Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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GA9:349-350 – ser-no-mundo

sexta-feira 4 de junho de 2021

Carneiro Leão

A indicação do “ser-no-mundo”, como sendo o traço fundamental da humanitas do homo humanus não afirma que o homem é, meramente, um ser “mundano” no sentido cristão do termo, qual seja, apartado de Deus e desligado da “transcendência”. Procura-se exprimir com a palavra “transcendência” o que, com maior clareza, deveria ser chamado de transcendente. Pois o transcendente é o ente supra-sensível, considerado o ente supremo no sentido da causa primeira de todo ente. Pensa-se Deus como essa causa primeira. Ora, “mundo”, na expressão, “ser-no-mundo”, não significa, de forma alguma, ente terreno em oposição ao celeste nem “mundano” em oposição ao “espiritual’. “Mundo” não significa nenhum ente ou domínio de entes mas a abertura do Ser. O homem é – e é homem – na medida em que é o ec-sistente. O homem está ex-posto à abertura do Ser, que é como abertura. Sendo o lance, (Wurf), o Ser lançou para si a Essência do homem na “cura”. Lançado desse modo, o homem está “na” abertura do Ser. “Mundo” é a clareira do Ser, à qual o homem se ex-põe por sua Essência lançada. O “ser-no-mundo” evoca a Essência da ec-sistência no tocante (im Hinblick auf  ) à dimensão clareada, a partir da qual se essencializa o “ec-” da ec-sistência. Pensado a partir da ec-sistência, o “mundo” é, de certo modo, o além (das Jenseitige) dentro e para a ec-sistência. O homem nunca é homem, aquém do mundo, como um “sujeito”, quer se entenda sujeito como “eu ou como “nós”. Nem tampouco o homem é primeiro e somente sujeito enquanto se refere sempre a objetos, de sorte que sua Essência esteja na relação sujeito-objeto. Ao contrário, o homem é, em sua Essência, primeiro ec-sistente na abertura do Ser. E é o que se abre na abertura (das Offene  ), que clareia o meio” (das “Zwischen  ") no qual pode “ser” uma “relação” do sujeito para o objeto.

Giachini & Stein

A indicação para o “ser-no-mundo” como o traço fundamental da humanitas do homo humanus não está afirmando que o homem seria meramente um ser “secular”, compreendido em sentido cristão, ou seja, afastado de Deus e até desligado da “transcendência”. Com esta palavra, se está pensando o que, para maior claridade, se deveria chamar de o transcendente. O transcendente é o ente supra-sensível. Esse é o ente supremo no sentido da causa primeira de todo ente. E imagina-se que essa causa primeira seja Deus. “Mundo”, porém, na expressão “ser-no-mundo”, de modo algum significa o ser terreno em distinção ante o celeste, tampouco o “secular” em distinção ante o “espiritual”. Naquela determinação, “mundo” não significa um ente e nem o âmbito do ente, mas a abertura do ser. O homem é e é homem, na medida em que é ek-sistente. Ele está postado na e a caminho da abertura do ser, abertura que é, como tal, o próprio ser, o qual, como jogada, jogou a si mesmo como a essência do homem “no cuidado”. E é assim “jogado” que se encontra o homem “na” abertura do ser. “Mundo” é a clareira do ser, na qual o homem, a partir de seu ser jogado, surge e se põe de pé. O “ser-no-mundo" nomeia a essência da ek-sistência na [363] perspectiva da dimensão iluminada, a partir da qual vige o “ek-” da ek-sistência. Pensado a partir da ek-sistência, “mundo”, de certo modo, é justamente o além da ek-sistência dentro dela e para ela. Imediatamente aquém do mundo, o homem jamais é homem como um “sujeito”, seja como “eu” ou como “nós”. E também jamais é somente sujeito que se relaciona sempre igualmente com objetos, de tal modo que seu ser residiria na relação-sujeito-objeto. Ao contrário, em sua essência, o homem é primeiramente ek-sistente na abertura do ser. É essa abertura a única que ilumina o “entre” dentro do qual pode “dar-se” uma “relação” entre sujeito e objeto.

