Nas palestras sobre o Sofista no curso do semestre de inverno de 1924/25, Heidegger tenta traçar a gênese da forma suprema de conhecimento “científico” ou episteme, a saber, a sophia amada pelos filósofos, uma gênese retratada nos dois primeiros capítulos do Livro I da Metafísica. Ali, Aristóteles apresenta sua investigação como partindo das opiniões e julgamentos geralmente aceitos sobre o conhecimento e seus diferentes níveis. Como Heidegger observa, esse relato apresenta a (…)
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McNeill / William McNeill
WILLIAM MCNEILL (1961)
OBRA NA INTERNET: LIBRARY GENESIS
- HEIDEGGER, Martin. Pathmarks. William McNeill (ed.). Cambridge: Cambridge University Press, 1998.
- [MCNEILL, William. The Glance of the Eye. Heidegger, Aristotle, and the Ends of Theory. New York: SUNY, 1999
- The Time of Life. Heidegger and Êthos. New York: SUNY Press, 2006
- MCNEILL, William. The fate of phenomenology: Heidegger’s legacy. Lanham: Rowman & Littlefield, 2020
Matérias
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McNeill (1999:20-22) – sophia
9 de outubro, por Cardoso de Castro -
McNeill (2020:C7) – clareira (Lichtung)
18 de março, por Cardoso de Castrodestaque
[…] "onde a filosofia levou sua matéria a um saber absoluto [Hegel] e a uma evidência finalmente válida [Husserl]", podemos ficar atentos a algo que se oculta, algo que já não pode ser matéria a pensar da filosofia (GA14, 79).
A este impensado da filosofia Heidegger dá o nome de clareira (Lichtung), como a abertura através da qual o curso tanto do pensamento especulativo como da intuição originária têm de passar para se realizarem como um trazer à presença. A abertura da (…) -
McNeill (2006:6-8) – órgãos - instrumentos - telos
4 de dezembro de 2023, por Cardoso de Castrodestaque
Mas o que é que significa "ter" olhos? E será que ver é simplesmente o resultado de ter olhos? No curso de 1929-30, Heidegger começa a sua elucidação da essência do organismo tentando libertar a nossa compreensão do organismo e dos seus órgãos de qualquer concepção instrumental. No entanto, a própria palavra órgão, derivada do grego organon ("instrumento de trabalho", ou Werkzeug, como Heidegger a traduz), e relacionada com ergon ("trabalho", em alemão: Werk), sugere ela própria (…) -
McNeill (1999:29-31) – praxis
9 de outubro, por Cardoso de CastroAssim, o Livro I da Metafísica narra a história de um desdobramento ininterrupto da visão, desde seus estágios mais primitivos e básicos de percepção sensorial até sua forma suprema e mais elevada, encontrada no theorein pertencente à sophia. Conta a história do que podemos chamar de gênese natural do comportamento teórico, uma gênese que se desdobra por meio de uma teleologia aparentemente não problemática do desejo, de um desejo que supostamente pertence à “natureza” dos entes humanos. O (…)
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McNeill (2006:59-61) – auto-engajamento [Einsatz]
10 de outubro, por Cardoso de CastroDizer que o Dasein em seu Ser é uma relação com o si mesmo é, portanto, dizer que o Dasein existe primordialmente como possibilidade, ou seja, como liberdade. No entanto, essa liberdade é ao mesmo tempo indeterminada, irredutível a um modo determinado de existir a qualquer momento, e também, em cada caso, minha, não no sentido de ser uma propriedade existente do si, mas no sentido de estar vinculada à singularidade da existência, à existência insubstituível de uma corporificação particular (…)
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McNeill (1999:34-37) – phronesis
9 de outubro, por Cardoso de Castro[…] Phronesis refere-se ao conhecimento pertencente à praxis humana, na medida em que essa atividade constitui um fim em si mesma. Ela é descrita como “uma disposição reveladora que ocorre por meio do logos [hexis alethe meta logon], preocupada com a ação em relação ao que é bom e ruim para os seres humanos” (Ética a Nicômaco, 1140 b7). Como a techne, a phronesis pertence à faculdade deliberativa da alma, uma vez que esta apreende objetos cujos archai são variáveis. No entanto, a phronesis (…)
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McNeill (1999:44-47) – Augenblick [kairos]
