Natur. VIDE physis
Se porventura se identifica a conexão ôntica das coisas de uso, do utensílio, com o mundo e se se explicita o ser-no-mundo como trato com as coisas de uso, então certamente fica sem perspectiva uma compreensão da transcendência como ser-no-mundo, no sentido de uma “constituição fundamental do ser-aí”. Pelo contrário, a estrutura do ente “mundano ambiente” – na medida em que está descoberto como utensílio – tem, para uma primeira caracterização do fenômeno do mundo, a vantagem de servir de transição para a análise deste fenômeno e de preparar o problema transcendental do mundo. Isto é também a única e, na articulação e disposição dos §§ 14-24 de Ser e Tempo com suficiente clareza apontada, intenção da análise do mundo ambiente; esta análise permanece no todo e tendo em vista a meta condutora, de importância secundária. Se, porém, falta aparentemente a natureza na analítica do ser-aí assim orientada – não apenas a natureza como objeto das ciências naturais, mas também a natureza num sentido mais originário (cf. para isto Ser e Tempo, p. 65, embaixo) -, então há razões para isto. A razão decisiva reside no fato de não se poder encontrar natureza, nem no círculo do mundo ambiente, nem em geral, primariamente, como algo a que nos relacionamos. Natureza está originariamente revelada no ser-aí, pelo fato de este existir, como situado e disposto em meio ao ente. Na medida, porém, em que sentimento de situação (derelicção) faz parte da essência do ser-aí e se expressa na unidade do conceito pleno de preocupação (cuidado; Sorge), pode somente aqui ser conquistada primeiramente a base para o problema da natureza. [MHeidegger SOBRE A ESSÊNCIA DO FUNDAMENTO]
A teoria da relatividade na física nasceu da tendência de apresentar o nexo próprio da NATUREZA tal como ela se constitui “em si” mesma. STMSC: §3
Como teoria das condições de acesso à própria NATUREZA, a teoria da relatividade procura preservar a imutabilidade das leis do movimento através de uma determinação de toda a relatividade, colocando-se com isso diante da questão da estrutura da região de objetos por ela pressuposta, isto é, do problema da matéria. STMSC: §3
Nesse sentido, a contribuição positiva da Crítica da razão pura, de Kant, por exemplo, reside no impulso que deu à elaboração do que pertence propriamente à NATUREZA e não em uma “teoria do conhecimento”. STMSC: §3
A sua lógica transcendental é uma lógica do objeto a priori, a NATUREZA, enquanto âmbito ontológico. STMSC: §3
Ele próprio sabia que estava se aventurando num âmbito obscuro: “Esse esquematismo de nosso entendimento, no tocante aos fenômenos e à sua forma, é uma arte escondida nas profundezas da alma humana, cujos mecanismos verdadeiros dificilmente poderíamos arrancar à NATUREZA para colocá-los a descoberto diante de nossos olhos”. STMSC: §6
Torna-se, assim, evidente que a interpretação antiga do ser dos entes se orienta pelo “mundo” e pela “NATUREZA” em seu sentido mais amplo, retirando de fato a compreensão do ser a partir do “tempo”. STMSC: §6
Com isso se ressalta e acentua a mesma coisa indicada por Husserl , ao exigir para a unidade da pessoa uma constituição essencialmente diferente das coisas da NATUREZA. STMSC: §10
Pois que o homem tenha seu olhar para cima, para Deus e sua palavra, demonstra claramente que por sua NATUREZA nasceu vizinho a Deus, que se lhe assemelha e tem uma tendência para ele, tudo isso decorre sem dúvida de ter sido criado à imagem de Deus”. STMSC: §10
Um ente só poderá tocar um outro ente simplesmente dado dentro do mundo se, por NATUREZA, tiver o modo do ser-em, se, com sua presença [Dasein], já se lhe houver sido descoberto um mundo. STMSC: §12
Ao se refletir sobre esta relação de ser, dá-se, logo de início, um ente, chamado NATUREZA, como aquilo que primeiro se conhece. STMSC: §13
O seu caráter de coisa torna-se problema; e como o caráter de coisa das coisas dotadas de valor se edifica sobre o caráter da coisa natural, o tema primário é o ser das coisas naturais, a NATUREZA como tal. STMSC: §14
