Lucy Moreira Cesar
1. Os filósofos de língua inglesa e de cultura analítica aprenderam em primeiro lugar em Locke e em Hume que sem o fio condutor da distinção entre dois modelos de identidade e sem o auxílio da mediação narrativa, a questão da identidade pessoal perde-se nos arcanos de dificuldades e de paradoxos paralisantes.
Do primeiro, a tradição ulterior reteve a equação entre identidade pessoal e memória. Mas é preciso ver ao preço de que inconsistência na argumentação e de que (…)
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Ricoeur / Ricœur / Paul Ricœur
PAUL RICŒUR (1913-2005)
OBRAS NA INTERNET: LIBRARY GENESIS
RICOEUR, Paul. Du texte à l’action. Essais d’herméneutique II. Paris: Seuil, 1986 / Del texto a la acción. Ensayos de hermenéutica II. Tr. Pablo Corona. México: Fondo de Cultura Económica, 2002
RICOEUR, Paul. Temps et récit III. Le temps raconté. Paris: Éd. du Seuil, 1985.
RICOEUR, Paul. Soi-même comme un autre. Paris: Seuil, 1990 / O si-mesmo como um outro. Tr. Lucy Moreira Cesar. Campinas: Papirus, 1991
RICŒUR, Paul. La mémoire, l’histoire, l’oubli. Paris: Seuil, 2000 / A memória, a história, o esquecimento. Tr. Alain François et al. Campinas: Editora da Unicamp, 2007
RICOEUR, Paul. Interpretação e Ideologias. Tr. Hilton Japiassu. Francisco Alves, 1977
Matérias
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Ricoeur (1991:151-152) – identidade em Locke
2 de fevereiro, por Cardoso de Castro -
Ricoeur (1977) – O discurso como obra
22 de junho de 2023, por Cardoso de CastroProponho três traços distintivos da noção de obra. Em primeiro lugar, uma obra é uma sequência mais longa que a frase, e que suscita um problema novo de compreensão, relativo à totalidade finita e fechada constituída pela obra enquanto tal. Em seguida, a obra é submetida a uma forma de codificação que se aplica à própria composição e faz com que o discurso seja um relato, um poema, um ensaio etc. É essa codificação que é conhecida pelo nome de gênero literário. Em outros termos, compete a (…)
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Ricoeur (2000:5-7) – Memória e Imaginação (nota inicial)
28 de novembro de 2023, por Cardoso de CastroAo submeter-se ao primado da questão "o quê", a fenomenologia da memória confronta-se desde logo com uma formidável aporia que a linguagem corrente suporta: a presença em que parece consistir a representação do passado parece ser, de facto, a de uma imagem. Dizemos indistintamente que representamos um acontecimento passado ou que temos uma imagem dele, que pode ser visual ou auditiva.
En se soumettant au primat de la question « quoi ? », la phénoménologie de la mémoire se voit confrontée (…) -
Ricoeur (1977) – Mundo do Texto
22 de junho de 2023, por Cardoso de CastroO traço que colocamos sob este título vai levar-nos ao mesmo tempo a ultrapassar as posições da hermenêutica romântica, que ainda são as de Dilthey, mas também às antípodas do estruturalismo, que recuso, aqui, como o simples contrário do romantismo.
Japiassu
Estamos lembrados de que a hermenêutica romântica enfatizava a expressão da genialidade. Igualar-se a essa genialidade, tornar-se contemporâneo dela, era a tarefa da hermenêutica. Dilthey, próximo ainda, neste sentido, da (…) -
Caron (2005:72-74): idem e ipse
16 de fevereiro de 2022, por Cardoso de CastroCARON, Maxence. Heidegger. Pensée de l’être et origine de la subjectivité. Paris: CERF, 2005, p. 72-74
Quand on dit « le moi », on parle d’un subjectum, d’un étant étalé dans toute sa visibilité et se prêtant aux prises de l’esprit. Mais quand on dit « le soi », on dit le moi = moi, totalité complexe, écart de soi à soi dans soi, dimension de temporalité, tension et mouvement au sein d’un domaine d’extension. L’identité déployée par le soi est donc plus complexe que la simple coïncidence (…) -
Ricoeur (1991:73-78) – O esquema conceitual da ação e a questão quem?
22 de junho de 2023, por Cardoso de CastroEsta dissociação entre o o quê? e o quem?, a favor da qual a problemática da ação oscila do lado de uma ontologia anônima do acontecimento, foi por sua vez tornada possível por uma coalizão no sentido contrário entre a pergunta o quê? e a pergunta por quê?
