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GA87:308-310 – Nenhuma ciência consegue ter clareza sobre sua própria essência

segunda-feira 19 de fevereiro de 2024, por Cardoso de Castro

Giachini

Nenhuma ciência consegue ter clareza sobre sua própria essência. Isso porque seria necessário investigar a ciência como se fosse um objeto dessa ciência, precisamente com o mesmo método. Mas a ciência ela mesma não é um objeto de consideração para si mesma; quiçá, ela seja o espaço de mirada, unicamente dentro do qual o homem pode deixar vir ao seu encontro objetos dentro de uma determinada perspectiva. Esse espaço de mirada já não pode ser investigado pelo cientista com os recursos de sua ciência, visto que ele teria de colocar a si mesmo, enquanto pesquisador, para dentro do mesmo. O físico não pode dizer do ponto da física o que é propriamente a física. Tampouco o historiador. A questão pela essência de uma ciência é a questão pela essência do saber. Mas a física, a historiografia, a germanística etc. jamais tratam do saber enquanto saber, mas sempre apenas de objetos. O cientista nem sequer pode perguntar o que seja objetualidade como tal. O fato de que dentro de sua ciência os objetos de sua ciência advêm a ele a seu modo, este é um fato que lhe é dado. Sua pesquisa se inicia apenas naquilo que já se lhe contrapõe.

O que significa pois que a história enquanto história se torna objeto ao homem? O pesquisador de história, com o método de sua ciência, não conseguirá fornecer qualquer informação sobre isso. A relação do cognoscente com seu objeto (= verdade em sentido o mais amplo) não pode ser pesquisada com os recursos de cada ciência respectiva. E bem verdade que o cientista pode refletir sobre sua ciência e sua essência. Mas nesse caso já estará filosofando. Só assim terá abertura de compreensão sobre a ciência ela mesma. Sabemos que a filosofia é um saber mais elevado que todo e qualquer saber sobre objetos. Só a ela um saber de objetos pode se tornar objeto de pesquisa e por ela ser reconhecido enquanto saber. A filosofia pode inclusive perguntar por sua própria essência e pronunciar-se sobre ela.

Perguntamos pela relação da filosofia com as ciências. Como pode haver muitas ciências, enquanto que há apenas uma filosofia que se contrapõe a todas essas? Cada ciência é segundo sua essência ciência particular. O que significa isso? Cada ciência tem objetos que lhe pertencem. Ela os encontra de antemão no pensamento e na experiência natural. Antes de uma ciência começar a investigar seus fenômenos, história e natureza já existem. Antes que a história da arte se transforme numa ciência, existem obras de arte. O objeto das ciências já está dado de antemão. É um “positivum”. Toda ciência é positiva, isto é, depende de um âmbito que já está dado antes da ciência. Enquanto uma ciência particular positiva, ela se restringe singular e necessariamente a um determinado âmbito de objetos.

Todavia, a questão pela essência de qualquer saber, pelo tipo de objetos, é sempre filosofia. É a única que reúne as ciências particulares de sua singularidade (ou melhor: permite que essas venham à expressão como singulares) e, abarcando seja qual ciência for, ela continua sendo sempre: filosofia. Na questão pela relação da filosofia com as ciências, não estamos procurando pela relação entre dois objetos distintos, visto que – perguntando desse modo – estamos fazendo filosofia, isto é, permanecemos dentro do âmbito da filosofia. Mas na medida em que a filosofia é saber do saber, implica em si todos os objetos de qualquer das ciências. As ciências são espécies desdobradas de filosofia. E só porque há filosofia que há ciências. Em toda e qualquer ciência (em todo tipo de experimentar, de demonstração) já se encontra uma filosofia tácita. Em toda e qualquer ciência já estão implicadas pressuposições bem-determinadas. Toda ciência é uma filosofia tácita. Se quisermos comparar a filosofia com um modo de comportamento humano, então devemos tomar para isso a arte e a religião. As ciências, porém, pertencem ao âmbito da filosofia.

