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GA45:§1 – tonalidade afetiva e filosofia

quarta-feira 20 de março de 2024, por Cardoso de Castro

Casanova

“Questões fundamentais da filosofia” – isso parece implicar que haveria “a filosofia” em si, de cujo domínio seriam extraídas, então, “questões fundamentais”. Mas esse não é nem pode ser o caso. Ao contrário, é só por meio do questionamento das questões fundamentais da filosofia que se determina o que a filosofia é. Na medida em que as coisas se comportam desse modo, somos obrigados a indicar de antemão como a filosofia se nos torna manifesta quando questionamos; isto é, quando investimos todas as coisas – a saber, tudo – nesse questionamento, e não apenas agimos como se perguntássemos, acreditando sempre já possuir as nossas supostas verdades.

Essa breve interpretação prévia da essência da filosofia não tem por tarefa senão sintonizar a tonalidade afetiva fundamental correta ou, dito de maneira mais prudente, levar essa tonalidade afetiva fundamental a uma primeira ressonância. Mas ora: a filosofia, o trabalho pensante mais rigoroso do conceito e – a tonalidade afetiva? Como essas duas coisas se coadunam, filosofia e tonalidade afetiva? Com certeza, elas se coadunam; pois justamente se e porque a filosofia é e continua sendo o pensamento mais tenaz oriundo da mais pura sobriedade, ela emerge e permanece em uma tonalidade afetiva maximamente elevada. A pura sobriedade não é com certeza um nada, ela não se mostra de modo algum apenas como a ausência de uma tonalidade afetiva, nem tampouco como a mera frieza do conceito rígido. Ao contrário, a pura sobriedade do pensamento não é no fundo senão a mais rigorosa manutenção-em-si da mais elevada tonalidade afetiva, daquela tonalidade afetiva justamente que se abriu ao fato único e descomunal: o fato de que o ente é e não antes não é.

Essa tonalidade afetiva fundamental da filosofia, isto é, da filosofia futura, se é que algo pode ser dito imediatamente sobre ela, nós denominamos retenção. Na retenção, dois elementos estão unidos e se compertencem de maneira originária: o terror diante daquilo que há de mais próximo e importuno, a saber, o fato de que o ente é, e, ao mesmo tempo, o pudor ante o fato mais remoto de que o seer se essencializa no ente e antes de todo ente. A retenção é aquela tonalidade afetiva na qual esse terror não é superado e alijado, mas, precisamente, resguardado e conservado por meio do pudor. A retenção é a tonalidade afetiva fundamental da ligação com o seer. Nessa ligação, o velamento da essência do seer torna-se aquilo que há de mais digno de questão. Apenas quem se lança no fogo ardente da questão acerca desse elemento maximamente digno de questão tem o direito de dizer mais do que uma palavra alusiva sobre essa tonalidade afetiva fundamental. Se ele conquistou arduamente esse direito, não precisará usá-lo, mas terá antes de silenciar. A tonalidade afetiva fundamental, contudo, nunca pode ser transformada em objeto de um falatório, por exemplo, segundo o modo popular e precipitado que constata agora que o que estamos ensinando aqui é uma filosofia da retenção.

Rojcewicz

“Basic questions of philosophy”—that seems to imply there is such a thing as “philosophy” in itself, from whose domain “basic questions” could be drawn out. But such is not the case and cannot be; on the contrary, it is only the very asking of the basic questions that first determines what philosophy is. Since that is so, we need to indicate in advance how philosophy will reveal itself when we question: i.e., if we invest everything—everything without exception—in this questioning and do not merely act as if we were questioning while still believing we possess our reputed truths.

The task of this brief preliminary interpretation of the essence of philosophy will simply be to attune our questioning attitude to the right basic disposition or, to put it more prudently, to allow this basic disposition a first resonance. But, then, philosophy, the most rigorous work of abstract thought, and—disposition? Can these two really go together, philosophy and disposition? To be sure; for precisely when, and because, philosophy is the most rigorous thinking in the purest dispassion, it originates from and remains within a very high disposition. Pure dispassion is not nothing, certainly not the absence of disposition, and not the sheer coldness of the stark concept. On the contrary, the pure dispassion of thought is at bottom only the most rigorous maintenance of the highest disposition, the one open to the uniquely uncanny fact: that there are beings, rather than not.