Lucy Moreira Cesar
Na primeira aproximação, a investigação parece promissora quanto à referência da ação a seu agente. Ação e agente pertencem a um mesmo esquema conceitual, que contém noções tais como circunstâncias, intenções, (…) -
Ricoeur (1977) – Reflexão hermenêutica sobre a crítica
22 de junho de 2023, por Cardoso de CastroGostaria agora de elaborar, sobre a crítica das ideologias, uma reflexão simétrica à precedente, que visaria a pôr à prova a reivindicação de universalidade da crítica das ideologias. Não espero que essa reflexão conduza a crítica das ideologias ao aprisco da hermenêutica, mas que comprove o intuito de Gadamer, segundo o qual as duas "universalidades" - a da hermenêutica e a da crítica das ideologias - interpenetram-se. Também poderíamos apresentar a questão nos termos de Habermas: em que (…)
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Ricoeur (1985/1997:117-121) – A temporalização: por-vir, ter-sido, tornar-presente
1º de julho de 2023, por Cardoso de CastroEncontramos, pois, entre a articulação interna do Cuidado [Sorge] e a triplicidade do tempo uma relação quase kantiana de condicionalidade. Mas o “tornar-possível” heideggeriano difere da condição kantiana de possibilidade, pelo fato de que o próprio Cuidado possibilita toda a experiência humana.
Roberto Leal Ferreira
É só, como dissemos, no final do capítulo III da segunda seção, §§ 65-66, que Heidegger trata tematicamente da temporalidade em sua relação com o Cuidado. Nessas páginas, (…) -
Ricoeur (1991:11-14) – Si Mesmo
22 de junho de 2023, por Cardoso de CastroAtravés do título O si-mesmo como um outro, eu quis designar o ponto de convergência entre as três maiores intenções filosóficas que presidiram à elaboração dos estudos que compõem esta obra.
A primeira intenção é marcar o primado da mediação reflexiva sobre a posição imediata do sujeito tal como ela se exprime na primeira pessoa do singular: "eu penso”, “eu sou”. Esta primeira intenção encontra um apoio na gramática das línguas naturais quando esta permite opor “si” a “eu”. Esse apoio (…) -
Ricoeur (1977) – W. Dilthey
22 de junho de 2023, por Cardoso de CastroDilthey se situa nessa encruzilhada crítica da hermenêutica, onde a amplitude do problema é percebida, muito embora permaneça colocada em termos do debate epistemológico característico de toda a época neokantiana.
A necessidade de incorporar o problema regional da interpretação dos textos no domínio mais amplo do conhecimento histórico impunha-se a um espírito preocupado em tomar consciência do grande êxito da cultura alemã no século XIX, a saber, a invenção da história como ciência de (…) -
Ricoeur (1990/1991:405-407) – o apelo da consciência
2 de julho de 2023, por Cardoso de CastroNisso tudo, a crítica de Heidegger do sentido comum encontra-se manifestamente próxima da Genealogia da moral de Nietzsche. Como consequência, são rejeitados em bloco o ponto de vista deontológico de Kant, a teoria scheleriana dos valores e, no mesmo movimento, a função crítica da consciência. Tudo isso fica na dimensão da preocupação, a que falta o fenômeno central, o apelo às possibilidades mais apropriadas.
Lucy Moreira Cesar
Esse arrancamento da consciência à falsa alternativa da (…) -
Japiassu (1977:Apresentação) – Hermeneutica de Ricoeur
16 de dezembro de 2023, por Cardoso de CastroÉ nesse contexto — de uma decodificação hermenêutica do universo dos signos, presidindo à elaboração do discurso científico, mormente no domínio das chamadas ciências humanas e sociais, e de uma crítica hermenêutica dos discursos ideológicos, sempre presentes em todo conhecimento, por mais científico que ele seja — que vai situar-se o presente volume, denominado Interpretação e ideologias. Trata-se de uma coletânea de textos publicados pelo autor em diversas revistas ou em obras coletivas. (…)
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Ricoeur (1977) – Crítica das Ideologias
22 de junho de 2023, por Cardoso de CastroOs dois protagonistas da alternativa são: do lado hermenêutico, Hans-Georg Gadamer, do lado crítico, Jürgen Habermas.
