objective ni subjective au sens courant du terme, mais les deux à la fois en un sens beaucoup plus originel, dans la mesure où l’intentionnalité, qui appartient à l’existence du Dasein, rend possible que cet étant – le Dasein – se rapporte, en existant, au présent-subsistant. L’interprétation suffisante de l’intentionnalité remet en question le concept traditionnel de sujet et de subjectivité, non seulement au sens où la psychologie emploie ces concepts, mais en allant jusqu’à ébranler les présupposés implicites qui sont nécessairement les siens, à titre de science positive, quant à l’idée même de sujet et de sa constitution. Elle remet également en question ce que la philosophie a de son côté déterminé ontologiquement de manière tout à fait incomplète jusqu’ici, et en réalité plutôt laissé dans l’ombre. Le concept philosophique traditionnel de sujet est en effet lui aussi déterminé de manière insuffisante eu égard à la structure fondamentale de l’intentionnalité. Si l’on prend comme point de départ le concept de sujet, on ne peut rien décider quant à l’intentionnalité, dans la mesure où celle-ci constitue la structure essentielle, sinon la plus originelle, du sujet lui-même.

Compte tenu des deux contresens que nous venons de mentionner, le propos trivial : « toute perception se rapporte à un perçu », ne va [91] plus du tout de soi. On parle beaucoup aujourd’hui, sous l’influence de la phénoménologie, d’intentionnalité ou de quelque phénomène du même ordre, que l’on baptise d’un autre nom; mais cela ne suffit pas à prouver que le phénomène ainsi désigné est pris en vue phénoménologiquement. La proposition qui énonce que des comportements tels que représenter, juger, penser, vouloir, sont intentionnellement structurés, n’est pas si claire qu’on puisse simplement en prendre connaissance, pour ainsi dire en prendre bonne note, pour en tirer ensuite les conclusions qui s’imposent, mais elle invite à rendre présent ce qui est ainsi visé – la structure des comportements – , et à s’assurer toujours à nouveau auprès des phénomènes du bien-fondé de cet énoncé.

Mais ces contresens ne sont pas fortuits, ils ne reposent pas exclusivement ni en premier lieu sur la légèreté de la pensée ou le caractère superficiel du débat philosophique, mais ils trouvent leur véritable fondement dans la conception naturelle des choses mêmes, pour autant qu’ils trouvent leur lieu dans le Dasein lui-même, en son essence. En effet le Dasein a tendance à appréhender tout étant – qu’il soit présent au sens de la nature, ou selon le mode d’être du sujet – au sens du présent-subsistant, et à le comprendre par conséquent au sens de la subsistance. Telle est la tendance fondamentale de l’ontologie ancienne, non encore dépassée aujourd’hui, dans la mesure où elle appartient à la compréhension de l’être et au mode de compréhension propres au Dasein. Dans la mesure où l’on ne saurait trouver à l’intérieur de cette conception de tout le donné au sens [931 de présent-subsistant l’intentionnalité en tant que relation au sein des choses présentes-subsistantes, il convient apparemment de l’attribuer au sujet. Puisque l’intentionnalité n’est pas quelque chose d’objectif, elle sera alors quelque chose de subjectif. Et l’on appréhende là encore le sujet comme présent-subsistant, avec la même indéterminité ontologique que celle qui caractérise le cogito sum cartésien. Ainsi l’intentionnalité demeure, qu’on la conçoive objectivement ou subjectivement, quelque chose qui est d’une certaine façon présent-subsistant. Ce qui importe au contraire, à la faveur de l’intentionnalité et de son trait caractérique (n’être rien d’objectif ni de subjectif), c’est de s’étonner et de s’interroger pour savoir si, en raison de ce phénomène ni objectif, ni subjectif, l’étant auquel il appartient manifestement ne devrait pas être conçu autrement que par le passé.

