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McNeill (2006:11) – vê-se porque se tem olhos ou tem-se olhos porque se vê?
quarta-feira 9 de outubro de 2024
[…] O animal pode ver porque tem olhos ou tem olhos porque pode ver? O que o olho do animal pode realizar em cada caso e a estrutura do olho como órgão devem ser compreendidos em termos da capacidade de ver. A capacidade de ver, por outro lado, não pode ser adequadamente determinada em termos do olho e de sua estrutura anatômica. Isso não significa, é claro, que a observação empírica do órgão seja irrelevante ou possa simplesmente ser desconsiderada. A estrutura anatômica do olho da abelha, por exemplo, pode nos ajudar a entender como a abelha “vê” somente se a considerarmos com base no modo específico de Ser da abelha e suas capacidades. Heidegger cita um experimento impressionante no qual a imagem da retina que aparece no olho de um vaga-lume incandescente foi fotografada. A fotografia nos permite identificar com relativa clareza várias características de uma janela dentro do campo de visão do vaga-lume. O olho do inseto, comenta Heidegger, é capaz de formar uma imagem ou “visão” da janela. Mas isso nos diz o que o vaga-lume vê? “De modo algum. A partir do que o órgão realiza, não podemos de forma alguma determinar a capacidade de ver, nem a maneira pela qual o que quer que seja realizado pelo órgão é colocado a serviço da potencialidade de ver” (GA29-30 :336). De fato, não podemos nem mesmo começar a problematizar a relação entre o olho desse inseto como órgão e sua capacidade de ver até que tenhamos considerado o meio [ambiente] do vaga-lume e a maneira pela qual o animal em geral pode ter um meio. Pois o olho do inseto é como se estivesse “inserido”, como algo não independente, entre seu meio e o animal que enxerga, onde “inserido” significa existir na forma de um transpassar-impulsivo pertencente à capacidade.
[MCNEILL , William. The Time of Life. Heidegger and Êthos. New York: State University of New York Press, 2006, p. 23]
Ver online : William McNeill