Casanova
[…] Filosofia como uma matéria passível de ser ensinada, como matéria de prova; uma disciplina, na qual, como em outras disciplinas, nos doutoramos. Para os estudantes e professores, a filosofia tem a aparência de uma matéria genérica, sobre a qual certas preleções são ministradas. De acordo com esta compreensão, assumimos uma atitude diante do que se apresenta aqui: ou bem empreendemos conjuntamente uma tal preleção, ou paramos apenas para dar uma olhadela e logo seguimos em frente. Se apenas paramos para dar uma olhadela e logo seguimos em frente, não acontece absolutamente nada mais. Algo é simplesmente solapado. Para que temos, afinal a liberdade acadêmica? Até mesmo ganhamos com isso e nos poupamos o dinheiro da matrícula. A taxa de matrícula não é sequer suficiente para a compra de um par de esquis, mas dão na risca para um par de bastões de esqui, que talvez sejam de fato muito mais essenciais do que a preleção de filosofia. É possível que ela seja apenas uma aparência – quem há de saber?
Entretanto, talvez estejamos parando apenas para dar uma olhadela e seguindo logo em frente em uma ocasião essencial. O terrível é que nem sequer percebemos, e é mesmo possível que nunca venhamos a perceber que, quando paramos apenas para dar uma olhadela e logo seguimos em frente, não nos acontece mais nada; o terrível é que em meio aos corredores da universidade podemos manter uma conversa tão importante quanto aqueles que aí ouvem as aulas de filosofia e provavelmente ainda citam Heidegger. Se não pararmos apenas para dar uma olhadela e logo seguirmos em frente, mas frequentarmos a preleção, a dubiedade estará, então, remediada? Algo terá mudado a olhos vistos? Todos não estão sentados igualmente atentos ou igualmente entediados? Somos melhores do que nosso vizinho porque compreendemos mais rapidamente, ou somos apenas mais hábeis e mais ágeis com a fala? Talvez estejamos um pouco mais escolados do que os outros em uma terminologia filosófica por termos participado anteriormente de alguns seminários de filosofia. No entanto, apesar de tudo isto, é possível que nos falte o essencial e que um outro mesmo que seja apenas uma estudante o possua.
[18] Estamos – os senhores como ouvintes – incessantemente cercados por uma essência dúbia que se encontra à espreita: a filosofia. E o que dizer do professor?!? O que é, afinal, que ele não consegue demonstrar?!? Por entre que floresta de conceitos e terminologias ele se põe a passear, deixando vigorar um aparato científico que atemoriza o pobre ouvinte?!? Ele pode entrar em cena de um tal modo que, com ele, a filosofia parece ter vindo ao mundo como ciência absoluta pela primeira vez. O que não consegue relatar com os mais modernos tópicos sobre a situação do mundo, o espírito e o futuro da Europa, a vindoura era mundial e a nova Idade Média?!? Como não iria falar com uma seriedade inexcedível sobre a situação da universidade e seu funcionamento?!? Como não iria perguntar se o homem é uma travessia ou um enfado para os deuses?!? Será ele um comediante? – quem há de saber? Se ele não o fosse, porém, que começo contraditório seria este! Não seria este um começo em que o filosofar se perfaz como um diálogo derradeiro, como algo maximamente extremo, no qual o homem é singularizado em seu ser-aí, ao mesmo tempo que o professor fala para as massas? Se ele é realmente um filosofante, por que abandona a solidão e vagueia pela praça como um professor público? E antes de tudo: que começo perigoso reside nesta atitude dúbia!
Nós não estamos senão falando para muitos? Se olharmos mais incisivamente, será que os convencemos? Será que os convencemos baseados em uma autoridade que de modo algum possuímos, mas que, mesmo quando não a queremos, se estende a partir de causas diversas, assumindo também na maioria das vezes e de alguma maneira formas diversas? Pois em que se funda esta autoridade com a qual convencemos silenciosamente? Esta autoridade não provém do fato de sermos encarregados de um poder mais elevado; tampouco do fato de sermos mais sábios e mais astutos do que os outros, mas somente do fato de não sermos entendidos. Esta autoridade duvidosa só trabalha para nós enquanto não somos entendidos. No momento em que somos entendidos, vem à luz se filosofamos ou não. Se não filosofamos, esta autoridade sucumbe por si mesma e em si mesma. Se filosofamos, no entanto, ela nunca esteve realmente aí. Torna-se pela primeira vez evidente que o filosofar é fundamentalmente próprio a todo e qualquer homem, que certos homens só puderam e precisaram ter este destino notável em nome de serem para outros o ensejo do despertar da filosofia. Assim, aquele que ensina não está excetuado [19] da dubiedade, mas traz consigo, logo ao entrar em cena como alguém que ensina, uma aparência anterior a si mesmo. Desta maneira, toda e qualquer preleção de filosofia, seja ou não um filosofar, é um começo dúbio; dúbio de uma maneira que as ciências não conhecem.
