Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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Boutot (1993:42-43) – Temporalidade e quotidianidade e historicidade e intratemporalidade

sábado 18 de fevereiro de 2017

A temporalidade intrínseca do ser do ente que nós somos requer ser confirmada no contato com a realidade concreta do ser-aí, aquilo a que Heidegger se dedica nos três últimos capítulos da segunda seção de O Ser e o Tempo (GA2  ), onde ele deduz sucessivamente a quotidianidade, a historicidade e a intratemporalidade da temporalidade existenciária do ser-aí.

Heidegger retoma, no capítulo IV dessa seção (Temporalidade e Quotidianidade), a análise do cuidado, conduzida na primeira seção, à luz da problemática da temporalidade. Os três momentos do cuidado, esclarecidos na análise preliminar do ser-aí, tal como existe antes de mais e primeiro que tudo, são: o compreender, a disposição, a interpelação. Cada um destes momentos funda-se, de maneira sempre diferente, sobre a temporalidade existenciária do ser-aí. Se bem que todos manifestem a estrutura ternária da temporalidade originária como «futuro tendo-sido presentificante», eles repousam, cada um, sobre um êxtase privilegiado da temporalidade: o compreender funda-se sobre o futuro (compreendendo, o ser-aí projeta-se para a frente de si próprio, atento àquilo com que se preocupa); a disposição funda-se sobre o passado (o ser-aí disposto reporta-se, eventualmente sobre o modo do esquecimento, ao seu ter-sido); a interpelação tem o seu sentido existenciário no presente (o ser-aí interpelando presentifica o ente que vem ao seu encontro). Um comportamento característico do ser-aí interpelante é a curiosidade.

No capítulo V (Temporalidade e Historicidade), Heidegger mostra que a historicidade do ser-aí — que não reside no simples fato de ser objeto nem mesmo sujeito da história, mas no de ter um destino (Schicksal), quer dizer de abrir uma história — repousa na temporalidade. «Só a temporalidade autêntica», diz ele, «que é ao mesmo tempo finita, torna possível algo como um destino, quer dizer uma historicidade autêntica» (p. 385).

No sexto e último capítulo (A Temporalidade e a Intratemporalidade como Origem do Conceito Vulgar de Tempo), Heidegger descobre a origem secretamente temporal da própria intemporalidade. A representação tradicional do tempo como sequência de agoras, como tempo do mundo e da natureza, funda-se sobre a temporalidade existenciária do ser-aí. Com esta dedução do conceito vulgar de tempo, termina a segunda seção de O Ser e o Tempo. (1993, p. 42-43)


Ver online : Alain Boutot