Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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Gmeiner: Língua da filosofia

terça-feira 30 de maio de 2017

A evolução da língua, principalmente nas formas latinas, escondeu, cada vez mais, o modo próprio de dizer, a Filosofia e o objeto do pensar.

A crítica que Heidegger faz à latinidade é que a incorporação do pensamento grego por uma tradição de pensamento e língua pragmáticos desviou o homem do pensar, dando-lhe apenas instrumentos, utensílios para a sobrevivência.

A língua alemã antiga, ao ver de Heidegger, esteve imune a essa influência e por isso contém ainda os fundamentos do pensar de origem. No Ocidente, só o alemão, como língua, atinge essencialmente a origem. O pensar faz-se, portanto, com propriedade, apenas em língua alemã. Heidegger teria afirmado que, quando os franceses querem pensar, o fazem em alemão, pois essa é a língua do pensamento. Mas a excelência do alemão sobre as outras línguas é circunstancial e vale apenas para o mundo que outrora constituiu o Império Romano  .

A importância que os romanos davam à língua latina como forma mentis do povo chega a concretizar-se em movimentos de recusa real que Roma teve às línguas dos povos conquistados. Em relação ao grego, ainda que tenha havido grandes helenistas em Roma, por exemplo Cícero, pode-se lembrar também várias reações ao helenismo, como, entre outras, as de Catão, o Velho, e Varrão. As línguas e culturas germânicas foram completamente desqualificadas desde a época das conquistas. Bárbaros eram os que não sabiam falar, ou seja, os que não tinham o domínio da língua latina. O plano político de Carlos Magno, elaborado por seu ministro Alcuíno, pretende a unificação cultural e política do império por meio da imposição da língua e da religião romanas para todo o imenso território que veio a constituir o Império Carolíngio. O imperador foi coroado em 800 e nessa época as línguas germânicas conservavam ainda com mais propriedade suas estruturas de origem.

A circunstancialidade da crítica heideggeriana   à língua do ocidente, e a consequente preterição dessa língua como material de análise para o estudo da linguagem originária, pode ser percebida também quando, em um de seus trabalhos, o autor faz algumas considerações sobre as línguas orientais, ensaiando análises etimológicas e semânticas que podem mostrar o dizer de origem. Não se deve entender, portanto, em Heidegger, a valorização exclusiva da língua alemã, no Ocidente, como a mais própria para o filosofar, como desqualificação de outros povos ou como algo relacionado com arianismo, teoria eugênica do período nazista na Alemanha. Trata-se de uma análise meramente cultural e linguística. (Conceição Neves Gmeiner, A Morada do Ser)


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