Daniel Panis
[…] La philosophie comme matière d’enseignement, matière d’examen – une discipline dans laquelle, comme dans d’autres disciplines, on est reçu docteur. Pour les étudiants et pour les professeurs, la philosophie a l’apparence d’une matière générale sur laquelle des cours sont tenus. En conséquence, notre comportement est celui-ci : nous suivons un tel cours ou bien nous en faisons l’économie. Par là ne se produit même rien de plus; quelque chose, simplement, n’est pas fait. Pourquoi avons-nous donc la liberté [32] académique ? Nous y gagnons même, et nous épargnons les dix marks de frais d’inscription à ce cours. Cela ne suffit certes pas pour acheter une paire de skis, mais cela donne exactement une paire de bâtons de ski convenables; et peut-être ces derniers sont-ils, en réalité, bien plus essentiels que le cours de philosophie. Celui-ci pourrait n’être qu’une apparence – qui peut le savoir ?
Mais peut-être aussi sommes-nous passés à côté d’une occasion essentielle. L’étrange et inquiétant, c’est que nous ne le remarquons même pas, que nous ne le remarquerons peut-être même jamais que rien ne nous arrive quand nous passons à côté de l’occasion, et que nous pouvons néanmoins tenir ici, dans les couloirs de l’université, des discours exactement aussi importants que les autres qui suivent le cours de philosophie et citent peut-être Heidegger. Et si nous ne sommes pas passés à côté de l’occasion, mais que nous avons au contraire suivi le cours, l’équivoque est-elle alors écartée ? Quelque chose a-t-il changé dans les apparences ? Tous ne sont-ils pas assis là avec une égale attention ou avec un égal ennui ? Sommes-nous meilleurs que le voisin parce que nous comprenons plus vite, ou bien sommes-nous seulement plus habiles et plus éloquents, peut-être plus familiarisés que d’autres avec la terminologie philosophique grâce à quelques séminaires de philosophie ? Mais peut-être – et en dépit de tout cela – nous manque-t-il l’essentiel, ce qu’un autre – et aussi une autre – peut précisément avoir.
Nous sommes – vous en tant qu’auditeurs – continuellement assiégés et guettés par un être ambigu : la philosophie. Et même celui qui l’enseigne – que ne peut-il démontrer, dans quelle forêt de concepts et de terminologies ne peut-il promener ses auditeurs et faire jouer un appareillage scientifique, que cela finit par faire peur au pauvre auditeur. Il peut apparaître comme celui par qui la philosophie est venue au monde pour la première fois en tant que science absolue. Que ne peut-il relater, avec les slogans les plus modernes sur la situation mondiale, sur l’esprit et l’avenir de l’Europe, sur l’époque future et le nouveau moyen âge ! Comme il peut discourir, avec un sérieux imbattable, sur la situation de l’université et sur son fonctionnement; demander ce qu’est l’homme, si c’est un passage ou un dégoût pour les dieux. Peut-être est-ce un charlatan – qui peut le savoir ? S’il ne l’est pas, qu’est-ce, pourtant, que cette entreprise contradictoire : philosopher, une ultime explication, une extrémité en laquelle l’homme est isolé dans son Dasein, tandis que le professeur s’adresse aux masses. Pourquoi, s’il est quelqu’un qui philosophe, abandonne-t-il la solitude et traîne-t-il sur la place publique au titre de professeur? Mais surtout, quelle périlleuse façon d’entreprendre que cette attitude ambiguë !
