desencobrimento

gr. aletheuein
al. unverborgen, verbergen, bergen, Verbergung, Verborgenheit, Verborgenheit, Entborgenheit, Unverborgenheit (Entborgenheit, Enthülltheit, Entdecktheit, Erschlossenheit, erschliessen, schliessen, erschlossen, entdeckt, Enthüllen)

A pro-dução conduz do encobrimento para o desencobrimento (Unverborgenheit). Só se dá no sentido próprio de uma pro-dução, enquanto e na medida em que alguma coisa encoberta chega ao des-encobrir-se. Este chegar repousa e oscila no processo que chamamos de desencobrimento. Para tal, os gregos possuíam a palavra aletheia. (GA7CFS, pg. 16)

O que a essência da técnica tem a ver com desencobrimento? Resposta: tudo. Pois é no desencobrimento que se funda toda a pro-dução. (GA7CFS, pg. 17)

A técnica é uma forma de desencobrimento. Levando isso em conta, abre-se diante de nós todo um outro âmbito para a essência da técnica. Trata-se do âmbito do desencobrimento, isto é, da verdade. (GA7CFS, pg. 17)

O conhecimento provoca abertura. Abrindo, o conhecimento é um desencobrimento. Numa meditação especial (Aristóteles, Ética a Nicômaco, VI, c3 e 4), Aristóteles distingue episteme de techne e justamente no tocante àquilo que e ao modo em que ambas desencobrem. (GA7CFS, pg. 17)

Quem constrói uma casa ou um navio, quem funde um cálice sacrificial desencobre o a ser produzido nas perspectivas dos quatro modos de deixar-viger. Este desencobrir recolhe antecipadamente numa unidade o perfil e a matéria do navio e da casa numa coisa pronta e acabada e determina daí o modo da elaboração. O decisivo da techne não reside, pois, no fazer e manusear, nem na aplicação de meios mas no desencobrimento mencionado. É neste desencobrimento e não na elaboração que a techne se constitui e cumpre em uma pro-dução. (GA7CFS, pg. 18)

Técnica é uma forma de desencobrimento. A técnica vige e vigora no âmbito onde se dá descobrimento e desencobrimento, onde acontece aletheia, verdade. (GA7CFS, pg. 18)

O desencobrimento dominante na técnica moderna não se desenvolve, porém, numa pro-dução no sentido de poiesis. O desencobrimento, que rege a técnica moderna, é uma ex-ploração que impõe à natureza a pretensão de fornecer energia, capaz de, como tal, ser beneficiada e armazenada. (GA7CFS, pg. 19)

O desencobrimento que domina a técnica moderna, possui, como característica, o pôr, no sentido de explorar. (GA7CFS, pg. 20)

Extrair, transformar, estocar, distribuir, reprocessar são todos modos de desencobrimento. Todavia, este desencobrimento não se dá simplesmente. Tampouco, perde-se no indeterminado. Pelo controle, o desencobrimento abre para si mesmo suas próprias pistas, entrelaçadas numa trança múltipla e diversa. Por toda parte, assegura-se o controle. Pois controle e segurança constituem até as marcas fundamentais do desencobrimento explorador. (GA7CFS, pg. 20)

A palavra “dis-ponibilidade” se faz agora o nome de uma categoria. Designa nada mais nada menos do que o modo em que vige e vigora tudo que o desencobrimento explorador atingiu. (GA7CFS, pg. 21)

Quem realiza a ex-ploração que desencobre o chamado real, como dis-ponibilidade? Evidentemente, o homem. Em que medida o homem tem este desencobrir em seu poder? O homem pode, certamente, representar, elaborar ou realizar qualquer coisa, desta ou daquela maneira. O homem não tem, contudo, em seu poder o desencobrimento em que o real cada vez se mostra ou se retrai e se esconde. (GA7CFS, pg. 21)

Realizando a técnica, o homem participa da dis-posição, como um modo de desencobrimento. O desencobrimento em si mesmo, onde se desenvolve a dis-posição, nunca é, porém, um feito do homem, como não é o espaço, que o homem já deve ter percorrido, para relacionar-se, como sujeito, com um objeto. (GA7CFS, pg. 22)