Hofstadter

[…] The usual conception of intentionality misunderstands that toward which—in the case of perception—the perceiving directs itself. Accordingly, it also misconstrues the structure of the self-directedness-toward, the intentio. This misinterpretation lies in an erroneous subjectivizing of intentionality. An ego or subject is supposed, to whose so-called sphere intentional experiences are then supposed to belong. The ego here is something with a sphere in which its intentional experiences are, as it were, encapsulated. But, now, we have seen that the transcending is constituted by the intentional comportments themselves. It follows from this that intentionality must not be misinterpreted on the basis of an arbitrary concept of the subject and ego and subjective sphere and thus taken for an absurd problem of transcendence; rather, just the reverse, the subject is first of all determined in its essential nature only on the basis of an unbiased view of the character of intentionality and its transcendence. Because the usual separation between a subject with its immanent sphere and an object with its transcendent sphere—because, in general, the distinction between an inner and an outer is constructive and continually gives occasion for further constructions, we shall in the future no longer speak of a subject, of a subjective sphere, but shall understand the being to whom intentional comportments belong as Dasein, and indeed in such a way that it is precisely with the aid of intentional comportment, properly understood, that we attempt to characterize suitably the being of the Dasein, one of the Dasein’s basic constitutions. The statement that the comportments of the Dasein are intentional means that the mode of being of our own self, the Dasein, is essentially such that this being, so far as it is, is always already dwelling with the extant. The idea of a subject which has intentional experiences merely inside its own sphere and is not yet outside it but encapsulated within itself is an absurdity which misconstrues the basic ontological structure of the being that we ourselves are. When, as earlier remarked, we give the concise name “existence” to the Dasein’s mode of being, this is to say that the Dasein exists and is not extant like a thing. A distinguishing feature between the existent and the extant is found precisely in intentionality. “The Dasein exists” means, among other things, that the Dasein is in such a way that in being it comports toward what is extant but not toward it as toward something subjective. A window, a chair, in general anything extant in the broadest sense, does not exist, because it cannot comport toward extant entities in the manner of intentional self-directedness toward them. An extant being is simply one among others also extant.

With this we have made only a first approach toward preserving the phenomenon of intentionality from the crudest of misinterpretations, bringing it to view as yet only approximately. This is the presupposition for expressly making intentionality into a problem, as we shall try to do in the second part of the course.

With the aim of clarifying fundamentally the phenomenon of perception we have first warded off two natural and stubborn misinterpretations of intentionality. We may briefly summarize the two faulty interpretations. First, against the erroneous objectivizing of intentionality, it must be said that intentionality is not an extant relation between an extant subject and object but a structure that constitutes the comportmental character of the Dasein’s behavior as such. Secondly, in opposition to the erroneous subjectivizing of intentionality, we must hold that the intentional structure of comportments is not something which is immanent to the so-called subject and which would first of all be in need of transcendence; rather, the intentional constitution of the Dasein’s comportments is precisely the ontological condition of the possibility of every and any transcendence. Transcendence, transcending, belongs to the essential nature of the being that exists (on the basis of transcendence) as intentional, that is, exists in the manner of dwelling among the extant. Intentionality is the ratio cognoscendi of transcendence. Transcendence is the ratio essendi of intentionality in its diverse modes.

It follows from these two determinations that intentionality is neither objective, extant like an object, nor subjective in the sense of something that occurs within a so-called subject, where this subject’s mode of being remains completely undetermined. Intentionality is neither objective nor subjective in the usual sense, although it is certainly both, but in a much more original sense, since intentionality, as belonging to the Dasein’s existence, makes it possible that this being, the Dasein, comports existingly toward the extant. With an adequate interpretation of intentionality, the traditional concept of the subject and of subjectivity becomes questionable. Not only does what psychology means by the subject become questionable but also what psychology itself as a positive science must presuppose implicitly about the idea and constitution of the subject and what philosophy itself has hitherto defined ontologically in an utterly deficient way and left in the dark. The traditional philosophical concept of the subject has also been inadequately determined with regard to the basic constitution of intentionality. We cannot decide anything about intentionality starting from a concept of the subject because intentionality is the essential though not the most original structure of the subject itself.

In view of the misinterpretations mentioned, it is not self-evident what is meant by the trivial statement that perception relates to something perceived. If today under the influence of phenomenology there is much talk about intentionality, whether by that name or another, this does not yet prove that the phenomenon thus designated has been seen phenomenologically. That the comportments of representing, judging, thinking, and willing are intentionally structured is not a proposition that can be noted and known so that, say, inferences can be made from it; rather, it is a directive to bring to mind what is meant by it, namely, the structure of comportments, and, by turning to the phenomena, to assure ourselves ever anew of the legitimacy of this assertion.

The misinterpretations are not accidental. They are not even exclusively and primarily grounded in a superficiality of thought and of philosophical argument. They have their ground instead in the natural conception of things itself, as they are present in the Dasein in conformity with its nature. The Dasein has this natural tendency to start by taking every being—whether something extant in the sense of a natural thing or something with the mode of being of the subject—as an extant entity and to understand it in the sense of being extant. This is the basic tendency of ancient ontology and one that has not yet been overcome down to the present day because it belongs with the Dasein’s understanding of being and its mode of understanding being. Since, in this taking everything given to be something extant, intentionality is not discoverable as a relation among extant things, it must apparently be referred to the subject: if it is not objective then it is something subjective. The subject, again, is taken with the same ontological indeterminateness to be something extant; this is manifest, for instance, in Descartes  ’ cogito sum. Thus intentionality—whether it is conceived objectively or subjectively—remains something that is in some way extant. On the contrary, precisely with the aid of intentionality and its peculiarity of being neither objective nor subjective, we should stop short and ask: Must not the being to which this phenomenon, neither objective nor subjective, obviously belongs be conceived differently than it thus far has been?