9 de outubro, por Cardoso de CastroA visão prática que informa a phronesis ocorre em um olhar momentâneo; é um momento de “concreção mais extrema”, um momento que, como diz Heidegger, orienta ou se direciona para “o que é mais extremo” (das Äußerste), avista o eschaton absoluto:
O noûs da phronesis visa ao que é mais extremo no sentido do eschaton absoluto. A phronesis é uma visão do aqui-e-agora [Erblicken des Diesmaligen], do caráter concreto do aqui-e-agora [ou singularidade: Diesmaligkeit] da situação momentânea. Como (…) -
McNeill (1999:42-43) – prohairesis
9 de outubro, por Cardoso de Castro[…] a relação entre a escolha prévia (prohairesis), a deliberação (bouleuesthai) e a aisthesis prática merece mais atenção. Pois a premissa principal do silogismo prático, o fim específico escolhido, é de fato subserviente a algum outro fim ou bem. Isso implica que qualquer fim particular da praxis é, em si mesmo, apenas um meio para algum outro fim (como Aristóteles observa, tanto a escolha quanto a deliberação na esfera da ação estão preocupadas não com os fins, mas apenas com os meios (…)
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McNeill (1999:27-29) – sabedoria
9 de outubro, por Cardoso de CastroA razão para essa discussão sobre o conhecimento, lembra Aristóteles, é que estamos investigando o que se entende por sophia. A opinião geral é de que os tipos de conhecimento discutidos representam estágios ascendentes de sabedoria, porque geralmente se supõe que a sophia se preocupa com “as causas e os princípios primários” (ta prota aitia kai tas archas: M, 981 b29). Sophia é implicitamente entendida como o conhecimento das primeiras causas e princípios, e isso é identificado com a (…)
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McNeill (1999:37-39) – sophia
9 de outubro, por Cardoso de CastroA sophia pertence à faculdade epistêmica. No Livro VI da Ética a Nicômaco, Aristóteles começa sua consideração sobre a sophia lembrando-nos de que sua contraparte, a episteme, é incapaz de apreender os primeiros princípios a partir dos quais demonstra verdades científicas. Nem a techne nem a phronesis nos permitem apreender esses archai, pois lidam com objetos variáveis, enquanto a faculdade epistêmica se preocupa com objetos que são invariáveis e existem por necessidade. No entanto, de (…)
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McNeill (2006:57-59) – ser-sempre-meu [Jemeinigkeit]
10 de outubro, por Cardoso de Castro[…] O argumento de que a relação consigo mesmo tem precedência ontológica sobre o cuidado com os outros é apresentado pelo próprio Heidegger na tese de que o Ser do Dasein é constituído por ser sempre meu (Jemeinigkeit). Essa tese foi, e continua sendo, tão mal compreendida que Heidegger sentiu imediatamente a necessidade de realizar uma série de esclarecimentos. Os mais importantes deles aparecem em Fundamentos Metafísicos da Lógica (1928) [GA26], no ensaio “On the Essence of Ground” (Sobre (…)
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McNeill (2006:153-155) – Tragédias de Sófocles e êthos
9 de outubro, por Cardoso de CastroEm sua “Carta sobre o ‘Humanismo’” (1946), Heidegger apontou inequivocamente para o significado fundamental da tragédia grega do ponto de vista de seu próprio pensamento sobre o Ser. “As tragédias de Sófocles“, afirmou ele, “— desde que tal comparação seja permissível — abrigam o êthos em suas falas mais primordialmente do que as palestras de Aristóteles sobre ‘ética’” (GA9:W, 184). O significado grego mais original de êthos — mais original do que o de “ético” e de “ética” — é a morada de (…)
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McNeill (1999:22-23) – curiosidade [Neugier]
9 de outubro, por Cardoso de CastroUma terceira discussão sobre a primeira linha da Metafísica aparece no curso que se segue diretamente às palestras do Sofista: os Prolegômenos à História do Conceito de Tempo [GA20], ministrados no semestre de verão de 1925 e destinados a serem retrabalhados na primeira divisão de Ser e Tempo. Como na obra magna, a discussão ocorre novamente no contexto de uma análise da curiosidade, mas a análise da curiosidade está aqui embutida em uma interpretação da “queda” como um modo pelo qual o (…)
