Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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Figal (2005:144-145) – disposição [Befindlichkeit]

quinta-feira 14 de novembro de 2024

Por “disposição” [Befindlichkeit] tem-se em vista antes de tudo “a tonalidade afetiva, o ser afinado” (ST, 134). Uma tonalidade afetiva [Stimmung] não é, por sua vez, o mesmo que um sentimento ou um afeto. Heidegger quer tornar efetivamente compreensível o fato de também os sentimentos e os afetos serem “modos” da disposição e não quer interpretá-los, por exemplo, como sinais de excitação. No entanto, mesmo se sentimentos e afetos não forem mais interpretados como indícios de um padecimento provocado por uma coisa qualquer ou como esse padecimento mesmo, eles ainda continuam sendo caracterizados pelo fato de sermos afetados neles segundo um aspecto determinado e por algo determinado. Por isso, eles também fixam o comportamento [Verhalt] de uma maneira em verdade variada, mas determinada. Exatamente esse não é o caso em meio a tonalidades afetivas. O que fica particularmente claro junto ao tédio vale para as tonalidades afetivas em geral: elas deixam em aberto de uma maneira peculiar a pergunta sobre como devemos nos comportar. Desta [145] feita, Heidegger também pode dizer que na tonalidade afetiva se mostra o “puro ‘fato de ser’” (ST, 134) do “”. Heidegger também denomina esse “fato de ser” “o estar jogado desse ente em seu aí, de modo que ele é em verdade o aí como ser-no-mundo”, e a expressão “estar jogado” [Geworfenheit] deve “indicar aí a facticidade da entrega à responsabilidade” (ST, 135). “Ser jogado” significa, consequentemente, que se é no mundo, e a “facticidade” [Faktizität], que não se pode não ser no mundo, mas que se é caracterizado essencialmente pela abertura do ente no qual se pode ser. A “entrega à responsabilidade”, tal como essa entrega se revela na tonalidade afetiva, consiste em termos de nos comportar no âmbito das possibilidades [Möglichkeit] conhecidas de comportamento, e isso se torna então manifesto na medida em que a tonalidade afetiva mesma não indica previamente nenhum modo determinado de comportamento. Heidegger também designa o que assim se mostra como “o caráter de fardo” do ser-aí; em meio à tonalidade afetiva experimenta-se o “ser como fardo” (ST, 134). E isso não significa que em todos os casos é desconfortável ser “aí”, mas uma vez mais apenas que é impossível não assumir um modo de comportamento.

[FIGAL  , Günter. Fenomenologia da Liberdade. Tr. Marco Antonio Casanova  . São Paulo: Forense, 2005]


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