Original

[…] Die übliche Auffassung der Intentionalität verkennt das, worauf – im Falle der Wahrnehmung – das Wahrnehmen sich richtet. In eins damit verkennt sie auch die Struktur des Sichrichtens-auf, die intentio. Die Mißdeutung liegt in einer verkehrten Subjektivierung der Intentionalität. Man setzt ein Ich, ein Subjekt an und läßt dessen sogenannter Sphäre intentionale Erlebnisse zugehören. Das Ich ist hier etwas mit einer Sphäre, in die seine intentionalen Erlebnisse gleichsam eingekapselt sind. Nunmehr zeigt sich für uns, daß die intentionalen Verhaltungen selbst das Transzendieren ausmachen. Daraus folgt, daß die Intentionalität nicht aufgrund eines beliebigen Begriffes vom Subjekt und Ich und von subjektiver Sphäre mißdeutet und zum Anlaß genommen werden darf für ein verkehrtes Problem der Transzendenz, sondern daß man umgekehrt [90] aufgrund des unvoreingenommen gesehenen Charakters der Intentionalität und ihrer Transzendenz allererst das Subjekt in seinem Wesen bestimmt. Weil die übliche Trennung eines Subjekts mit seiner immanenten und eines Objekts mit einer transzendenten Sphäre, – weil überhaupt der Unterschied eines Innen und Außen konstruktiv ist und zu weiteren Konstruktionen ständig Anlaß gibt, sprechen wir künftig nicht mehr von einem Subjekt, von einer subjektiven Sphäre, sondern wir verstehen das Seiende, dem die intentionalen Verhaltungen zugehören, als Dasein, und zwar so, daß wir mit Hilfe des recht verstandenen intentionalen Verhaltens gerade das Sein des Daseins, eine seiner Grundverfassungen, angemessen zu charakterisieren versuchen. Die Verhaltungen des Daseins sind intentional, besagt, die Seinsart unser selbst, des Daseins, ist seinem Wesen nach so, daß dieses Seiende, sofern es ist, je schon bei einem Vorhandenen sich aufhält. Die Idee eines Subjekts, das nur in seiner Sphäre intentionale Erlebnisse hat und noch nicht draußen ist, sondern in seiner Kapsel eingeschlossen, ist ein Unbegriff, der die ontologische Grundstruktur des Seienden, das wir selbst sind, verkennt. Wenn wir, wie früher bemerkt, die Seinsart des Daseins kurz als Existenz benennen, ist zu sagen: Das Dasein existiert und ist nie vorhanden wie ein Ding. Ein unterscheidender Charakter zwischen Existierendem und Vorhandenem liegt gerade in der Intentionalität. Dasein existiert, heißt unter anderem, es ist so, daß es seiend zu Vorhandenem sich verhält, zu Vorhandenem nicht als einem Subjektiven. Ein Fenster, ein Stuhl, überhaupt irgendein Vorhandenes im weitesten Sinne, existiert nie, weil es sich nicht zu Vorhandenem in der Weise des intentionalen Sichrichtens darauf verhalten kann. Vorhandenes ist lediglich unter anderem auch vorhanden.

Damit ist nur ein erster Anlauf dazu genommen, das Phänomen der Intentionalität vor den gröbsten Mißverständnissen zu schützen und ungefähr in den Blick zu bringen. Das ist die Voraussetzung dafür, die Intentionalität eigens zum [91] Problem zu machen, wie wir das im zweiten Teil der Vorlesung versuchen werden.

Zunächst haben wir in der Absicht, das Phänomen der Wahrnehmung grundsätzlich zu klären, bezüglich der Intentionalität zwei natürliche und hartnäckige Mißdeutungen zurückgewiesen. Wir fassen beide Fehlinterpretationen kurz zusammen. Erstens ist gegen die verkehrte Objektivierung der Intentionalität zu sagen: Die Intentionalität ist nicht eine vorhandene Beziehung zwischen Vorhandenem, Subjekt und Objekt, sondern eine Struktur, die den Verhältnischarakter des Verhaltens des Daseins als solchen ausmacht. Zweitens ist der verkehrten Subjektivierung entgegenzuhalten: Die intentionale Struktur der Verhaltungen ist nicht etwas, was dem sogenannten Subjekt immanent ist und allererst der Transzendenz bedürfte, sondern die intentionale Verfassung der Verhaltungen des Daseins ist gerade die ontologische Bedingung der Möglichkeit jeglicher Transzendenz. Transzendenz, Transzendieren, gehört zum Wesen des Seienden, das (auf ihr als Grund) als intentionales existiert, d. h. das in der Weise des Sichaufhaltens bei Vorhandenem existiert. Die Intentionalität ist die ratio cognoscendi der Transzendenz. Diese ist die ratio essendi der Intentionalität in ihren verschiedenen Weisen.