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McNeill (2006:8-11) – ser do equipamento e ser do órgão
5 de dezembro de 2023, por Cardoso de Castrodestaque
[…] devido à sua capacidade de auto-produção, auto-renovação e autorregulação, o organismo deve ter dentro de si uma força ativa específica ou um agente vital, uma "entelequia". Esta conclusão, insiste Heidegger, encerra o problema da essência da vida. Pois implica algum tipo de causa eficiente que origina e controla o movimento e o desenvolvimento do organismo, produzindo os seus órgãos (Heidegger fala de uma "agência eficaz" ou "fator causal", um Wirken ou Wirkungsmoment (…) -
McNeill (1999:24-27) – cinco níveis de ver ou conhecer
9 de outubro, por Cardoso de CastroAristóteles começa o Livro I da Metafísica discutindo cinco níveis ou graus diferentes de “ver” ou conhecer: aisthesis, empeiria, techne, episteme e sophia. Diz-se que o primeiro deles, aisthesis ou apreensão sensorial, pertence por natureza aos entes vivos em geral. Um segundo nível de conhecimento é o da empeiria, “experiência”. Enquanto a apreensão sensorial depende, a cada momento, da dada condição de um objeto imediato que lhe é apresentado, a experiência implica ter assumido uma certa (…)
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McNeill (1999:39-41) – aisthesis
9 de outubro, por Cardoso de CastroO ponto central da phronesis é o que Aristóteles, na Ética a Nicômaco, identifica como uma aisthesis prática, uma visão prática ou “percepção” que revela a arche e o telos finais da praxis, ou seja, a situação concreta da ação em toda a particularidade de sua existência. A phronesis, como Aristóteles coloca, “diz respeito ao que é último [eschatou], e esse é o objeto da praxis [to prakton]” (Ética a Nicômaco, 1142 a24). No entanto, o tipo de aisthesis em questão não é o da mera percepção (…)
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McNeill (1999:8-10) – o privilégio do ver
13 de dezembro de 2023, por Cardoso de Castrodestaque
Mas porque é que, em primeiro lugar, o ver e a visão se tornaram o modo privilegiado de acesso às coisas no desenvolvimento explícito do conhecimento, quer do conhecimento cognitivo, quer do conhecimento mais essencial atribuído à sabedoria? Porque não a audição ou o olfato, o tato ou o paladar? Noutro lugar, Heidegger argumenta que a prioridade da visão surge não só (como afirma Aristóteles) porque as coisas parecem estar mais claramente delimitadas através da visão, em termos do (…) -
McNeill (2006:189-192) – katharsis
23 de março, por Cardoso de Castrodestaque
Se voltarmos agora ao tema da tragédia grega, podemos ver melhor o que significa a katharsis do medo e da piedade. Evidentemente, não pode significar que a tragédia nos purga ou alivia do medo e da pena que já trazemos conosco para a tragédia, pelo menos não na forma particular em que trazemos estas emoções conosco. Embora o processo de katharsis comece, de fato, com estes modos de tonalidade afetiva, como formas fundamentais da nossa sensibilidade ao mundo, eles são precisamente (…)
Notas
- McNeill (1999:11) – o extraordinário [Ungehere]
- McNeill (1999:12) – thaumazein
- McNeill (1999:2) – orexis (oregontai=Sorge)
- McNeill (1999:2-3) – curiosidade (Neugier)
- McNeill (1999:208-209) – Freiheit - Liberdade - Freedom
- McNeill (1999:32) – cinco maneiras de alcançar a verdade
- McNeill (1999:32-33) – episteme
- McNeill (1999:33-34) – techne e episteme
- McNeill (1999:4) – primeira concepção do desejo de ver
- McNeill (1999:4-6) – segunda concepção do desejo de ver
- McNeill (1999:40-41) – Entschlossenheit - ser-resoluto
- McNeill (1999:43-44) – noûs
- McNeill (1999:6-8) – eidos
- McNeill (2006:11) – vê-se porque se tem olhos ou tem-se olhos porque se vê?
- McNeill (2006:142-143) – Finitude e Fado (Schicksal - fate)
- McNeill (2006:23) – Mitsein / ser-com
- McNeill (2006:4) – alma - órgãos de sentido - percepção
- McNeill (2006:53-54) – estranheza [Unheimlichkeit]
- McNeill (2006:54-55) – peculiaridade da angústia
- McNeill (2006:60-61) – Analítica do Dasein enquanto protoética