If we had to say something immediately about this basic disposition of philosophy, i.e., of futural philosophy, we might call it “restraint” [Verhaltenheit]. In it, two elements originally belong together and are as one: terror in the face of what is closest and most obtrusive, namely that beings are, and awe in the face of what is remotest, namely that in beings, and before each being, Being holds sway [das Seyn west]. Restraint is the disposition in which this terror is not overcome and set aside but is precisely preserved and conserved through awe. Restraint is the basic disposition of the relation to Being, and in it the concealment of the essence of Being becomes what is most worthy of questioning. Only one who throws himself into the all-consuming fire of the questioning of what is most worthy of questioning has the right to say more of the basic disposition than its allusive name. Yet once he has wrested for himself this right, he will not employ it but will keep silent. For all the more reason, the basic disposition should never become an object of mere talk, for example in the popular and rash claim that what we are now teaching is a philosophy of restraint.

Original

»Grundfragen der Philosophie« — das nimmt sich so aus, als gäbe es an sich »die Philosophie« und als würden dann aus ihrem Umkreis »Grundfragen« herausgegriffen. So ist es nicht und kann es nicht sein, sondern durch das Fragen der Grundfragen bestimmt sich erst, was die Philosophie sei. Weil es so steht, sind wir genötigt, im voraus anzudeuten, als was sich uns die Philosophie offenbaren wird, wenn wir fragen; d. h. wenn wir alles — nämlich Alles — auf dieses Fragen setzen und nicht etwa nur so tun, als ob wir fragten, indem wir unsere angeblichen Wahrheiten je schon zu besitzen meinen.

Diese kurze Vordeutung auf das Wesen der Philosophie hat lediglich die Aufgabe, unsere fragende Haltung auf die rechte Grundstimmung abzustimmen oder, vorsichtiger gesprochen, diese Grundstimmung zu einem ersten Anklang zu bringen. Doch: Philosophie, die strengste denkerische Arbeit des Begriffes, und — Stimmung? Wie geht beides zusammen, Philosophie und Stimmung? Allerdings; denn gerade wenn und weil die Philosophie das härteste Denken aus der reinsten Nüchternheit bleibt, entspringt sie aus und verweilt sie in einer höchsten Stimmung. Reine Nüchternheit ist ja nicht nichts, gar nur das Fehlen der Stimmung, auch nicht die bloße Kälte des starren [2] Begriffes, sondern die reine Nüchternheit des Denkens ist im Grunde nur das strengste Ansichhalten der höchsten Stimmung, jener nämlich, die sich geöffnet hat dem einen einzigen Ungeheuren: daß Seiendes ist und nicht vielmehr nicht ist.

Diese Grundstimmung der Philosophie, d. h. der künftigen Philosophie, nennen wir, wenn davon überhaupt immittelbar etwas gesagt werden darf: die Verhaltenheit. In ihr sind ursprünglich einig und zusammengehörig: das Erschrecken vor diesem Nächsten und Aufdringlichsten, daß Seiendes ist, und zugleich die Scheu vor dem Fernsten, daß im Seienden und vor jedem Seienden das Seyn west. Die Verhaltenheit ist jene Stimmung, in der jenes Erschrecken nicht überwunden und beseitigt, sondern durch die Scheu gerade bewahrt und verwahrt ist. Die Verhaltenheit ist die Grundstimmung des Bezuges zum Seyn, in welchem Bezug die Verborgenheit des Wesens des Seyns das Fragwürdigste wird. Nur wer sich in das verzehrende Feuer des Fragens nach diesem Fragwürdigsten stürzt, hat ein Recht, von dieser Grundstimmung mehr als nur dies hinweisende Wort zu sagen. Wenn er dieses Recht errungen hat, wird er es nicht gebrauchen, sondern schweigen. Niemals aber darf die angezeigte Grundstimmung der Gegenstand eines Geredes werden, etwa nach jener beliebten und schnellfertigen Art, die jetzt feststellt, hier werde eine Philosophie der Verhaltenheit gelehrt.


Ver online : Grundfragen der Philosophie [GA45]