Aus diesen beiden Bestimmungen ergibt sich: Die Intentionalität ist weder etwas Objektives, vorhanden wie ein Objekt, noch ist sie subjektiv im Sinne von etwas, das innerhalb eines sogenannten Subjekts, dessen Seinsart völlig imbestimmt bleibt, vorkommt. Intentionalität ist weder objektiv noch subjektiv im üblichen Sinne, wohl aber beides zumal in einem viel ursprünglicheren Sinne, sofern die Intentionalität, zur Existenz des Daseins gehörig, ermöglicht, daß dieses Seiende, das Dasein, existierend zu Vorhandenem sich verhält. Mit der zureichenden Auslegung der Intentionalität wird der traditionelle Begriff des Subjekts und der Subjektivität fragwürdig, nicht nur das, was die Psychologie unter Subjekt versteht, sondern auch das, was sie selbst als positive Wissenschaft [92] unausgesprochen über Idee und Verfassung des Subjekts voraussetzen muß und was die Philosophie selbst bisher ontologisch äußerst unvollkommen bestimmte und im Dunkeln ließ. Auch der philosophische traditionelle Begriff des Subjekts ist mit Rücksicht auf die Grundverfassung der Intentionalität unzureichend bestimmt. Man kann nicht von einem Subjektbegriff aus etwas über Intentionalität entscheiden, weil diese die wesenhafte, wenn auch nicht ursprünglichste Struktur des Subjekts selbst ist.

Angesichts der genannten Mißdeutungen ist es nicht selbstverständlich, was mit der trivialen Rede: Wahrnehmung bezieht sich auf ein Wahrgenommenes, gemeint ist. Wenn man heute unter dem Einfluß der Phänomenologie viel von Intentionalität spricht oder ein anderes Wort dafür einführt, so ist damit noch nicht erwiesen, daß man die so bezeichneten Phänomene phänomenologisch gesehen hat. Daß die Verhaltungen: Vorstellen, Urteilen, Denken, Wollen, intentional strukturiert sind, ist nicht ein Satz, den man sich merken und wissen kann, um daraus etwa Schlüsse zu ziehen, sondern ist die Anweisung, das damit Gemeinte, die Struktur der Verhaltungen, sich zu vergegenwärtigen und ständig neu an den Phänomenen sich der Rechtmäßigkeit dieser Aussage zu versichern.

Die Mißdeutungen sind nicht zufällig. Sie sind auch nicht ausschließlich und primär in einer Oberflächlichkeit des Denkens und der philosophischen Auseinandersetzung begründet, sondern sie haben ihren Grund in der natürlichen Auffassung der Dinge selbst, wie sie im Dasein seinem Wesen nach liegen. Danach hat das Dasein die Tendenz, alles Seiende, mag dieses Vorhandenes sein im Sinne der Natur, oder mag es solches sein von der Seinsart des Subjekts, zunächst im Sinne eines Vorhandenen aufzufassen und im Sinne der Vorhandenheit zu verstehen. Das ist die Grundtendenz der antiken Ontologie, die bis heute noch nicht überwunden ist, weil sie mit zum Seinsverständnis und der Art des Seinsverstehens des Daseins gehört. Sofern in dieser Auffassung alles Gegebenen als eines [93] Vorhandenen die Intentionalität als Beziehung innerhalb der vorhandenen Dinge nicht aufzufinden ist, muß man sie scheinbar dem Subjekt zuweisen; wenn sie nichts Objektives ist, dann ist sie etwas Subjektives. Das Subjekt faßt man wieder in derselben Unbestimmtheit seines Seins als Vorhandenes auf, wie sich das bei Descartes   im cogito sum zeigt. So bleibt die Intentionalität, mag man sie objektiv oder subjektiv fassen, etwas, was irgendwie vorhanden ist. Dagegen ist gerade mit Hilfe der Intentionalität und ihrer Eigentümlichkeit, daß sie weder etwas Objektives noch Subjektives ist, stutzig zu werden und zu fragen: Muß nicht aufgrund dieses weder objektiven noch subjektiven Phänomens das Seiende, dem sie offensichtlich zugehört, anders gefaßt werden als bisher?


Ver online : Die Grundprobleme der Phänomenologie [GA24]


[HEIDEGGER, Martin. Os problemas fundamentais da fenomenologia. Tr. Marco Casanova. Petrópolis: Vozes, 2012]

HEIDEGGER, Martin. The basic problems of phenomenology. Tr. Albert Hofstadter. Bloomington: Indiana University Press, 1988

HEIDEGGER, Martin. Les problèmes fondamentaux de la phénoménologie. Tr. Jean-François Courtine. Paris: Gallimard, 1985.