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GA61:23-24 – Princípio [Prinzip] e principial [prinzipiell]

quarta-feira 13 de novembro de 2024, por Cardoso de Castro

Assim como todo e qualquer objeto [Gegenstand] tem seu próprio modo de ter [Habensweise,], um modo de acesso de sua manutenção [Zugangsweise der Verwahrung], seu modo de decair em perda [Weise des In-Verlust-geratens], assim, nesse ter e para ele, ele é sempre de algum modo princípio [Prinzip], algo que importa e está em questão, que tem algo “a dizer” em relação a algo, em favor de algo; o modo como o objeto chega a isso, donde surge seu caráter principial [prinzipieller Charakter], é algo cada vez diverso nos objetos.

Se um objeto deve ser apreendido principialmente, se a tarefa é dar uma definição principial de si mesmo, então seu ser-o-que-como (Was-Wie-Sein) tem de chegar precisamente na perspectiva que se encaminha à determinação. Isso significa: A definição principial [prinzipielle Definition] deve torná-lo tão acessível que o ser-como [Wiesein] se determina propriamente como ser-princípio [Prinzipsein], falando de modo mais preciso, como primeira indicação [Anzeige] deve vir o como no qual ele faz a função de princípio. Essa função de princípio que a definição principial deve trazer à apreensão, esse ser-como do objeto, numa definição principial é a determinação de seu ser-o-que verdadeiro [eigentlichen Wasseins]. Mas o ser-como nessa definição só se dá autenticamente, isto é, a função de princípio só está propriamente presente como tal quando o autêntico compreender da definição pode e deve extrair dela mesma a indicação que remete ao para que (Wofur), para o qual o objeto é princípio. É só com a indicação remissiva ao para-que que o como do ser-princípio chega à compreensão. O conteúdo definitório é de tal modo que dá indicação do que está em questão e importa no ter de si (do objeto). [Acesso [Zugang], apropriação [Aneignung], conservação [Verwahrung]. Filosofia como fenômeno pleno! Gênesis de sentido do princípio.]

Uma definição principial doa o objeto como princípio. Ele só é princípio no ser do para-que, isto é, só é tido como [32] princípio se ele e o princípio não são tema, mas se a definição é tal que ele é tido como princípio, e correspondentemente coloca o ter numa tal disposição que o pendor dessa direção de realização se torna desperta, a compreensão, portanto, toma essa direção, atendo-se ao princípio qua princípio, o ter “é principial” [é na frase formal da correlação genuína que depende também o fato de que o objeto seja princípio, possa ser princípio. Correlação formal: mostrada a possibilidade do funcionar como princípio. Ali há que se observar que a própria frase é “abstração”, um extrato do sentido fenomenológico. Referência [Bezug] e assim conteúdo [Gehalt].]

Do ponto de vista filosófico-existenciário, o princípio genuíno só pode ser alcançado na experiência fundamental da paixão [Leidenschaft]. Ali está inesclarecido. “A partir do princípio”, de fora, “sem paixão”, chegou à reflexão, à perda. Principialmente, não há “conservação” (Behalt). “A partir do princípio”, pode-se ser e ter tudo (Kierkegaard  ).

Justamente uma consideração (e pesquisa) principial, portanto, tem de saber radicalmente o que ela quer. Não é suficiente que acentuemos o principial (com isso ainda não estamos no princípio como tal; fala-se sobre isso, dá-se e toma-se conhecimento), mas será suficiente que se “tenha” princípio enquanto princípio. Insensibilidade para princípios significa duas coisas:

1) Em geral, não nos preocupamos por um algo principial.

2) Temos um, mas não é “principial”.

principial significa: ter princípio genuinamente. Mas isso significa: temporalizá-lo clarificando-o na paixão não esclarecida e “conservá”-lo. Isto é, para nós: alcançar pela primeira vez essa experiência fundamental. O caminho é longo para a filosofia enquanto pesquisa.

A definição principial de um objeto é, novamente, diversa, dependendo cada vez de seu ser-o-que-como, e dependendo também do genuíno modo de ter, e cada vez dependendo se o objeto é decisivo ou não decisivo para o [33] modo de ter. Pode haver princípios que, dependendo dos diversos tempos, são alcançados de maneira totalmente diferente, e isso de tal modo que, de imediato, encontramos ali uma remissão para tal, um regresso todo próprio para a experiência fundamental, e só a partir dali brota autenticamente o princípio. Esse modo de apropriação é, ele próprio, uma característica essencial de uma situação espiritual.


Ver online : Phänomenologische Interpretationen zu Aristoteles [GA61]


HEIDEGGER, Martin. Interpretações fenomenológicas sobre Aristóteles. Introdução à pesquisa fenomenológica. Tr. Enio Paulo Giachini. Petrópolis: Vozes, 2011, p. 31-33