Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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Caron (2005:11-12) – a questão da subjetividade

sexta-feira 19 de fevereiro de 2021

Tradução

A questão da subjetividade, a interrogação sobre sua origem e sobre sua estrutura, parece ser uma das mais correntes dentre aquelas que marcam não só a história da filosofia moderna, mas também aquelas que preocupam as pesquisas mais contemporâneas. Pode parecer desnecessário, até presunçoso, adicionar sua própria nota. Mas uma primeira ingenuidade nos remete a este primeiro raciocínio: se o problema da subjetividade também é persistente, é porque não está resolvido e talvez não poderia sê-lo a priori. Logo ninguém poderia ser considerado neste domínio como um "atrasado". Chegamos, paradoxalmente e ao contrário, sempre muito cedo em relação à consciência que podemos tomar da nossa essência, imersos que estamos em nosso ser a tal ponto que o recuo e o impulso nos faltam para suportar a escuta das ações discretas de sua presença constitutiva. Além disto, a aparente banalidade do problema só pode ser legitimamente acusada se este problema não for persistente; ora, não teria se tornado banal se não fosse persistente, em suma, se não fosse realmente um problema.

No entanto, é tão fácil colocar o problema do si quanto não resolvê-lo, e certamente não é seguindo alguma intuição primitiva que podemos reivindicar tal resolução [1] - a supor que esta seja avistável [2] Quando nos surgiram dois elementos: de um lado, que um problema bem colocado deveria ter uma chance de encontrar sua solução, quer dizer, que "as questões às quais a filosofia não responde se veem assim responder como não devendo ser assim formuladas" [3]; por outro lado que a radicalidade dos termos com que Heidegger aborda esta questão (que não foi menos debatida ou refutada em sua época do que na nossa) foi o caminho que era preciso ser percorrido, pelo menos por um tempo, com rigor e sem reservas - porque este caminho permite precisamente formular e portanto colocar o problema em toda a sua intensidade. Heidegger de fato observa o fenômeno do Dasein, isto é, a presença imediata e determinante, mas oculta e impensada, do ser para a consciência, e desvenda as implicações ontológicas e estruturais dessa interpenetração original do ser e da individualidade.

Original

La question de la subjectivité, l’interrogation sur son origine et sur sa structure, semble être l‘une des plus courues de celles qui parsèment non seulement l’histoire de la philosophie moderne, mais également de celles qui préoccupent les recherches les plus contemporaines. Il peut sembler inutile, voire outrecuidant, de venir rajouter sa propre note. Mais une naïveté première nous ramène à ce raisonnement premier : si le problème de la subjectivité est aussi rémanent, c’est qu’il n’est pas résolu et qu’il ne saurait peut-être l’être a priori. Personne ne saurait donc être constitué en ce domaine comme un « tard venu ». Nous venons, paradoxalement et au contraire, toujours trop tôt par rapport à la conscience que nous pouvons prendre de notre essence, immergés que nous sommes en notre être à tel point que le recul et le souffle nous manquent pour endurer l’écoute des discrets agissements de sa présence constitutrice. De plus, l’apparente banalité du problème ne peut être légitimement accusée que si ce problème n’est pas rémanent ; or, il ne serait pas devenu banal s’il n’était pas rémanent, bref, s’il n’était pas un problème en vérité.

Cependant, il est aussi facile de poser le problème du soi que de ne le pas résoudre, et ce n’est certes pas en suivant quelque prime-sautière intuition que nous pourrons prétendre à une telle résolution [4] — à supposer que celle-ci soit envisageable [5] Lors nous sont apparus deux éléments : d’une part, qu’un problème bien posé [12] devait avoir une chance de trouver sa solution, c’est-à-dire que « les questions auxquelles la philosophie ne répond pas se voient ainsi répondre qu’elles ne doivent pas être formulées ainsi » [6] ; d’autre part que la radicalité des termes dans lesquels Heidegger approche cette question (qui n’était pas moins débattue ou rebattue à son époque qu’à la nôtre) était le chemin qu’il fallait, au moins pour un temps, emprunter rigoureusement et sans réserve — car ce chemin permet précisément de formuler et donc de poser le problème dans toute son intensité. Heidegger constate en effet le phénomène du Dasein, c’est-à-dire la présence immédiate et déterminante, mais cachée et impensée, de l’être à la conscience, et dénoue les implications ontologiques et structurelles de cette compénétration originaire de l’être et de l’ipséité.

[CARON  , Maxence. Heidegger. Pensée de l’être et origine de la subjectivité. Paris: CERF, 2005, p. 11-12]

CARON  , Maxence. Pensée de l’être et origine de la subjectivité. Paris: CERF, 2005.


Ver online : Maxence Caron


[1Hegel, Notes et fragments, Jéna 1803-1806, fragmento 50: “A má reflexão é o medo de afundar na Coisa [Saber]; ela sempre quer ir além e se retirar para dentro de si ”.

[2Tomar a possibilidade desta resolução é, em todos os casos, necessário ao título heurístico.

[3Hegel, Notes et fragments, léna 1803-1806, fragmento 35.

[4Hegel, Notes et fragments, Iéna 1803-1806, fragment 50 : « La mauvaise réflexion est la crainte de s’enfoncer dans la Chose [Sache] ; elle veut toujours aller au-delà de celle-ci et se replier sur soi ».

[5Faire l’hypothèse de la possibilité de cette résolution est, dans tous les cas, nécessaire à titre heuristique.

[6Hegel, Notes et fragments, léna 1803-1806, fragment 35.