Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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Gaboriau (1962:80-81) – o enigma "ser"

quinta-feira 17 de outubro de 2024

As coisas do pensamento são muito particulares. As palavras dos pensadores não têm autoridade. Elas não têm autores, no sentido de escritores. A palavra do pensamento é pobre em imagens e pouco atraente. Ela repousa no processo sóbrio que leva ao que ela diz… No entanto, o pensamento transforma o mundo, levando-o a uma profundidade cada vez mais sombria, onde surge um enigma…
 
O enigma nos foi proposto há muito tempo na palavra “ser”. É por isso que “ser” continua sendo uma palavra provisória, um mero prenúncio. Vamos nos certificar de que nosso pensamento faça mais do que persegui-lo com os olhos fechados. Vamos começar considerando que “ser” originalmente significava “presença” e “presença”, se pro-duzir e perdurar em desvelamento. [1]

O filósofo que se expressa dessa maneira é precisamente aquele cuja linguagem laboriosa pode dar origem a mal-entendidos. Comprenne qui pourra! A humanidade não pode ouvir tudo o que a “palavra” transmite. Nessa letargia em que a linguagem se afunda, cabe ao vigilante despertar o pensamento. Mas quanta atenção ele receberá pela aurora que anuncia?

“Uma vez, no entanto, no início do pensamento ocidental, o ser da linguagem apareceu, por um lampejo, na luz do ser. Uma vez, quando Heráclito pensou em logos como a palavra-guia, para pensar nessa palavra o ser do ente. Mas o relâmpago se apagou de repente. Ninguém percebeu seu clarão ou a proximidade do que ele iluminava.
 
Só podemos ver esse relâmpago se entrarmos na tempestade do ser. Mas hoje, tudo indica que estamos apenas tentando manter a tempestade à distância… para que ela não perturbe nossa tranquilidade. Mas essa paz não é paz. É apenas apatia e, antes de tudo, a apatia da angústia diante do pensamento.” [2]

Ver online : Florent Gaboriau


[1M. Heidegger, Essais et Conférences [GA7], trad. A. Préau, Gallimard, 1958, p. 278.

[2Ibid., p. 277.