Original

Keine Wissenschaft kann sich über ihr eigenes Wesen klar werden. Dies deshalb, weil man die Wissenschaft ebenso wie einen Gegenstand dieser Wissenschaft mit eben ihrer Methode untersuchen müßte. Aber die Wissenschaft selbst ist kein Gegenstand der Betrachtung für sie selbst; wohl ist sie der Blickraum, innerhalb dessen stehend der Mensch erst Gegenstände in einer bestimmten Hinsicht begegnen lassen kann. Dieser Blickraum ist vom Wissenschaftler mit Mitteln seiner Wissenschaft nicht mehr zu erforschen, weil er immer schon zuvor sich, den Forschenden, in ihn stellen müßte. Der Physiker kann nicht physikalisch aussa-gen, was die Physik eigentlich sei. Ebensowenig der Historiker. Die Frage nach dem Wesen einer Wissenschaft ist die Frage nach dem Wesen des Wissens. Aber Physik, Historie, Germanistik u.s.f. handeln nie vom Wissen als Wissen, sondern immer nur von Gegenständen. Der Wissenschaftler kann nicht einmal fragen, was [309] überhaupt Gegenständlichkeit sei. Dali innerhalb seiner Wissenschaft die Gegenstände seiner Wissenschaft je in ihrer Weise auf ihn zukommen, ist ihm das Gegebene. Erst am schon Gegenstehenden beginnt seine Forschung.

Was heißt es denn, daß Geschichte als Geschichte dem Menschen zum Gegenstand wird? Der Geschichtswissenschaftler vermag mit der Methode seiner Wissenschaft darüber keine Auskunft zu geben. Das Verhältnis des Erkennenden zum Gegenstand (= Wahrheit im weitesten Sinne) ist nicht zu untersuchen mit den Mitteln der jeweiligen Wissenschaft. Wohl kann der Wissenschaftler nachdenken über seine Wissenschaft und ihr Wesen. Aber dann philosophiert er bereits. Nur so wird ihm Aufschluß über die Wissenschaft selbst. Wir erkennen, daß die Philosophie ein höheres Wissen ist, als jedes Wissen von Gegenständen. Ihr allein vermag ein Wissen von Gegenständen Gegenstand und damit als Wissen von ihr erkannt zu werden. Die Philosophie kann selbst ihr eigenes Wesen erfragen und über es aussagen.

Wir fragen nach dem Verhältnis der Philosophie zu den Wissenschaften. Wieso gibt es viele Wissenschaften, während allen diesen nur die eine Philosophie gegenübersteht? Jede Wissenschaft ist ihrem Wesen nach Einzelwissenschaft. Was heißt das? Jede Wissenschaft hat Gegenstände, die sie angehen. Sie findet diese vor im natürlichen Denken und Erfahren. Geschichte, Natur sind, bevor eine Wissenschaft beginnt, ihre Erscheinungen zu erforschen. Kunstwerke sind vorhanden, ehe überhaupt Kunstgeschichte zu einer Wissenschaft werden kann. Der Gegenstand der Wissenschaften ist im vorhinein vorgegeben. Er ist ein „positivum‟. Jede Wissenschaft ist positiv, das heißt, sie ist auf einen Bereich, der schon vor der Wissenschaft gegeben ist, angewiesen. Als positive Einzelwissenschaft vereinzelt sie sich notwendig auf einen bestimmten Bereich von Gegenständen.

Die Frage nach dem Wesen eines jeden Wissens, aller Arten von Gegenständen aber ist immer Philosophie. Sie sammelt erst die Einzelwissenschaften aus ihrer Vereinzelung heraus (besser: läßt sie als vereinzelte erst aus sich hervorgehen) und, hinlangend [310] zu welcher Wissenschaft auch immer, bleibt sie doch stets, was sie ist: Philosophie. Bei der Frage nach dem Verhältnis der Philosophie zu den Wissenschaften suchen wir nicht die Beziehung zwischen zwei verschiedenen Gegenständen, weil wir ja — so fragend — Philosophie treiben, das heißt, innerhalb der Philosophie verbleiben. Indem nun Philosophie das Wissen vom Wissen ist, schließt sie alle Gegenstände jeder Art von Wissenschaft in sich ein. Die Wissenschaften sind ausgeformte Arten der Philosophie. Nur weil es Philosophie gibt, gibt es Wissenschaften. In jeder Wissenschaft (in der Art des Erfahrens, der Beweise) liegt schon eine unausgesprochene Philosophie. In jeder Wissenschaft sind ganz bestimmte Voraussetzungen schon eingeschlossen. Jede Wissenschaft ist eine unausgesprochene Philosophie. Wollte man mit Philosophie eine Verhaltensweise des Menschen vergleichen, so sind Kunst und Religion zu nennen. Die Wissenschaften aber gehören in die Philosophie.


Ver online : Nietzsche. Seminare 1937 und 1944 [GA87]


HEIDEGGER, Martin. Nietzsche – Seminários de 1937 e 1944. Tr. Enio Paulo Giachini. Petrópolis: Vozes, 2014