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Ernildo Stein (2001:396-399) – "Fim da Filosofia…" [GA14]

domingo 17 de novembro de 2024, por Cardoso de Castro

A reflexão de Heidegger, realizada nesse texto [1], pode ser desdobrada nos seguintes passos fundamentais:

1. liga suas afirmações ao elemento inspirador de Ser e Tempo  , o problema do ser;

2. visa, entretanto, a uma superação do primeiro passo que representa essa obra básica (GA9  :WiM 13);

3. verifica que a filosofia chegou a seu fim, auxiliado pelas análises de toda a história da filosofia;

4. experimenta a necessidade de estabelecer a tarefa do pensamento futuro;

5. uma tal tarefa consiste em pensar o impensado da filosofia, que, no entanto, sustenta toda a metafísica;

6. o impensado se revela no movimento do pensamento que consiste numa crítica imanente a Ser e Tempo  , na aceitação de seu impasse e na realização de uma viravolta;

7. a clareira (Lichtung) revela-se como o âmbito no qual se encontram pensar e ser;

8. nela residem o espaço e o tempo originários, através dos quais tudo se presenta;

9. o tempo pode ser compreendido como a clareira (Lichtung) e o ser como a presença (Anwesenheit);

10. assim, o título adequado para substituir Ser e Tempo   na viravolta é Presença e Clareira, (Anwesenheit und Lichtung);

11. a metafísica nomeou a palavra que traduz um tal título, é a palavra Aletheia, no entanto, não a pensou enquanto tal;

12. a Aletheia é a Lichtung enquanto não-retração (desvelamento [Entborgenheit]);

13. mas, o fato de a tradição metafísica ocidental não pensar a Aletheia enquanto Lichtung, reside, de certo modo, na própria Aletheia;

14. o coração da Aletheia é a Lethe; enquanto tal ela contém em si uma reserva, uma salvaguarda, que permite a manifestação da presença;

15. é preciso pensar a Aletheia em sua ambivalência, para que se compreenda Ser e Tempo  , presença e clareira;

16. em sua radicalidade a clareira é o âmbito ambivalente em que se dá a retração e não-retração, a ausência e a presença, o velamento e desvelamento;

17. a Aletheia ou a Lichtung são o impensado que se oculta sob todas as palavras-guias da metafísica ocidental; por isso elas se sucedem como uma história do ser;

18. no fim da filosofia a Aletheia e a Lichtung são a tarefa do pensamento;

19. a fenomenologia é o caminho de acesso à tarefa do pensamento (zur Sache selbst);

20. toda a interrogação de Heidegger visa à preparação dessa tarefa e à educação do pensamento para pensar o que está além do racional e irracional da metafísica e da cibernética;

21. não se pode decidir se essa tarefa se torna acessível ao pensamento pela mediação dialética (Hegel  ) ou pela intuição originariamente dada (Husserl  ) ou por nenhuma das duas;

22. a decisão deve vir do ser daquilo que, antes de tudo, requer de nós um livre acesso;

23. essa decisão, no entanto, somente se torna possível se este ser já nos atingiu;

24. estamos num círculo sem saída, é o círculo hermenêutico, é ele que nos impõe a viravolta, é ele que faz com que sempre se renove a interrogação pela tarefa do pensamento;

25. Heidegger pergunta: “Est-ce l’eukyklos Aletheie, le Sansretrait, rondeur parfaite, pensée à son tour comme Lichtung, comme la clairière de l’Ouvert?” (Parmênides  );

26. o círculo hermenêutico, que é o círculo da Aletheia, enquanto velamento e desvelamento, é o âmbito em que se instaura a interrogação pela tarefa do pensamento;

27. é a eukyklos Aletheie, enquanto tarefa do pensamento, que impõe a viravolta (”Mais alors la tâche de la pensée n’aura-telle pas pour titre au lieu de Sein un Zeit (être et temps): Sein und Lichtung? “)


Ver online : Ernildo Stein


STEIN, Ernildo. Compreensão e Finitude. Estrutura e movimento da interrogação heideggeriana. Ijuí: Editora Unijuí, 2001


[1"Das Ende der Philosophie und die Aufgabe des Denkens", GA14