Ne faisons-nous que nous adresser à la multitude, ou bien – si nous y regardons de plus près – ne la persuadons-nous pas, et cela sur la base d’une autorité que nous n’avons même pas mais qui, pour diverses raisons, prend le plus souvent ses aises sous différentes formes, même quand nous ne la voulons pas ? Car sur quoi se fonde cette autorité avec laquelle nous persuadons tacitement? Non pas sur le fait que nous serions mandatés par une puissance supérieure. Pas davantage sur le fait que nous serions plus sages et plus intelligents que d’autres. Mais uniquement sur le fait que nous ne sommes pas compris. Aussi longtemps seulement que nous ne sommes pas compris, cette autorité douteuse travaille pour nous. Mais si nous sommes compris, alors apparaît le fait que nous philosophons ou non. Si nous ne philosophons pas, cette autorité s’effondre d’elle-même. Mais si nous philosophons, alors elle n’a jamais été présente. Alors seulement, il devient clair que le philosopher est radicalement propre à chaque homme ; il devient clair que certains hommes, simplement, peuvent ou doivent avoir le singulier destin d’être, pour les autres, une impulsion à ce que le philosopher s’éveille en eux. Ainsi, celui qui enseigne n’est-il pas exclu de l’ambiguïté ; au contraire, déjà par le fait qu’il apparaît comme tel, il s’expose à une apparence. Tout cours de philosophie – qu’il soit ou non un philosopher – est ainsi une entreprise ambiguë, selon une modalité que les sciences ne connaissent pas.
McNeill
[…] philosophy as a subject to be taught, an examination subject, a discipline in which people do their doctorates as in other disciplines. For those who study and lecture, philosophy has the appearance of a general subject on which lectures are held. Accordingly, our comportment toward such a lecture is that we take it in or pass it by. In this way nothing else happens at all, it is simply that something fails to happen. After all, what do we have academic freedom for? We can profit even further and save ourselves the ten Marks enrollment fee. True, that is not enough for a pair of skis, but it will provide a pair of decent ski poles, and perhaps these are indeed far more essential than a philosophy lecture. The lecture could indeed be a mere deception – who can know?
Perhaps, however, we have also passed by an essential opportunity. The uncanny thing is that we do not notice this at all and perhaps indeed never notice it; that it makes no difference to us at all if we pass it by, and that here in the halls of the university we can nevertheless hold just as important speeches as others who listen to philosophy and perhaps even quote Heidegger. And if instead of passing it by we attend the lecture, is the ambiguity then removed? Has something obvious changed? Is not everyone sitting there just as attentively or just as bored? Are we better than our neighbour because we comprehend more quickly, or are we merely more skillful and eloquent, perhaps because we have the philosophical terminology more at our fingertips than others on account of a few philosophy seminars? Yet maybe, despite all this, we lack something essential that someone else – it might even be some female student – perhaps precisely possesses. .
We – you as listeners – are incessantly surrounded and watched over by something ambiguous: philosophy. And even the teacher – what can he not prove, what a forest of concepts and terminology he can move around in, [13] playing with some sort of scientific construction until the poor listener takes fright! He can present himself as though with him philosophy came into the world as absolute science for the first time. What can he not report about the world situation, the spirit and future of Europe, the approaching world era and the new Middle Ages, using the most modern catchphrases! He can talk with such unparalleled seriousness about the situation of the university and its running, ask what man is, whether a transition or a vexation for the gods. Is he perhaps some sort of play actor – who can know? If not, what kind of contradictory beginning is this, if philosophizing is an ultimate pronouncement, something extreme in which man is individuated with respect to his Dasein, whereas the teacher addresses the masses? Why, if he is philosophizing, does he abandon his solitude and run around in the marketplace as a professor in public? Above all, however, what a dangerous beginning this ambiguous stance is!
Do we merely address the masses or – if we look more closely – do we not persuade them, persuade them on the grounds of an authority that we do not at all have, but which for various reasons usually disseminates somehow in various forms, even when we do not intend this at all? For what is this authority based upon by which we silently persuade? Not on the fact that we are appointed by a higher power, nor on the fact that we are wiser and cleverer than others, but only on the fact that we are not understood. Only so long as we are not understood does this dubious authority work for us. Yet if we are understood, then it will become apparent whether we are philosophizing or not. If we are not philosophizing, then this authority will collapse of its own accord. Yet if we are philosophizing, then this authority was never there in the first place. It will then become clear for the first time that philosophizing fundamentally belongs to each human being as something proper to them, that certain human beings merely can or must have the strange fate of being a spur for others, so that philosophizing awakens in them. Thus the teacher is not exempt from ambiguity, but through the very fact that he presents himself as a teacher he brings a certain semblance with him. Thus every philosophical lecture – whether it is a philosophizing or not – is an ambiguous beginning in a way unknown to the sciences.
