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GA61:17-19 – a definição [Definition]

quarta-feira 13 de novembro de 2024, por Cardoso de Castro

É importante logo no começo da consideração conquistarmos o sentido originário de definição [ursprünglichen Sinn von Definition], do qual a usual ideia de definição não passa de um certo derivativo [Abkunft]. Definitio: decisio, determinatio alicuius dicitur, quod tenendum e credendum declaratur, manifestatur et indicatur. A apreensão [Ergreifen] específica da definição! A definição completa não é meramente seu conteúdo [Gehalt], a frase [Satz]!

Em seu âmbito de validade [GeItungsbereich das Eigentümliche], a ideia usual de definição tem seu elemento específico no fato de que, na perspectiva da propensão de apreensão, central em tais âmbitos, ela determina própria e seguramente o objeto [Gegenstand]; que se podem acrescentar até outros casos ilustrativos mais, mas que de princípio em nada mais contribuem.

Mas esse momento não pertence a toda definição; sim, existem precisamente aquelas definições que dão o objeto de forma indeterminada, e quiçá de tal forma justamente a realização compreensiva dessa definição toda própria leva [26] à possibilidade correta de determinação. São definições, as únicas que podem introduzir a determinação [Bestimmung] adequada plena; mas, na medida em que devem fornecer o primeiro impulso – se nos é permitido empregar uma imagem intempestiva –, direção, força de equipe e munição devem ser preparadas de modo correspondente, e o posicionamento do objeto deve ser anunciado de modo correspondente.

Se for exigido que se defina, por exemplo, fenomenologia, na maneira usual, então deve-se dizer: não há nenhuma definição no sentido usual e na filosofia em geral não há definições dessa natureza. Mas o interrogador que já de há muito se contentou com uma ideia acrítica e pouco clara de definição se afasta com um gesto de superioridade de uma filosofia que nem sequer pode definir o que ela é e de uma tal que infelizmente muitas vezes perambula pelo mundo asseverando que contemplaria “a essência de todas as coisas”.

Como todo e qualquer objeto, a filosofia como objeto possui seu modo próprio de um genuíno ser tomado; a cada objeto corresponde um determinado modo de acesso, de ater-se nele e de perdê-lo [Weise des Zugangs, des Sich-an-ihn-Haltens und des ihn Verlierens]. [Esses últimos, em geral, não são vistos, e muito menos são impostados de modo adequado na problemática. Todavia são precisamente esses nos quais “usualmente” [gewöhnlich] nos movemos, são eles que perfazem o “costume” [Gewohnheit]. Eles devem ganhar um significado principial [prinzipielle Bedeutung] na problemática a ser desdobrada (faticidade).] Nesses respectivos modos, que devem ser assinalados formalmente como os modos do ter (o perder é um certo como do ter [Wie des Habens]), a cada vez de acordo com o caráter do modo do ter [Weisen des Habens] ou do ser-o-que-como do objeto [Was-Wie-Seins des Gegenstandes] (do “ser”), certos modos de apreensão e determinação cognitivas [kenntnismäßigen Erfassens und Bestimmens], os modos da clarificação específica de cada experiência [Weisen des spezifischen Erhellens jeder Erfahrung], também desempenham um papel imanente.

Esses modos não são algo acrescentado ou colado, algo que acidental; ao contrário, o modo de ter a cada vez o objeto como ele próprio é uma interpelação do objeto [Ansprechen des Gegenstandes].

Em todo e qualquer ter como tal, de certo modo, “está em questão o objeto (Gegenstand)”. O autêntico ter (Haben) respectivo pode exigir nele mesmo uma fala expressa: pode deparar-se com a tarefa de, no como do ter, trazer expressamente “o discurso” [Rede], conduzir o discurso ao o-quê [Was] do objeto; essa tarefa é tal que ela própria surge a cada vez a partir de e numa situação do ter de objetos, numa situação de experiência fática do Dasein. [Formulado de forma existenciariamente radical: Origem da pesquisa fenomenológica das categorias!] Essa tarefa de assim interpelar o objeto e de forma determinada trazê-lo-ao-ter [Zum-Haben-Bringens], na abordagem e discussão, é a tarefa da definição: Propósito (Vorhabe).

O sentido formal de definição, portanto, é: determinar o objeto em seu ser-o-que-como [Was-Wie-Sein]; determinar adequado à situação e à apreensão prévia, que lança mão tomando da experiência fundamental a ser conquistada, interpelando o objeto. (Aqui, não temos tempo para finezas literárias da linguagem nem para desenvolver “belas” fórmulas. Na própria determinação já foram assumidas “expressões”, que posteriormente deverão ser esclarecidas.)

Apresentou-se primariamente uma ideia de definição. Ela brota da interpretação fenomenologicamente radical do conhecer e, dependendo dos diversos nexos de conhecimento e de experiência, apresenta um sentido diverso. No modo que é colocada na formulação, a definição diz de princípio mais do que a definição debatida pela lógica que é apenas formalista.


Ver online : Phänomenologische Interpretationen zu Aristoteles [GA61]


HEIDEGGER, Martin. Interpretações fenomenológicas sobre Aristóteles. Introdução à pesquisa fenomenológica. Tr. Enio Paulo Giachini. Petrópolis: Vozes, 2011, p. 25-27