O alemão possui duas palavras para “ objeto”, Objekt e Gegenstand, mas apenas uma para “sujeito”, Subjekt. Objekt vem do latim obiectum, literalmente o que está lançado contra (gegen), contraposto. Quanto ao significado e ao uso feito por Heidegger, as palavras pouco diferem. Objekt está naturalmente mais correlacionado a Subjekt, sobretudo na expressão “relação sujeito-objeto”. Para um alemão, o sentido literal de Gegenstand é mais óbvio do que o de Objekt. Heidegger frequentemente escreve Gegenstand (p.ex., GA6T2, 153; 461s/GA9, 58), referindo-se, num jogo de palavras, aos entes como o que, ‘“lançando-se contra’ a pura descoberta”, toma-se “objeto (Objekt)” (SZ, 363). Seu uso insistente de begegnen, “vir ao encontro”, em frases tais como “os entes que (nos) vêm ao nosso encontro dentro do mundo” (SZ, 44), onde normalmente diríamos: “os entes que encontramos vem da sua derivação de gegen: entes vêm contra, en-contram, nos confrontam, à medida que nos enfrentam (GA65, 269). “Objeto” e os seus equivalentes alemães são ambíguos, significando: 1. um objeto real, 2. um objeto intencional, um objeto de um sujeito ou de uma atitude intencional tal como conhecimento, amor ou curiosidade. Um objeto real (p.ex., uma ilha não descoberta) não precisa ser o objeto de nenhuma atitude subjetiva, e um objeto intencional (p.ex., o unicórnio com o qual sonho) não precisa ser um objeto real. Se todo objeto é objeto para um sujeito, então Objekt e Gegenstand são usados no sentido 2. Nem todo ente é um objeto, já que, por exemplo, processos naturais ocorrem sem que sejam objetos para um sujeito (GA24, 222s). Posteriormente, ele distingue as duas palavras: “Todo Objekt é um Gegenstand, mas nem todo Gegenstand (p.ex., a coisa em si mesma) é um Objekt possível” (GA60, 73). “A categoria ‘Gegenstand’ era estranha aos gregos. Em seu lugar havia pragma (‘uma coisa feita, feito, coisa etc.’), aquilo com o qual temos relação e lidamos — o que é presente para lidas ocupacionais com as coisas” (GA17, 14. Cf. SZ, 68). (Esse entendimento de Heidegger não procede: Aristóteles usa antikeimenon, — a, lit. “o que está contra”, como o equivalente exato de Gegenstand e Objekt, para, por exemplo, a visão ou o intelecto.)
[…]Como de costume, Heidegger começa tratando como uma desorientada teoria filosófica aquilo que mais tarde irá considerar um aspecto central da modernidade decadente. Suas iniciais objeções ao modelo sujeito-objeto são: 1. Ele ignora o MUNDO, que é uma pré-condição dos nossos encontros com objetos ou entes enquanto tais: “ ‘Mundo’ é algo no qual alguém pode viver (não se pode viver em um objeto)” (GA60, 11). 2. Ele implica que o sujeito e o objeto possuem o mesmo modo de ser, que são ambos SERES-SIMPLESMENTE-DADOS ou coisas. 3. Ele “tematiza” entes, torna-os conspicuos, ignorando aquilo que vemos pelo canto dos olhos, aquilo do qual estamos conscientes apenas de maneira vaga e restrita (SZ, 363). 4. Sugere que nosso modo primordial de acesso às coisas é a cognição ou o conhecimento teórico. 5. Implica que o sujeito é separado do objeto por uma barreira (como um caramujo em sua concha, GA20, 223s), e que o seu acesso ao objeto é mediado por uma REPRESENTAÇÃO. 6. Indica que uma pessoa é primordialmente um sujeito ou ego, destacado do corpo, do mundo e do IMPESSOAL, e que está consciente de si mesma por meio da reflexão sobre o eu. Na verdade, DASEIN é primordialmente consciente de si mesmo naquilo com o qual está em lida (SZ, 119; GA24, 227).
(Inwood, MIDH)