O debate que o presente título evoca ultrapassa em muito os limites de uma discussão sobre o fundamento das ciências sociais. Ele coloca em jogo o que chamarei de gesto filosófico de base. Seria esse gesto o reconhecimento das condições históricas nas quais toda compreensão humana está submetida, sob o regime da finitude? Ou seria, em última instância, um gesto de desafio, (…) -
Ricoeur (1977) – Reflexão critica sobre a hermenêutica
22 de junho de 2023, por Cardoso de CastroGostaria agora de elaborar minha reflexão pessoal sobre as pressuposições de ambas as concepções e abordar os problemas colocados desde minha Introdução. Esses problemas, afirmávamos, dizem respeito à significação do gesto filosófico mais fundamental. O gesto da hermenêutica é um gesto humilde de reconhecimento das condições históricas a que está submetida toda compreensão humana sob o regime da finitude. O da crítica das ideologias é um gesto altivo de desafio, dirigido contra as distorções (…)
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Ricoeur (1977) – Compreender-se diante da obra
22 de junho de 2023, por Cardoso de CastroGostaria de considerar uma quarta e última dimensão da noção de texto. Anunciava-a na introdução dizendo que o texto é a mediação pela qual nos compreendemos a nós mesmos. Este quarto tema marca a entrada em cena da subjetividade do leitor. Prolonga esse caráter fundamental de todo discurso de ser dirigido a alguém. Todavia, diferentemente do diálogo, esse vis-à-vis não é dado na situação de discurso. Ousaria mesmo dizer que ele é criado, instaurado, instituído pela própria obra. Uma obra se (…)
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Ricoeur (1977) – H. G. Gadamer
22 de junho de 2023, por Cardoso de CastroEssa aporia torna-se o problema central da filosofia hermenêutica de Hans Georg Gadamer, em Wahrheit und Methode. O filósofo de Heidelberg se propõe expressamente a reavivar o debate das ciências do espírito a partir da ontologia heideggeriana e, mais precisamente, de sua inflexão nas últimas obras de poética filosófica. A experiência nuclear, em torno da qual se organiza toda a obra, e a partir da qual a hermenêutica erige sua reivindicação de universalidade, é a do escândalo provocado, na (…)
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Ricoeur (1977) – Schleiermacher
22 de junho de 2023, por Cardoso de CastroTalvez toda hermenêutica fique sempre marcada por essa dupla filiação romântica e crítica, crítica e romântica. Crítica é o propósito de lutar contra a não-compreensão em nome do famoso adágio: "há hermenêutica, onde houver não-compreensão"; romântica é o intuito de "compreender um autor tão bem, e mesmo melhor do que ele mesmo se compreendeu".
Japiassu
O verdadeiro movimento de desregionalização começa com o esforço para se extrair um problema geral da atividade de interpretação cada (…) -
Ricoeur (2000:3-4) – De que há lembrança? De quem é a memória?
22 de junho de 2023, por Cardoso de CastroOs gregos tinham dois termos, mneme e anamnesis, para designar, de um lado, a lembrança como aparecendo, passivamente no limite, a ponto de caracterizar sua vinda ao espírito como afecção — pathos —, de outro lado, a lembrança como objeto de uma busca geralmente denominada recordação, recollection.
Alain François
A fenomenologia da memória aqui proposta estrutura-se em torno de duas perguntas: De que há lembrança? De quem é a memória?
Essas duas perguntas são formuladas dentro do (…) -
Ricoeur (1977) – A efetuação da linguagem como discurso
22 de junho de 2023, por Cardoso de CastroO discurso, mesmo oral, apresenta um traço absolutamente primitivo de distanciamento, que é a condição de possibilidade de todos os traços que consideraremos posteriormente. Este traço primitivo de distanciamento pode ser caracterizado pelo título: a dialética do evento e da significação.
De um lado, o discurso se dá como evento: algo acontece quando alguém fala. Esta noção de discurso como evento impõe-se desde que levemos em consideração a passagem de uma linguística da língua ou do (…)
Notas
- Auxenfants (ET:280-281) – a dúvida da Seção II de Ser e Tempo
- Ricoeur (1965:III.1.3) – carne
- Ricoeur (1985:112-113) – ser-no-mundo
- Ricoeur (1985:114-115) – difícil vocabulário da temporalidade [Zeitlichkeit]
- Ricoeur (1985:117-118) – Sorge e ser-um-todo
- Ricoeur (1985:119-120) – existenziell e existenzial
- Ricoeur (1985:121-123) – inautenticidade e autenticidade
- Ricoeur (1986:59-61) – Zueignung
- Ricoeur (1991:71-72) – corpo próprio
- SZ:325-326 – Gewesenheit - ser-sido