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Caron (2005:866-867) – o impessoal deriva da estrutura do si mesmo
domingo 10 de novembro de 2024
O impessoal [das Man] deriva dessa estrutura do si mesmo [Selbst], que, na proximidade do invisível, abre a possibilidade do surgimento do visível, com o qual acaba se fundindo. O si, então, cai na categoria de um ser-aí cotidiano, que nada mais é do que o disfarce do desdobramento por meio do qual ele chega a si mesmo no imediatismo da ocupação [Besorgen]. Por meio da atividade de ser-com, o si faz com que outro si apareça e, desse outro si, extrai o que sabe sobre seu próprio ser. Além disso, todo ser-com é permeado pelo desejo de preservar a diferença ou a distância entre si mesmo e o outro. Assim, encontramos no si a presença de uma estrutura paradoxal que faz do si tanto um ser-com quanto um desejo de separação. “Na ocupação com o que se empreendeu com, para e contra os outros, há constantemente uma preocupação [Sorge] com uma diferença em relação aos outros: ou é simplesmente uma questão de nivelar essa mesma diferença; ou o próprio Dasein, permanecendo em segundo plano em relação aos outros, se esforça em sua relação com ele para alcançá-los; ou o Dasein, desfrutando de uma primazia sobre os outros, se esforça para mantê-los abaixo dele. Sem saber, o ser-com-os-outros [Miteinandersein] é atormentado por uma preocupação com essa distância. Em termos existenciais, tem o caráter da distância” [SZ :126]. No ser-com, a forma do si aparece, uma forma que o Dasein toma emprestada para compreender a si mesmo, do mundo da ocupação, e para responder à urgência da ação. Esse desejo de singularidade, esse sentimento de solidão por direito, é o reflexo ôntico de uma solidão mais fundamental que atravessa nossa natureza, uma solidão que nos recusamos a ver e que preferimos organizar, reduzir e atenuar, privilegiando o aspecto de uma integridade ôntica de nosso ser, uma integridade em si no modo pelo qual aparecemos como únicos, mas, dessa forma tranquilizadora, de acordo com o modelo dado pelo ente. Isso nos faz parecer com algo e nos permite confiar em uma imagem comum e tranquilizadora da individualidade. Essa solidão mais fundamental é, no entanto, reaparecida por nossa insatisfação crônica. Nós a recusamos, mas a fazemos ressurgir de forma empobrecida, a fim de satisfazê-la mesmo assim [867] de uma forma ou de outra, como ela exige ontologicamente; esse ressurgimento, no qual ela encontra seu relato de forma derivada, é o desejo próprio de cada um de nós de nos distinguirmos.
Ver online : Maxence Caron