A reflexão de Heidegger, realizada nesse texto , pode ser desdobrada nos seguintes passos fundamentais:
1. liga suas afirmações ao elemento inspirador de Ser e Tempo, o problema do ser;
2. visa, entretanto, a uma superação do primeiro passo que representa essa obra básica (GA9:WiM 13);
3. verifica que a filosofia chegou a seu fim, auxiliado pelas análises de toda a história da filosofia;
4. experimenta a necessidade de estabelecer a tarefa do pensamento futuro;
5. uma tal tarefa (…)
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Entborgenheit / Verborgenheit / Unverborgenheit
Unverborgenheit / hors-retrait / desencobrimento / unconcealment / Entborgenheit
Assim, seguiu-se o critério de manter o princípio global de verter o núcleo de sentido de bergen — raiz que perdura na nossa língua no verbo “albergar” e nos substantivos “albergue” e “albergaria” — por “pôr a coberto”, que significa “pôr a salvo”, “dar cobertura”, abrigar, e portanto, indirecta e secundariamente, ocultar, esconder. Estas duas últimas acepções vêm, em alemão, a expressar-se na forma verbal derivada verbergen, que traduzimos, por coerência etimológica e precisão conceptual, por “encobrir”, cujas conotações são notáveis, sobretudo no uso, em português, do particípio. “Encoberto”, verborgen, designa o que dissimula a sua presença mediante disfarce, o que, não estando ausente, guarda oculta, enevoada, a verdade do seu ser, salvaguardando a sua identidade. A verdade ontológica enquanto Unverborgenheit — termo com que Heidegger traduz a aletheia grega — designa, pois, o “não-estar-encoberto” do ser, o seu aparecer à luz enquanto “desencobrimento”, Entbergung, do que está-a-coberto no ente: o ser no seu estar-a-ser essenciante. [Borges-Duarte , GA5 ]
Matérias
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Ernildo Stein (2001:396-399) – "Fim da Filosofia…" [GA14]
17 de novembro, por Cardoso de Castro -
Trawny (2015) – errância
2 de fevereiro, por Cardoso de Castrodestaque
Aqui temos de estar atentos, bem como de exercer o nosso discernimento. Porque quando um filósofo começa a misturar o que aparentemente se opõe à verdade, isto é, a mentira, com a verdade, a perverter uma na outra, então o sofista não está longe. Será possível que Heidegger seja o sofista da modernidade? Quem poderia negar que esta questão é sugerida precisamente pela publicação das Schwarze Hefte? Heidegger liberta nelas a sua ira. Surge um pensador que lança os seus raios sobre (…) -
Ernildo Stein (1973:283-297) – Introdução ao Método Fenomenológico Heideggeriano (4-6)
2 de dezembro de 2023, por Cardoso de Castro4. Uma vez situado o método fenomenológico no contexto das discussões atuais, passo à análise de certas particularidades e elementos distintivos seus. Não é fácil atingir um ponto de vista a partir do qual se possa refletir, fora da imanência da obra, sobre o problema do método, em Heidegger. O filósofo lhe dá uma importância muito grande, mas uma verdadeira exposição nunca apresentou. Há apenas a apresentação provisória do § 7 de Ser e Tempo. Por isso, resta como único recurso a prometer um (…)
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GA9:196-198 – Irre - errância
18 de janeiro de 2019, por Cardoso de CastroGiachini & Stein
Insistente, o homem está voltado para o que é sempre o mais corrente em meio ao ente. Ele, porém, só pode insistir na medida em que já é ek-sistente, isto é, uma vez que ele, contudo, toma como medida diretora o ente enquanto tal. Enquanto toma medida, porém, a humanidade está desviada do mistério. Este insistente dirigir-se ao que é corrente e o ek-sistente afastar-se do mistério se compertencem. São uma e mesma coisa. Esta maneira de se voltar e se afastar resulta, (…) -
Demske: Being as Noein-Einai (Parmenides)
1º de maio de 2017, por Cardoso de Castrop. 95-98
What was being for the other great pre-Socratic thinker, Parmenides? Contradicting the widely held opinion that the teaching of Parmenides is diametrically opposed to that of Heraclitus, Heidegger maintains that both thinkers really shared the same philosophical standpoint: "Where should these two Greek thinkers, the founders of all thought, take their stand but in the being of beings? For Parmenides too, being is the hen, kyneches, that which holds itself together in itself, (…) -
Jean Wahl (1998:34-40) – aletheia
10 de fevereiro, por Cardoso de Castrodestaque
[…] A verdade não é uma propriedade da proposição: está nas próprias coisas. E aqui se acentua o aspecto objetivista da teoria de Heidegger. Não é na proposição sobre o ser que reside a verdade, mas é o próprio ser que é revelado ou verdadeiro. E é apenas porque o ser é verdadeiro que podemos formular proposições sobre ele que são verdadeiras. Consequentemente, a verdade da proposição é derivada da verdade do ser. A verdade, no seu sentido antigo, a descoberta, pertence ao próprio (…) -
Heidegger: questão metafísica e minha questão
15 de abril de 2017, por Cardoso de CastroExtrato da trad. de Antonio Abranches
Wisser: Todas as suas reflexões fundam-se e desembocam na questão que é a questão fundamental de sua filosofia, a questão do Ser. Várias vezes o Sr. observou que não queria adicionar uma nova tese às numerosas teses que existem sobre o Ser. Precisamente porque o Ser foi definido de maneiras muito diferentes, por exemplo, como qualidade, como possibilidade e realidade, como verdade, como Deus, o Sr. põe a questão de uma harmonia (Einklang) suscetível (…) -
GA7:18-19 – homem pertence à disponibilidade
18 de agosto de 2019, por Cardoso de CastroCarneiro Leão
Quando tentamos aqui e agora mostrar a exploração [herausfordernde] em que se desencobre [Entbergen] a técnica moderna, impõem-se e se acumulam, de maneira monótona, seca e penosa, as palavras “pôr’’ [stellen], “dis-por” [bestellen], “dis-posição”, “dis-positivo”, “dis-ponível”, “dis-ponibilidade” [Bestand], etc. Isso se funda [Grund], porém, na própria coisa que aqui nos vem à linguagem [Sprache].