Original
[…] Philosophie als Lehrfach, Examensfach, eine Disziplin, in der wie in anderen Disziplinen promoviert wird. Für die Studierenden und Dozenten hat die Philosophie den Schein eines allgemeinen Faches, darüber Vorlesungen gehalten werden. Demgemäß ist unser Verhalten hierzu: Wir nehmen eine solche Vorlesung mit oder gehen daran vorbei. Damit geschieht gar nichts weiter, es unterbleibt einfach etwas. Wozu haben wir denn die akademische Freiheit? Wir gewinnen sogar noch dazu und sparen uns- die zehn Mark Kolleggeld. Das reidrt zwar nicht zu einem Paar Skier, aber das gibt gerade ein Paar ordentliche Skistöcke, und vielleicht sind diese in der Tat weit wesentlicher als die Philosophievorlesung. Sie könnte ja nur ein Schein sein – wer mag das wissen.[18]
Vielleicht aber sind wir auch an einer wesentlichen Gelegenheit vorbeigegangen. Das Unheimliche ist, daß wir es gar nicht merken und vielleicht gar nie merken, daß uns gar nichts weiter geschieht, wenn wir Vorbeigehen, daß wir hier in den Wandelgängen der Universität gleichwohl genau so wichtige Reden halten können wie die anderen, die da Philosophie hören und vielleicht noch Heidegger zitieren. Wenn wir nicht vorbeigegangen sind, sondern die Vorlesung besuchen, ist dann die Zweideutigkeit behoben? Hat sich für den Augenschein etwas geändert? Sitzen nicht alle gleich aufmerksam oder gleich gelangweilt da? Sind wir besser als der Nachbar, weil wir schneller begreifen, oder sind wir nur geschickter und redegewandter, vielleicht etwas mehr durch einige philosophische Seminare in einer philosophischen Terminologie eingefuchst als andere? Aber vielleicht – und trotz all dem – fehlt uns das Wesentliche, das ein anderer – und sei es auch nur eine Studentin – vielleicht gerade hat.
Wir sind – Sie als Hörer – unausgesetzt umlagert und belauert von einem zweideutigen Wesen: Philosophie. Und gar der Lehrer – was kann er nicht alles beweisen, in welchem Wald von Begriffen und Terminologien herumfahren und eine wissenschaftliche Apparatur spielen lassen, daß dem armen Hörer bange wird. Er kann auftreten so, als sei mit ihm die Philosophie als absolute Wissenschaft zum ersten Mal zur Welt gekommen. Was kann er nicht mit den modernsten Schlagworten über die Weltlage, den Geist und die Zukunft Europas, das kommende Weltalter und das neue Mittelalter berichten! Wie kann er nicht in einem unüberbietbaren Emst über die Lage der Universität und ihren Betrieb reden, fragen, was der Mensch sei, ob ein Übergang oder ein Überdruß den Göttern. Ist er vielleicht ein Komödiant – wer kann das wissen? Wenn er das nicht wäre, was ist das doch für ein widersprechendes Beginnen, wenn Philosophieren eine letzte Aussprache, ein Äußerstes ist, darin der Mensch auf sein Dasein vereinzelt wird, während der Lehrer an die Massen [19] hinredet? Warum, wenn er ein Philosophierender ist, verläßt er die Einsamkeit und treibt sich als öffentlicher Professor auf dem Markt herum? Vor allem aber, welch gefährliches Beginnen ist diese zweideutige Haltung!
Reden wir nur an die Vielen hin oder – wenn wir schärfer Zusehen – überreden wir sie nicht, überreden sie aufgrund einer Autorität, die wir gar nicht haben, die aber aus verschiedenen Ursachen meist irgendwie in verschiedenen Formen sich breitmacht, selbst wenn wir sie gar nicht wollen? Denn worauf gründet sich diese Autorität, mit der wir stillschweigend überreden? Nicht darauf, daß wir von einer höheren Macht beauftragt sind, auch nicht darauf, daß wir weiser und klüger sind als andere, sondern einzig darauf, daß wir nicht verstanden werden. Nur solange wir nicht verstanden werden, arbeitet diese zweifelhafte Autorität für uns. Werden wir aber verstanden, dann kommt es zum Vorschein, ob wir philosophieren oder nicht. Wenn wir nicht philosophieren, dann bricht diese Autorität von selbst in sich zusammen. Wenn wir aber philosophieren, dann war sie überhaupt nie da. Es wird dann erst deutlich, daß das Philosophieren jedem Menschen von Grund aus zu eigen ist, daß gewisse Menschen nur das merkwürdige Schicksal haben können oder müssen, für die anderen eine Veranlassung dafür zu sein, daß in diesen das Philosophieren erwacht. So ist der Lehrende nicht von der Zweideutigkeit ausgenommen, sondern dadurch schon, daß er auftritt wie ein Lehrender, trägt er einen Schein vor sich her. So ist jede philosophische Vorlesung – sei sie ein Philosophieren oder nicht – ein zweideutiges Beginnen, in einer Weise, wie es die Wissenschaften nicht kennen.