Roger Munier

Le renvoi à l’ « être-au-monde » comme au trait fondamental de l’humanitas de l’homo humanus ne prétend pas que l’homme soit uniquement une essence « mondaine » comprise au sens chrétien, c’est-à-dire détournée de Dieu et complètement détachée de la « Transcendance ». On entend sous ce mot ce qu’il serait plus clair d’appeler: le Transcendant. Le Transcendant est l’étant suprasensible. Il est donné comme l’étant le plus haut, au sens de la Cause première de tout étant. Dieu est pensé comme cette Cause première. Mais dans l’expression « être-au-monde », « monde » ne désigne nullement l’étant terrestre en opposition au céleste, pas plus que le « mondain » en opposition au « spirituel ». Dans cette détermination, « monde » ne désigne absolument pas un étant ni aucun domaine de l’étant, mais l’ouverture de l’Être. L’homme est, et il est homme, pour autant qu’il est l’ek-sistant. Il se tient en extase [Er steht… hinaus] vers [ln die] l’ouverture de l’Être, ouverture qui est l’Être lui-même, lequel, en tant que ce qui jette [Der Wurf], s’est acquis l’essence de l’homme en la jetant [Sich das Wesen   des Menschen… erworfen hat] dans « le souci ». Jeté de la sorte, l’homme se tient « dans » [« In » der] l’ouverture de l’Être. Le « monde » est l’éclaircie de l’Être dans laquelle l’homme émerge [In die der Mensch  … heraussleht] du sein   de son essence jetée. L’« être-au-monde » nomme l’essence de l’ek-sistence au regard de la dimension éclaircie, à partir de laquelle se déploie le « ek- » de l’ek-sistence. Pensé à partir de l’ek-sistence, [111] d’une certaine manière le « monde » est précisément l’au-delà à l’intérieur de l’ek-sistence et pour elle. Jamais l’homme n’est d’abord homme en deçà du monde comme .« sujet », qu’on entende ce mot comme « je » ou. comme « nous ». Jamais non plus il n’est d’abord et seulement un sujet qui serait en même temps en relation constante avec des objets, de sorte que son essence résiderait dans la relation sujet-objet. L’homme est bien plutôt d’abord dans son essence, ek-sistant dans [In die] l’ouverture de l’Être, cet ouvert seul éclaircissant l’« entre-deux » à l’intérieur duquel une « relation » de sujet; à objet peut « être ».

Original

Der Hinweis auf das »In-der-Welt-sein  « als den Grundzug der Humanitas des homo humanus behauptet nicht  , der Mensch sei lediglich ein »weltliches« Wesen im christlich verstandenen Sinne, also abgekehrt von Gott   und gar losgebunden von der »Transzendenz  «. Man meint mit diesem Wort   das, was deutlicher das Transcendente genannt würde. Das Transcendente ist [350] das übersinnlich Seiende  . Dieses gilt als das höchste Seiende im Sinne der ersten Ursache   von allem Seienden. Als diese erste Ursache wird Gott gedacht. »Welt  « bedeutet jedoch in dem Namen »In-der-Welt-sein« keineswegs das irdisch Seiende im Unterschied   zum Himmlischen, auch nicht das »Weltliche« im Unterschied zum »Geistlichen«. »Welt« bedeutet in jener Bestimmung   überhaupt nicht ein Seiendes und keinen Bereich von Seiendem, sondern die Offenheit des Seins. Der Mensch ist und ist Mensch, insofern er der Ek-sistierende ist. Er steht in die Offenheit des Seins hinaus, als welche das Sein selber ist, das als der Wurf sich das Wesen des Menschen in »die Sorge  « erworfen hat. Dergestalt geworfen   steht der Mensch »in« der Offenheit des Seins. »Welt« ist die Lichtung   des Seins, in die der Mensch aus seinem geworfenen Wesen her heraussteht. Das »In-der-Welt-sein« nennt das Wesen der Ek-sistenz   im Hinblick auf die gelichtete Dimension, aus der das »Ek-« der Ek-sistenz west. Von der Ek-sistenz her gedacht, ist »Welt« in gewisser Weise   gerade das Jenseitige innerhalb   der und für die Eksistenz. Der Mensch ist nie zunächst   diesseits der Welt Mensch als ein »Subjekt  «, sei dies als »Ich  « oder als »Wir« gemeint. Er ist auch nie erst nur Subjekt, das sich zwar immer zugleich auch auf Objekte bezieht, so daß   sein Wesen in der Subjekt-Objekt-Beziehung   läge. Vielmehr ist der Mensch zuvor in seinem Wesen ek-sistent in die Offenheit des Seins, welches Offene erst das »Zwischen« lichtet, innerhalb dessen eine »Beziehung« vom Subjekt zum Objekt »sein« kann.

[HEIDEGGER, Martin. Marcas do caminho. Tr. Enio Paulo Giachini e Emildo Stein. Petrópolis: Vozes, 2008, p. 382-383]


Ver online : MARCAS DO CAMINHO [GA9]