Entretanto, mesmo que se lograsse a mais pura explicação do ser da NATUREZA, através das afirmações fundamentais da física matemática, esta ontologia nunca alcançaria o fenômeno “mundo”. STMSC: §14
Em si mesma, a NATUREZA é um ente que vem ao encontro dentro do mundo e que pode ser descoberto, seguindo-se caminhos e graus diferentes. STMSC: §14
Em seu lugar, tenta-se interpretar o mundo a partir do ser de um ente intramundano e, ademais, de um ente intramundano não descoberto como tal, ou seja, a partir da NATUREZA {CH: “NATUREZA” aqui entendida kantianamente, no sentido da física moderna}. STMSC: §14
Entendida em sentido ontológico-categorial, a NATUREZA é um caso limite do ser de um possível ente intramundano. STMSC: §14
A presença [Dasein] só pode descobrir o ente como NATUREZA num determinado modo de seu ser-no-mundo. STMSC: §14
Enquanto conjunto categorial das estruturas de ser de um ente determinado, que vem ao encontro dentro do mundo, a “NATUREZA” nunca poderá tornar {CH: mas o contrário!} STMSC: §14
Do mesmo modo, o fenômeno “NATUREZA”, no sentido do conceito romântico de NATUREZA, só poderá ser apreendido ontologicamente a partir do conceito de mundo, ou seja, através da analítica da presença [Dasein]. STMSC: §14
O uso também descobre no instrumento usado a “NATUREZA”, NATUREZA à luz dos produtos naturais (matérias-primas). STMSC: §15
NATUREZA aqui, porém, não deve ser compreendida como algo simplesmente dado e nem tampouco como poder da NATUREZA. STMSC: §15
Com a descoberta do “mundo circundante”, a “NATUREZA” assim descoberta vem ao encontro. STMSC: §15
Nesse modo de descobrir, porém, a NATUREZA se vela enquanto aquilo que “tece e acontece”, que se precipita sobre nós, que nos fascina com sua paisagem. STMSC: §15
Com ele, descobre-se a NATUREZA do mundo circundante, que então se torna acessível a qualquer um. STMSC: §15
Nos caminhos, ruas, pontes e edifícios, a ocupação descobre a NATUREZA em determinada direção. STMSC: §15
No uso do instrumento relógio, manuseado discreta e diretamente, a NATUREZA do mundo circundante também está à mão. STMSC: §15
Essa distinção determinará ontologicamente a distinção posterior entre “NATUREZA” e “espírito”. STMSC: §19
Contudo, por mais que isso seja correto e por mais equivocada que seja a própria caracterização ontológica deste determinado ente intramundano (NATUREZA) – tanto a ideia de substancialidade quanto o sentido de existit e ad existendum assumido em sua definição – subsiste a possibilidade de se colocar e desenvolver de algum modo o problema ontológico do mundo, através de uma ontologia fundada na distinção radical entre Deus, eu e “mundo”. STMSC: §21
Pode-se, porém objetar que, de fato, o problema do mundo e até o ser dos entes que imediatamente se dão ao encontro dentro do mundo ficam encobertos, mas que Descartes estabeleceu o fundamento para a caracterização ontológica dos entes intramundanos que, em seu ser, fundam qualquer outro ente, ou seja, a NATUREZA {CH: crítica à construção de Husserl das “ontologias” como, de maneira geral, toda crítica de Descartes que se põe aqui com esse propósito} material. STMSC: §21
Descartes radicalizou o estreitamento da questão do mundo, reduzindo-a à questão sobre a coisalidade da NATUREZA enquanto ente intramundano acessível numa primeira aproximação. STMSC: §21
Por que este ente encontra-se, de início, na “NATUREZA”? STMSC: §21
Seguindo a orientação prévia pela “NATUREZA” e pelos intervalos entre as coisas, medidos “objetivamente”, tem-se a tendência de considerar tais avaliações e interpretações do distanciamento como “subjetivas”. STMSC: §23
O mundo perde a especificidade dos seus em torno de, de suas circundâncias, o mundo circundante transforma-se em mundo da NATUREZA. STMSC: §24
O espaço homogêneo da NATUREZA mostra-se apenas através de um modo que descobre o ente uma vez que este vem ao encontro marcado pelo caráter de uma desmundanização específica da determinação mundana do manual. STMSC: §24
