Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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Casanova (Tédio:24-25) – Stimmungen (tonalidades afetivas)

quinta-feira 30 de abril de 2020

[…] O ser-aí nunca se encontra simplesmente subsistindo no espaço, de tal modo que poderíamos pensar o seu ser no espaço como estabelecido a partir de uma demarcação de sua posição no interior [24] do espaço extenso desde o princípio dado. Ao contrário, é o espaço que emerge antes de um acontecimento espacializante. Esse acontecimento encontra nas tonalidades afetivas um elemento estrutural de sua determinação. Nós nunca estamos simplesmente no espaço subsistente, pois nós já sempre nos encontramos dispostos de um modo específico no espaço. O que ocorre, por exemplo, quando nos vemos atravessados por uma atmosfera como a tristeza não é apenas a constituição de um estado afetivo interior, que matizaria nossas representações e mesmo a nossa vontade. A tristeza tampouco provém de uma única coisa ou estado de coisas, promovendo de maneira igualmente direcional o surgimento, na interioridade, de um efeito em nosso ser interior. A tristeza, inversamente, traz sempre consigo uma reestruturação do espaço existencial como um todo. Quando a tristeza se abate sobre nós, nosso corpo imediatamente se encolhe. Ao mesmo tempo, o foco fenomenológico de meu existir acompanha esse encolhimento, de tal forma que todo um conjunto de elementos se toma imediatamente indiferente para mim; e indiferente não porque eu agora não tenho mais nenhum interesse por eles, mas porque o encolhimento do foco inviabiliza tal interesse. Dito de outro modo, eles aparecem aqui e agora como não aparecendo. A mesma coisa vale para a alegria, a melancolia, a furia e, sim, o tédio. Cada uma dessas atmosferas promove uma reestruturação do espaço existencial como um todo, um novo modo de realização da abertura, do descerramento do mundo. […]

[CASANOVA  , M. A. Tédio e tempo: Sobre uma tonalidade afetiva fundamental fática de nosso filosofar atual. Rio de Janeiro: Via Verita, 2020, p. 24-25]


Ver online : Marco Antonio Casanova