Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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Kockelmans (1984:101-102) – O mundo como o quadrinômio [Geviert]

segunda-feira 14 de outubro de 2024

O mundo como o quadrinômio [Geviert] de céu e terra, deuses e mortais, não pode ser explicado a partir da perspectiva de um fundamento que se encontra fora dele; mas também não pode ser explicado por um dos momentos estruturais que se pode tirar do próprio quadrinômio, para então declará-lo como o fundamento dos outros. A revelação oculta que domina o mundo é e continua sendo um “fundamento” abismal para o qual ninguém pode assegurar um fundamento último. O mundo é um jogo, em relação ao qual toda tentativa de fundamentação fracassa. O mundo é quadrinômio; e esse é um jogo de espelhos no qual cada dimensão, deuses e mortais, assim como [102] o céu e a terra, espelha a essência das outras e, assim, espelha a si mesma de volta ao que é adequado para si mesma. Esse espelhamento não deve ser tomado em um sentido platônico; ele não significa aqui a apresentação de uma imagem que meramente espelha o que na verdade é, mas sim a iluminação oculta que, como evento de apropriação, traz tudo para o que lhe é próprio. Esse espelhamento é, portanto, um processo de limpeza apenas com base no velamento; em outras palavras, ele vem a acontecer como envio (Geschick). [1]

O mundo, tomado como o quadrinômio de céu e terra, deuses e mortais, e, portanto, tomado como o evento de apropriação, traz tudo o que é para o que lhe é próprio, e assim o deixa ser. Mas, precisamente, como o mundo se apropria de cada ente para aquilo que lhe é próprio, e como ele libera cada ente para si mesmo? Como o mundo abriga cada ente no desvelamento? Esse processo de abrigo não acontece de tal forma que um ente (que se posiciona por e para si mesmo) e o desvelamento (que se posiciona por e para si mesmo) sejam simplesmente reunidos. Em vez disso, a verdade e o mundo se velam nos entes que encontram abrigo neles. O mundo concede as coisas, enquanto as coisas reúnem o mundo, retendo-o e velando-o. [2] Vejamos, portanto, como, na opinião de Heidegger, o mundo abriga cada ente no desvelamento, concentrando-nos em sua concepção das quatro dimensões do mundo, no céu e na terra, nos deuses e nos mortais. [3]

[KOCKELMANS  , Joseph. On the Truth of Being: Reflections on Heidegger’s Later Philosophy. Bloomington: Indiana University Press, 1984]


Ver online : Joseph Kockelmans


[1GA7:VA, p. 178 (179); Pöggeler, Denkweg, pp. 252-53

[2Pöggeler, Denkweg, pp. 253-55

[3Pöggeler also gives a description of heaven and earth under the general heading of the animate and inanimate nature; for this description he makes use of unpublished manuscripts. I have decided not to follow him here, because such a description tends to suggest a concern for heaven and earth from an ontical rather than from an ontological point of view. I should like to stress, however, that this decision is not based on the assumption that Pöggeler’s approach to the issue is unacceptable.