Quem realiza a exploração [herausfordernde] que des-encobre [Stellen] o (…) -
Wrathall (2011:2-4) – sentido [Sinn]
19 de outubro, por Cardoso de CastroSeu foco nas estruturas e funções ontológicas leva Heidegger a um uso bastante idiossincrático da terminologia. Heidegger usa palavras como linguagem, verdade e história no que às vezes chama de um sentido “ontologicamente amplo”. De fato, a primeira regra geral para interpretar Heidegger é lembrar-se constantemente de que Heidegger tende a usar seus termos de uma forma bastante distinta do sentido comum e cotidiano em que são usados. Na verdade, essa prática é tão comum que ele normalmente (…)
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GA9:187-189 – deixar-ser [Sein-lassen]
27 de maio de 2023, por Cardoso de CastroA hostilidade contra a tese que diz que a essência da verdade é a liberdade apoia-se em preconceitos dos quais os mais obstinados são: a liberdade é uma propriedade do homem; a essência da liberdade não necessita nem tolera um exame mais amplo; o que é o homem, cada qual o sabe.
Ernildo Stein
Entretanto, a indicação de uma conexão essencial entre a verdade como conformidade e a liberdade abala esses preconceitos, suposto, evidentemente, que estejamos dispostos para uma transformação do (…) -
GA14:82-85 – clareira e aletheia
5 de dezembro de 2023, por Cardoso de CastroErnildo Stein
[…] Quer seja experimentado aquilo que se presenta, quer seja compreendido e exposto ou não, sempre a presença, como o demorar-se dentro da dimensão do aberto, permanece dependente da clareira já imperante. Mesmo o que se ausenta não pode ser como tal, a não ser que se desdobre na livre dimensão da clareira.
Toda a Metafísica, inclusive sua contrapartida, o positivismo, fala a linguagem de Platão. A palavra fundamental de seu pensamento, isto é, a exposição do ser do ente, (…) -
Wrathall (2011:1-2) – des-encobrimento [Unverborgenheit]
19 de outubro, por Cardoso de Castro“Des-encobrimento” [Unconcealment], “Unverborgenheit”, foi um termo que entrou pela primeira vez na filosofia de Heidegger como uma tradução para a antiga palavra grega aletheia. A tradução mais comum de aletheia é “verdade” (Wahrheit em alemão), mas Heidegger optou por uma tradução literal: a-letheia significa literalmente “des-encoberto”. Ele fez isso porque acreditava que os primeiros gregos pensavam na “verdade” como uma questão primordial de “tornar disponível como não encoberto, como (…)
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Grassi (1999:95-97) – A dupla tese de Heidegger: fim da filosofia e primazia da linguagem poética
13 de outubro, por Cardoso de CastroTal vez parezca extraño que antes de hablar de los problemas de la tradición humanista me refiera a una de las doctrinas de Heidegger. En su conferencia El final de la filosofía y la tarea del pensar, Heidegger hace una afirmación sobre el «final de la filosofía». Su tesis es que «la filosofía finaliza en la época actual». Sin embargo, no se trata de un juicio negativo, pues Heidegger subraya que una época del pensamiento ha llegado a su conclusión final: «El final de la filosofía es el (…)
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Zimmerman (1982:231-233) – A liberdade não é um poder humano arbitrário
10 de dezembro de 2023, por Cardoso de Castrodestaque
Embora Heidegger tenha desenvolvido o conceito de Ereignis entre 1936 e 1938, as sementes desta ideia foram plantadas em Ser e Tempo e começaram a germinar no seu ensaio de 1930, "Sobre a Essência da Verdade". Aqui é-nos dito que a liberdade constitui a essência da verdade ou da revelação. A liberdade não é um poder humano arbitrário. Na sua obra posterior, Heidegger continuou a desenvolver a ideia de que a existência humana não é apenas para si própria, mas tem uma função (…) -
GA54: Estrutura da Obra
10 de fevereiro de 2017, por Cardoso de CastroTrad. brasileira Sérgio Mário Wrublevski
INTRODUÇÃO - MEDITAÇÃO PREPARATÓRIA COM O NOME E A PALAVRA ALETHEIA E SUA ESSÊNCIA CONTRÁRIA. DUAS INDICAÇÕES DA TRADUÇÃO DA PALAVRA ALETHEIA
§ 1. A deusa "Verdade". Parmênides I, 22-32
a) O conhecimento usual e o saber essencial. Renúncia da interpretação usual do "poema doutrinário" através da atenção para a exigência do princípio
Recapitulação
1) Início e princípio. O pensar usual e o pensar originado pelo princípio. O retraimento diante (…) -
Grassi (1999:107-109) – A "clareira" do bosque primordial
13 de outubro, por Cardoso de CastroAquí tenemos que interrumpir nuestra discusión de la tradición humanista y volver a nuestra cuestión originaria: el significado teórico y la importancia actual del humanismo, en particular en conexión con la tesis de Heidegger sobre el final de la filosofía.
