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Iniciação à Filosofia [Harada2009a]

Harada (2009:42-44): Da-sein

O Mito, abismo insondável do mistério do ser?

sábado 10 de junho de 2023, por Cardoso de Castro

O modo de ser da mundidade caracteriza o modo de ser ôntico do Homem que ambiguamente se pode chamar também Da-sein  , mas é precisamente nesse modo de ser onticamente diferencial que aparece a possibilidade de recolocar a busca, i. é, a questão do sentido do ser, na sua diferença ontológica, pois é somente no Homem agora entendido, como Dasein, que se abre a compreensão de que se trata quando dizemos ser, como horizonte, como mundidade, do ente na sua totalidade.

Na nossa reflexão, esse quem, esse quê fundante e originante de todo o processo criativo artístico, que culmina na realização da obra de arte, é o próprio homem ele mesmo. Mas já não considerado, como sujeito e agente do ato criativo, mas como existência, como pre-sença, como Dasein  . Da-sein   não é nenhum ente dentro do sujeito homem, nem algum momento do seu ser, mas sim modo de ser próprio do homem que, no homem considerado como sujeito e agente do ato, não pode aparecer. Pois, nessa consideração, o homem de antemão já é posto, colocado, como um ente, cujo modo de ser é de objeto ao lado de outros objetos não-humanos. Mas, podemos perceber em nós mesmos, em sendo, como é esse modo de ser próprio do homem, pois nós mesmos somos Dasein.

Pressupomos, como já conhecido esse modo de ser, que se encontra exposto detalhada e exaustivamente no que se chama analítica do Dasein no livro “clássico” da Filosofia “Ser e Tempo  ” de Martin Heidegger. Aqui, somente algumas considerações no que diz respeito ao nosso tema Mito e Arte. Da-sein, como modo de ser próprio do homem, deve ser entendido com precisão na oscilação da sua ambiguidade. Pois, uma vez pode ser entendido, como o modo diferencial, que distingue o homem dos entes não-humanos. Assim entendido, no jargão filosófico, dizemos que o Dasein é uma diferença ôntica que distingue o homem de outros entes não-humanos. Nesse caso, teríamos duas grandes regiões do ente como: a região do ente humano e a região do ente-não humano. É o que, no início, pressupomos, quando falamos da classificação do Mito e da Arte como sendo produtos do homem, distinguindo-os de outros entes, como produtos da natureza. Embora nessa divisão entre o modo de ser próprio do homem e o modo de ser do ente não-humano haja grande diferença, o sentido do ser que abrange essas duas regiões numa generalidade maior e mais vasta é o ser num sentido bem determinado. Pois tanto os entes humanos, como também os entes não-humanos são entes. O sentido do ser aqui é comum, geral em ambas as regiões. A expressão o modo de ser próprio do homem, entendido como diferencial diante do ente não-humano, debaixo do igual sentido do ser, comum a ambos, é diferença ôntica. O modo de ser próprio do homem, porém, ao ser entendido, como diferença ôntica, pode, ao mesmo tempo, ser entendido também, como diferença ontológica. Na [42] diferença ontológica, a diferença existente não é entre este ente e outro, nem entre ente e ente num sentido mais geral, mas entre ser e ser, ou melhor “entre” o sentido de ser e o sentido do ser. Mas de que se trata? Em vez do ser ou sentido do ser usemos os termos horizonte, ou melhor, mundo que, no início da nossa reflexão, ao falarmos das diversas acepções dos termos algo, objeto, coisa, troço, trem, ou em alemão etwas, Objekt  , Gegenstand, Ding  , e Sache, mencionamos, como indicadores do modo de ser característico de cada modo de ser.. Nesse sentido então, a diferença ontológica diz respeito à diferença existente entre horizonte e horizonte, entre mundo e mundo. Só que aqui é necessário não entender o horizonte (ou o mundo) de modo vago e abstrato, como se fosse um grupo, uma classe ou uma região diferente de entes. Pois horizonte ou mundo diz respeito à totalidade, de tal modo que não se trata de “objetivar” a totalidade, como ente, e colocá-los uma ao lado da outra a modo de um conjunto de coisas. O horizonte ou o mundo, como cada vez totalidade, abrange todos os entes atuais e possíveis, sob o sentido do ser ali operante, de tal modo que uma vez dentro, não há nada que possa ficar fora e, a partir de dentro não se pode perceber que é possível uma outra totalidade. Surge a pergunta, é possível pensar o mundo de modo mais geral que abrangesse todos os mundos na sua mundidade? Não seria possível um mundo assim geral, pois o mundo não é um gênero, nem espécie, nem isso ou aquilo, mas …cada vez mundo, cada vez seu, na total auto-identidade de e consigo mesmo, sem se trancar em si, pois a partir de dentro se expande indefinidamente, mas na sua identidade diferenciai, se perfaz radicalmente “fechado” ou “oculto” a si mesmo, pois não se pode sair do mundo e tomar pé numa posição extra ou além-mundo, para adquirir uma visão panorâmica geral dos mundos na sua mundidade. Uma tal visão panorâmica é fruto de um bem determinado horizonte, cujo modo de ser é caracterizado pelo termo algo (etwas) e mesmo ente (Das Seiende  ) ou também objeto (Objekt), cujo “grau” de mundidade é tão baixo que o ente não aparece aqui a não ser, como um quê-bloco totalmente abstrato e indeterminado. O modo de ser da mundidade caracteriza o modo de ser ôntico do Homem que ambiguamente se pode chamar também Da-sein, mas é precisamente nesse modo de ser onticamente diferencial que aparece a possibilidade de recolocar a busca, i. é, a questão do sentido do ser, na sua diferença ontológica, pois é somente no Homem agora entendido, como Dasein, que se abre a compreensão de que se trata quando dizemos ser, como horizonte, como mundidade, do ente na sua totalidade. Esse modo de ser que é, ao mesmo tempo ôntico e ontológico, ou melhor, o modo de ser ôntico, que, na sua diferença ôntica, ao se distinguir do ente não-humano, traz, nessa diferença identificadora do ser do Homem, a revelação, a abertura que mostra a mundidade, como a diferença que caracteriza a identidade de cada ente [43] no seu ser, (diferença ontológica) se diz em “Ser e Tempo” ser-no-mundo e se refere à finitude essencial do Homem, como Da-sein.


Ver online : Hermógenes Harada