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Figal (2005:152-153) – projetar [Entwerfen]
quinta-feira 14 de novembro de 2024
[…] “O projetar [Entwerfen] não tem nada em comum com um comportar-se [Sichverhalten] em relação a um plano imaginado, de acordo com o qual o ser-aí erige o seu ser, mas, como ser-aí, ele já sempre se projetou e é, uma vez que é, de maneira projetiva. Ser-aí compreende-se sempre já e sempre ainda, enquanto é, a partir de possibilidades [Möglichkeit]” (ST, 145). Heidegger contesta expressamente que se possa conceber “projeto” no sentido de um plano, e o que Kant tem em vista é efetivamente um tal plano que estabelece como um objeto pode ser a cada vez investigado e determinado. Em contrapartida, no sentido heideggeriano, as possibilidades são o projetado, e é essencial que a compreensão [Verstehen] “não apreenda tematicamente ela mesma isso em vista de que ela projeta” (ST, 145). Por isso, o “projeto” também só designa o apreender de possibilidades em verdade determinadas, mas de qualquer modo não pensadas ainda em função de sua realização; as possibilidades precisam ser, então, diferenciadas dos “projetos” que se fazem expressamente. Quando se leva a termo essa diferenciação, pode-se tomar o curso de pensamento de Heidegger mais incisivamente do que ele o faz no próprio texto de ST. Projetos também são, em verdade, possibilidades. No entanto, eles são possibilidades tais que determinam o comportamento [Verhalt] sempre a cada vez atual, na medida em que o que está em questão neles é a realização do projetado. Possibilidades projetadas são sempre “tomadas tematicamente” de uma maneira ou de outra; esse modo de apreensão “retira do projetado [153] justamente o seu caráter de possibilidade, reduzindo-o a uma coisa subsistente dada, visada, enquanto o projeto lança para a frente a possibilidade como possibilidade para si e a deixa ser como tal. O compreender é, como projetar, o modo de ser do ser-aí, no qual ele é suas possibilidades como possibilidades” (ST, 145). As possibilidades se transformam em uma “coisa subsistente dada, visada”, na medida em que se fala sobre elas, seja silenciando em diálogo consigo mesmo, seja com os outros. Nenhuma possibilidade é um projeto se ela não for articulada de uma maneira qualquer. Todavia, só se podem fazer projetos se antes de tudo possibilidades estiverem descerradas. Para que possam se tornar projetos, é preciso “tê-las deixado ser como possibilidades”. Portanto, Heidegger não pensa apenas no modo como a abertura do ente é apreendida. Ao contrário, ele pensa também o apreender das possibilidades do comportamento como um deixar, e, de acordo com isso, de uma maneira determinada, a abertura do possível também precisa poder ser aqui em geral diferenciada ainda uma vez da abertura do possível em geral. Aberto no sentido do possível em geral é o ser iminente e indeterminado como o determinável por meio das possibilidades de comportamento. Sabemos que não é possível saber como se virá a ser, e, porém, percebe-se o ser iminente e indeterminado do mesmo modo nas formas determinadas do poder-ser. Porque a “existência” no ser-aí é sempre caracterizada por esses momentos, pode-se designá-la juntamente com seu apreender como “projeto”; esses momentos cunham como que os “esboços” do existir. Por outro lado, o termo “projeto” faz com que pensemos também em uma atividade projetiva, e, visto assim, ele só designa de maneira imperfeita e equívoca o fenômeno que está em questão para Heidegger.
[FIGAL , Günter. Fenomenologia da Liberdade. Tr. Marco Antonio Casanova . São Paulo: Forense, 2005]
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