Para resumir esta tesis una vez más, la metafísica tradicional ha de llegar hoy a un final porque comenzó con la cuestión del fundamento racional de lo que es. El lugar de la cuestión de la verdad lógica ha de ocuparlo, según explica (…) -
Davis (2007:40-42) – decisão [Entschlossenheit] é vontade?
5 de outubro, por Cardoso de CastroNão é difícil ouvir certos tons intencionais — se não de fato a melodia de um voluntarismo existencial puro e simples — na noção de “decisão” [Entschlossenheit] em passagens como a seguinte:
A presença [Dasein] decidida se liberta para seu mundo a partir daquilo em virtude de que o poder-ser se escolhe a si mesmo… De acordo com sua essência ontológica, a decisão é sempre decisão de uma determinada presença [Dasein] fática. A essência desse ente é sua existência. Decisão só “existe” (…) -
Richardson: First experience of the Being-question
28 de março de 2017, por Cardoso de CastroTraducción de Pablo Oyarzun Robles
English
The first question in your letter reads: "How are we properly to understand your first experience of the Being-question in Brentano?" "In Brentano." You have in mind the fact that the first philosophical text through which I worked my way, again and again from 1907 on, was Franz Brentano’s dissertation: On the Manifold Sense of Being in Aristotle (1862). On the title page of his work, Brentano quotes Aristotle’s phrase: to on legetai (…) -
GA15: ¿Qué significa "cuestión del ser"?
29 de janeiro de 2017, por Cardoso de CastroTraducción de Diego Tatián, publicada por Alción Editora, Córdoba, Argentina, 1995
¿Qué significa "cuestión del ser"? ¿Frage nach dem Sein? Cuando se dice "ser", esta palabra se comprende de antemano metafísicamente, es decir a partir de la metafísica. Ahora bien, en la metafísica y su tradición ser quiere decir: lo que determina al ente en cuanto ente; la cuestión del ser significa, pues, metafísicamente: cuestión del ente en cuanto ente; dicho de otro modo: cuestión del fundamento del (…) -
Beaufret (1992:24-26) – aletheia x veritas
19 de junho de 2023, por Cardoso de CastroUma das minhas primeiras questões a Heidegger foi: “Qual foi a dimensão que, na filosofia grega, desempenhava o papel disto que vai ser na filosofia kantiana a abertura do campo transcendental?” (a abertura do campo transcendental que é o olhar lançado sobre as coisas pelo “eu penso”). “Certamente, me dizia Heidegger, que deve mesmo haver algo na filosofia grega que desempenha este papel, que mantém aberto o horizonte; mas este algo não é o olhar lançado sobre as coisas pelo ‘eu penso’, este (…)
Notas
- Bret Davis (2007:40-42) – resoluteness and will
- Bret Davis (2007:xxx-xxxi) – being revealed as will
- Cortés & Leyte (GA5:Nota) – desocultamiento y desencubrimiento
- Ernildo Stein (2001:26-28) – ser-verdade como ser-descoberto
- GA14: questionar a "coisa ela mesma"
- GA36-37:134-135 – O problema da verdade é ilusório
- GA40:201-202 – substrato, subjacente, hypokeimenon
- GA54:17 – descobrimento (Entbergung)
- GA7:14 – τέχνη e έπιστήμη
- GA7:27 – Deus dos filósofos
- GA8:12 – Mythos e Logos
- GA9:189-191 – a liberdade possui o homem
- Galli (2005:xvii-xviii) – a linguagem humana é parabólica
- Graham Harman (2002:Intro) – encoberto e des-encoberto
- Greisch: Schuld
- Heidegger: Filosofia e Pensamento
- Lovitt: HERVORBRINGEN - BRING FORTH
- Lovitt: Vergessenheit - Oblivion
- Lovitt: Wahrheit
- McNeill (1999:11) – o extraordinário [Ungehere]