O desencobrimento já se deu, em sua propriedade, todas as vezes que o homem se sente chamado a acontecer em modos próprios de desencobrimento. Por isso, desvendando o real, vigente com seu modo de estar no desencobrimento, o homem não faz senão responder ao apelo do desencobrimento, mesmo que seja para contradizê-lo. Quando, portanto, nas pesquisas e investigações, o homem corre atrás da natureza, considerando-a um setor de sua representação, ele já se encontra comprometido com uma forma de desencobrimento. Trata-se da forma de desencobrimento da técnica que o desafia a explorar a natureza, tomando-a por objeto de pesquisa até que o objeto desapareça no não-objeto da dis-ponibilidade. (GA7CFS, pg. 22)

Sendo desencobrimento da dis-posição, a técnica moderna não se reduz a um mero fazer do homem. (GA7CFS, pg. 22)

Chamamos aqui de com-posição (Ge-stell) o apelo de ex-ploração que reúne o homem a dispor do que se desencobre como dis-ponibilidade. (GA7CFS, pg 23)

Com-posição, “Gestell” significa a força de reunião daquele por que põe, ou seja, que desafia o homem a desencobrir o real no modo da dis-posição, como dis-ponibilidade. Com-posição (Gestell) denomina, portanto, o tipo de desencobrimento que rege a técnica moderna mas que, em si mesmo, não é nada técnico. (GA7CFS, pg. 24)

Na com-posição, dá-se com propriedade aquele desencobrimento em cuja consonância o trabalho da técnica moderna desencobre o real, como dis-ponibilidade. (GA7CFS, pg. 24)

A essência da técnica moderna põe o homem a caminho do desencobrimento que sempre conduz o real, de maneira mais ou menos perceptível, à dis-ponibilidade. Pôr a caminho significa: destinar. Por isso, denominamos de destino a força de reunião encaminhadora, que põe o homem a caminho de um desencobrimento. (GA7CFS, pg. 27)

No desafio da dis-posição, a com-posição remete a um modo de desencobrimento. Como modo de desencobrimento, a com-posição é um envio do destino. Destino, neste sentido, é também a pro-dução da poiesis.
O desencobrimento do que é e está sendo segue sempre um caminho de desencobrimento. O destino do desencobrimento sempre rege o homem em todo o seu ser mas nunca é a fatalidade de uma coação. (GA7CFS, pg. 27)

A liberdade rege o aberto, no sentido do aclarado, isto é, do desencoberto. A liberdade tem seu parentesco mais próximo e mais íntimo com o dar-se do desencobrimento, ou seja, da verdade. Todo desencobrimento pertence a um abrigar e esconder. Ora, o que liberta é o mistério, um encoberto que sempre se encobre, mesmo quando se desencobre. Todo desencobrimento provém do que é livre, dirige-se ao que é livre e conduz ao que é livre. A liberdade do livre não está na licença do arbitrário nem na submissão a simples leis. A liberdade é o que aclarando encobre e cobre, em cuja clareira tremula o véu que vela o vigor de toda verdade e faz aparecer o véu como o véu que vela. A liberdade é o reino do destino que põe o desencobrimento em seu próprio caminho. (GA7CFS, pg. 28)

Posto pelo destino num caminho de desencobrimento, o homem, sempre a caminho, caminha continuamente à beira de uma possibilidade: a possibilidade de seguir e favorecer apenas o que se desencobre na dis-posição e de tirar daí todos os seus parâmetros e todas as suas medidas. Assim, tranca-se uma outra possibilidade: a possibilidade de o homem empenhar-se, antes de tudo e sempre mais e num modo cada vez mais originário, pela essência do que se desencobre e seu desencobrimento, com a finalidade de assumir, como sua própria essência, a pertença encarecida ao desencobrimento.
Entre essas duas possibilidades, o homem fica exposto a um perigo que provém do próprio destino. Por isso, o destino do desencobrimento é o perigo em todos e em cada um de seus modos e, por conseguinte, é sempre e necessariamente perigo.
Em qualquer modo, em que o destino do desencobrimento exerça seu vigor, o desencobrimento, em que tudo é e mostra-se cada vez traz sempre consigo o perigo de o homem equivocar-se com o desencobrimento e o interpretar mal. (GA7CFS, pg. 28)

Do mesmo modo, em que a natureza, expondo-se, como um sistema operativo e calculável de forças pode proporcionar constatações corretas mas é justamente por tais resultados que o desencobrimento pode tornar-se o perigo de o verdadeiro se retirar do correto.
O destino do desencobrimento não é, em si mesmo, um perigo qualquer, mas o perigo. (GA7CFS, pg. 29)

