Ursache

Ursache, causa, cause, αἴτιον, αἰτία, Ursachesein, ser causa, être-cause, causation, Kausalität, causalidade, causalidad, causalité, causality

De há muito, costuma-se conceber a causa como o que é eficiente. Ser eficiente significa, aqui, alcançar, obter resultados e efeitos. A causa efficiens, uma das quatro causas, determina de maneira decisiva toda causalidade. E isso a tal ponto que já não se conta mais a causa finalis entre as causas. A finalidade não pertence à causalidade. Causa, casus provém do verbo cadere, cair. Diz aquilo que faz com que algo caia desta ou daquela maneira num resultado. A doutrina das quatro causas remonta a Aristóteles. No entanto, para o pensamento grego e no seu âmbito, tudo que a posteridade procurou entre os gregos com a concepção e com o título de “causalidade” nada tem a ver com a eficiência (Wirken) e a eficácia (Bewirken) de um fazer. O que os alemães chamam de Ursache, o que nós chamamos de causa, foi chamado pelos gregos de αἴτιον, aquilo pelo que um outro responde e deve (verschuldet). As quatro causas são os quatro modos, coerentes entre si, de responder e dever (Verschulden). (GA7CFS:13-14)


Para nos precavermos dos mal-entendidos acima mencionados sobre o que é dever e responder (Verschulden), tentemos esclarecer seus quatro modos, a partir daquilo pelo que respondem. Segundo o exemplo dado, eles respondem pelo dar-se e propor-se (Vor-und Bereitliegen) do cálice, como utensílio sacrificial. Dar-se e propor-se (Vorliegen und Bereitliegen) (ὑποκεῖσθαι) designam a vigência de algo que está em vigor (das Anwesen eines Anwesenden). É que os quatro modos de responder e dever (Verschuldens) levam alguma coisa a aparecer (Erscheinen). Deixam que algo venha a viger (An-wesen Vorkommen). Estes modos soltam algo numa vigência e assim deixam viger, a saber, em seu pleno advento. No sentido deste deixar, responder e dever são um deixar-viger (Ver-an-lassen). A partir de uma visão da experiência grega de responder e dever, de αἰτία, portanto, damos aqui à expressão deixar-viger um sentido mais amplo, de maneira que ela evoque a essência grega da causalidade. O significado corrente e restrito da expressão deixar-viger diz, ao contrário, apenas oferecer oportunidade e ocasião, indicando assim uma espécie de causa secundária e sem importância no concerto total da causalidade. (GA7CFS:15-16)


Ser causa (Ursachesein) significa entre outras coisas: deixar seguir-se (Folgenlassen), iniciar (Anfängen); pertence ao contexto (Zusammenhang) daquilo que ocorre; é um caráter dos processos (Vorgänge), das ocorrências (Begebenheiten), dos acontecimentos (Geschehnisse). Tais caracteres mostram inteiramente aquilo que denominamos movimento (Bewegung) em sentido mais amplo. (GA31MAC:47)


VIDE: (Ursache->http://hyperlexikon.hyperlogos.info/modules/lexikon/search.php?option=1&term=Ursache)

cause (GA7 13) (QCT)
causa (GA7 14)


NT: Heidegger faz aqui uma transposição semântica com base na etimologia irrepetível no vernáculo. A coisa originária (Ur-sache) é, enquanto tal, causa (Ursache). (Carneiro Leão; CartaH)


N.T.: Heidegger hifeniza acima o termo alemão para causa. Nesse sentido, como não havia a possibilidade de reproduzir o contexto teórico pela simples hifenização do termo correlato em português, optamos por inserir entre parênteses o significado fundamental das duas partes da palavra alemã Ursache. Ursache (causa) é literalmente a coisa (Sache) originária (Ur-). (Casanova; GA6MAC:756)