Na análise feita até aqui, a periferia daquilo que vem ao encontro dentro do mundo restringiu-se, de início, ao instrumento manual e à NATUREZA simplesmente dada e, assim, aos entes destituídos do caráter da presença [Dasein]. STMSC: §26
Por outro lado, também a “unidade” do que é simplesmente dado numa variedade multiforme, a NATUREZA, só pode ser descoberta com base na abertura de uma possibilidade que lhe pertence. STMSC: §31
Será por acaso que a questão do ser da NATUREZA visa as “condições de sua possibilidade”? STMSC: §31
Mas será que a falta desse “como” não constituirá a NATUREZA pura e simples de uma pura percepção? STMSC: §32
O que é simplesmente dado enquanto vem ao encontro na presença [Dasein] pode, por assim dizer, atropelar o seu ser como, por exemplo, os fenômenos da NATUREZA que irrompem e destroem. STMSC: §32
Segundo a opinião dos próprios historiadores, o ideal seria que se pudesse evitar o círculo na esperança de se criar, pela primeira vez, uma historiografia tão independente do ponto de vista do observador como se presume que seja o conhecimento da NATUREZA. STMSC: §32
O conhecimento da interpretação do logos, embora insuficiente do ponto de vista ontológico, torna mais nítida a percepção da NATUREZA não originária da base metodológica em que a antiga ontologia nasceu e cresceu. STMSC: §33
E, como o mudo, aquele que, por NATUREZA, fala pouco, também ainda não mostra que silencia e pode silenciar. STMSC: §34
A interpretação ontológico-existencial não se refere, portanto, a uma fala ôntica sobre a “corrupção da NATUREZA humana”, não apenas porque lhe faltam os recursos necessários, mas também porque a sua problemática antecede qualquer enunciado sobre corrupção ou incorruptibilidade. STMSC: §38
Nelas, na perfeição de uma, a saber, de Deus, o bem realiza sua NATUREZA, e na perfeição do outro, do homem, a cura”: unius bonum natura perficit, dei scilicet, alterius cura, hominis”. STMSC: §42
A “NATUREZA” que nos “envolve” é, na verdade, um ente intramundano que, no entanto, não apresenta o modo de ser do que está à mão e nem de algo simplesmente dado no modo de “coisidade da NATUREZA”. STMSC: §43
Qualquer que seja a maneira de interpretar esse ser da “NATUREZA”, todos os modos de ser dos entes intramundanos fundam-se, ontologicamente, na mundanidade do mundo e, assim, no fenômeno do ser-no-mundo. STMSC: §43
O ser e estar em dívida dessa NATUREZA refere-se ao que é passível de ocupação. STMSC: §58
Visando a uma primeira caracterização da gênese da atitude teórica a partir da circunvisão, estabelecemos como base um modo de apreensão teórica dos entes intramundanos, a saber, a NATUREZA física, em que a modificação da compreensão de ser equivale a uma transformação. STMSC: §69
O decisivo reside no projeto matemático da NATUREZA ela mesma. STMSC: §69
Somente “à luz” de uma NATUREZA assim projetada é que se pode encontrar um “fato” e se empreender um experimento delimitado e regulado pelo projeto. STMSC: §69
Primariamente, o decisivo no projeto matemático da NATUREZA não é, pois, o matemático como tal, mas o abrir de um a priori. STMSC: §69
Assim, o caráter exemplar da ciência matemática da NATUREZA também não reside em sua exatidão específica e na obrigatoriedade para “todos”, mas em que, nela, o ente temático é descoberto da única maneira em que pode ser descoberto, a saber, no projeto prévio de sua constituição de ser. STMSC: §69
Para que a tematização do ser simplesmente dado, ou seja, do projeto científico da NATUREZA, seja possível, a presença [Dasein] deve transcender o ente tematizado. STMSC: §69
Da mesma forma, os processos da NATUREZA animada e inanimada vêm ao encontro “no tempo”. STMSC: §72
História significa, ademais, por oposição à NATUREZA, que também se move “no tempo”, os entes passageiros “do tempo”, isto é, as transformações e destinos dos homens, dos grupos humanos e de sua “cultura”. STMSC: §73