Como destino, a com-posição remete ao desencobrimento do tipo da dis-posição. Onde esta domina, afasta-se qualquer outra possibilidade de desencobrimento. A com-posição encobre, sobretudo, o desencobrimento, que, no sentido da poiesis, deixa o real emergir para aparecer em seu ser. Ao invés, o pôr da ex-ploração impele à referência contrária com o que é e está sendo. Onde reina a com-posição, é o direcionamento e asseguramento da dis-ponibilidade que marcam todo o desencobrimento. Já não deixam surgir e aparecer o desencobrimento em si mesmo, traço essencial da dis-ponibilidade.
Assim, pois, a com-posição provocadora da ex-ploração não encobre apenas um modo anterior de desencobrimento, a pro-dução, mas também o próprio desencobrimento, como tal, e, com ele, o es paço, onde acontece, em sua propriedade o desencobrimento, isto é, a verdade. (GA7CFS, pg. 30)

A com-posição é um modo destinado de desencobrimento, a saber, o desencobrimento da ex-ploração e do desafio. Um e outro modo destinado é o desencobrimento da pro-dução, da poiesis. Esses modos não são, porém, espécies que, justapostas, fossem subsumidas no conceito de desencobrimento. O descobrimento é o destino que, cada vez, de chofre e inexplicável para o pensamento, se parte, ora num des-encobrir-se pro-dutor ora num des-encobrir-se explorador e, assim, se reparte ao homem. O desencobrimento explorador tem a proveniência de seu envio no descobrimento pro-dutor, ao mesmo tempo em que a com-posição depõe num envio do destino a poiesis. (GA7CFS, pg. 32)

Pois a com-posição é, de fato, segundo tudo que ficou dito, um envio, que reúne e concentra no desencobrimento da ex-ploração. E ex-ploração é qualquer coisa menos conceder. É o que parece enquanto não levarmos em conta que mesmo o desafio da ex-ploração, que leva dis-por-se do real, como dis-ponibilidade continua sendo sempre um envio que põe o homem no caminho de um desencobrimento. (GA7CFS, pg. 34)

Todo destino de um envio acontece, em sua propriedade, a partir de um conceder e como um conceder. Pois é a concessão que acarreta para o homem ter parte no desencobrimento, parte esta de que carece a aproximação do desencobrimento. Por ser assim encarecido, o homem se acha apropriado pela apropriação da verdade. A propiciação, que envia para o desencobrimento de uma maneira ou de outra, é o que salva, enquanto tal. Pois é o que salva que leva o homem a perceber e a entrar na mais alta dignidade de sua essência. Uma dignidade, que está em proteger e guardar, nesta terra, o desencobrimento e, com ele, já cada vez, antes, o encobrimento. (GA7CFS, pg. 34)

Questionando, porém, o modo em que a instrumentalidade vigora numa espécie de causalidade, faremos a experiência do que vige na técnica, como destino de um desencobrimento.
Pensando, por fim, que o vigente de toda essência se dá no que se concede e que este carece da participação do homem no des-encobrir-se do desencobrimento, então se mostra que:
A essência da técnica é de grande ambiguidade. Uma ambiguidade que remete para o mistério de todo desencobrimento, isto é, da verdade.
De um lado, a com-posição impele à fúria do dispor que destrói toda visão do que o desencobrimento faz acontecer de próprio e, assim, em princípio, põe em perigo qualquer relacionamento com a essência da verdade. (GA7CFS, pg. 35)

A questão da técnica é a questão da constelação em que acontece, em sua propriedade, em desencobrimento e encobrimento, a vigência da verdade. (GA7CFS, pg. 35)

A vigência da técnica ameaça o desencobrimento e o ameaça com a possibilidade de todo desencobrir desaparecer na dis-posição e tudo apresentar apenas no desencobrimento da dis-ponibilidade. (GA7CFS, pg. 36)

Outrora, não apenas a técnica trazia o nome de techne. Outrora, chamava-se também de techne o desencobrimento que levava a verdade a fulgurar em seu próprio brilho.
Outrora, chamava-se também de techne a pro-dução da verdade na beleza. Techne designava também a poiesis das belas-artes. No começo do destino ocidental na Grécia, as artes ascenderam às alturas mais elevadas do desencobrimento concedido. (GA7CFS, pg. 36)