Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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McNeill (2006:54-55) – peculiaridade da angústia

quarta-feira 9 de outubro de 2024

[…] Por enquanto, vamos nos deter por um momento no que Heidegger em Ser e Tempo   identifica como a peculiaridade, ou Eigentümlichkeit, da angústia: a “indeterminação peculiar” daquilo na presença do qual o Dasein se encontra sintonizado na angústia (SZ  :188); a “temporalidade peculiar” da angústia, de tal forma que “ela é originalmente fundamentada no ter-sido, e o futuro e a presença são primeiramente temporalizados a partir disso” (344). Esta peculiaridade corresponde, de fato, ao que vimos Heidegger observar no final do curso de 1929-30 [GA29-30  ]: Com relação ao seu Ser, o ser humano é “aquela incapacidade de permanecer”, de habitar, “e ainda assim é incapaz de deixar seu lugar”. Pois a sintonização da angústia revela imediatamente o Dasein na individuação radical de seu ser-jogado, de seu estar delimitado, como esse Dasein singular, a esse ter sido aqui e agora, nessa situação fática, a partir da qual ele — e somente ele — tem de agir. No entanto, o ser-jogado deste ter sido, a incapacidade do Dasein de deixar seu lugar, é ao mesmo tempo entregue ao ter ainda que ser — portanto, à mais radical indeterminação, à abertura do futuro que acontece ou se temporaliza a partir desse ter sido, dando origem, por sua vez, ao presente. A angústia, diz Heidegger, “revela o Dasein como sendo possível”, revela seu próprio Ser como possibilidade (e não como esta ou aquela possibilidade), manifesta-o em seu “ser livre para a liberdade [ou possibilidade] de escolher a si mesmo”, mas essa liberdade para … uma possibilidade determinada, embora jogada e fática, não é ela mesma determinada. O que é essa liberdade estranha, insólita, à qual o Dasein está exposto em meio ao seu próprio ser-jogado? E é realmente a possibilidade “mais própria” do Dasein para o Ser? Será que pertence ao Dasein como sua base já existente, embora ontológica e abissal? Ou não é antes o caso de que, em seu próprio acontecer, tal liberdade resiste a toda apropriação pelo Dasein, excedendo-o na direção daquele futuro que nunca será seu? Essa liberdade para mim mesmo, para minhas possibilidades, é, no final das contas, uma liberdade de mim mesmo? E como essa liberdade se relaciona com as questões de egoísmo e êthos?

[MCNEILL  , William. The Time of Life. Heidegger and Ethos. New York: State University of New York Press, 2006]


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