Nesse caso, história não significa tanto o acontecer enquanto modo de ser, mas a região daquele ente que se distingue da NATUREZA, no que respeita à determinação essencial da existência do homem como “espírito” e “cultura”, embora a NATUREZA, de certo modo, pertença à história assim entendida. STMSC: §73
Secundariamente histórico é, porém, o que vem ao encontro dentro do mundo, não apenas o instrumento à mão em sentido amplo mas também a NATUREZA do mundo circundante, como “solo histórico”. STMSC: §73
Mas também a NATUREZA é histórica. STMSC: §75
Sem dúvida ela não o é quando falamos de “história da NATUREZA” e sim como paisagem, região de exploração e ocupação, como campo de batalha e lugar de culto. STMSC: §75
Mas, segundo a sua NATUREZA e estrutura ontológicas, toda abertura historiográfica da história já está, em si mesma, radicada na historicidade da presença [Dasein], quer se tenha cumprido de fato ou não. STMSC: §76
“Também” se esforçou por delimitar a fronteira entre as ciências da NATUREZA e as ciências do espírito, atribuindo à história dessas ciências e também à “psicologia” um papel privilegiado e inserindo tudo numa “filosofia da vida”, de caráter relativista. STMSC: §77
O trabalho de pesquisa de Dilthey pode ser dividido, esquematicamente, em três campos: estudos sobre a teoria das ciências do espírito e sua delimitação frente às ciências da NATUREZA; pesquisas sobre a história das ciências do homem, da sociedade e do estado; investigações sobre uma psicologia que deve expor “todo o fato homem”. STMSC: §77
Nela se insere a tarefa de elaborar, positiva e radicalmente, as diferentes estruturas categoriais dos entes: da NATUREZA e daquele ente que é história (da presença [Dasein]). STMSC: §77
Para o cientista da NATUREZA, além da ciência entendida como uma espécie de meio de tranquilização humana, resta somente o deleite estético. STMSC: §77
No fundo, eles são cientistas da NATUREZA, que se tornam ainda mais céticos quando lhes falta o experimento. STMSC: §77
É pelo conhecimento do caráter ontológico da própria presença [Dasein] humana e não por uma epistemologia ligada ao objeto da consideração histórica que Yorck alcança a compreensão penetrante e clarividente do caráter fundamental da história enquanto “virtualidade”: “O ponto nevrálgico da historicidade reside em que a totalidade dos dados psicofísicos não é (é = ser simplesmente dado da NATUREZA; observação do autor), mas vive. STMSC: §77
Tanto quanto NATUREZA, eu sou história… STMSC: §77
Todavia, mais elementar do que a constatação de que o “fator tempo” vem à tona nas ciências da história e da NATUREZA é que, bem antes de qualquer pesquisa temática, a presença [Dasein] já “conta com o tempo” e por ele se orienta. STMSC: §78
Com a abertura fática de seu mundo, a NATUREZA se descobre para a presença [Dasein]. STMSC: §80
Neste, o que sempre já está descoberto é, sobretudo, a NATUREZA do mundo circundante e o mundo circundante público. STMSC: §80
A compreensão do relógio natural, construída através da evolução da descoberta da NATUREZA, acena para novas possibilidades de medição do tempo que são relativamente independentes do dia e de toda observação explícita do céu. STMSC: §80
Da mesma forma que a análise concreta da contagem astronômica do tempo pertence à interpretação ontológico-existencial da descoberta da NATUREZA, assim também só se pode liberar o fundamento da “cronologia” da história e do calendário, no âmbito da tarefa de uma análise existencial do conhecimento historiográfico. STMSC: §80
A primeira interpretação legada pela tradição e que trata amplamente da compreensão vulgar do tempo encontra-se na Física de Aristóteles, ou seja, no contexto de uma ontologia da NATUREZA. “ STMSC: §82
O espaço é a indiferença sem mediação do estar-fora-de-si da NATUREZA. STMSC: §82
Ademais na NATUREZA, onde o tempo é agora, ele não chega a uma diferenciação ‘subsistente’ daquelas dimensões (passado e futuro)”. “ STMSC: §82
A história universal é, por conseguinte, a interpretação do espírito no tempo assim como a ideia se interpreta no espaço como NATUREZA”. STMSC: §82