Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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Duval (HZ:34-35) – guardião do Aí

sexta-feira 17 de fevereiro de 2017

— Ele é iluminado (erleuchtet) a partir "daquilo que" (erleuchtet) o abre para si mesmo: isso significa que ele é iluminado em si mesmo no que diz respeito ao mundo, iluminado não por outra coisa, mas de tal forma que ele (es) é para si mesmo a luz". (SZ  :132)

A natureza humana é, por definição, "luz". Luz que ilumina as coisas e os ambientes pela produção da Ideia de Mundo, do "mesmo" Mundo. Luz que ilumina porque ela é iluminada ela mesma por uma força silenciosa que é essa das energias selada do Mundo ele mesmo ad-vinda em e pela natureza humana à consciência de si. Luz iluminante porque iluminada. Mas luz obscura na medida em que é incapaz de formular "isto que" a produz, sabendo-se apenas produzida a produzir o conceito obscuro, conhecendo-se apenas capaz girar ao redor.

Claro-obscuro: verdadeira tradução de "Da", verdadeira compreensão da realidade humana na Panrealidade. O claro-obscuro da situação não subjetiva do ser humano, consciente apenas do extra de realidade por meio da qual a Panrealidade se torna consciência, torna-se realidade humana, antes de qualquer individualização do "fenômeno humano".

Essa situação pura implicaria, portanto, uma "desestruturação do eu", uma "volatilização do eu"?

O próprio Heidegger formula essa objeção em "Ser e Tempo":

— "Se a própria natureza do homem (das Selbst  ) é entendida apenas como uma modalidade da natureza (des Seins) deste Vivente (dieses Seienden  ), então parece que uma tal interpretação equivale a volatilizar o "núcleo" próprio à realidade humana (Dasein  ). Tais temores inspiram-se de fato do preconceito errôneo que este vivente problemático que é o homem não é, no fundo, senão uma realidade entre outras, mesmo se concordamos em retirar dele a massividade característica da coisa corporal. No entanto, é preciso dizer que a ’substância’ do ser humano não é o espírito enquanto síntese da alma e do corpo, mas a existência". (SZ:117)

Aqui, Heidegger se bate como um bom diabo para que o homem simplesmente renuncie a si mesmo; para que o ego   renuncie a acreditar nas pequenas seguranças de seus próprios limites; para que o "eu" renuncie a acreditar a isto que "ele" faz; a isto que "ele" pensa; para que o ser humano renuncie à ideia empobrecida que ele tem de si mesmo ou que seu inconsciente sócio-histórico o impele a ter de si mesmo; para que o ser humano descubra que ele é maior do que ele mesmo. Demandando ao ego que largue as amarras, este acredita que perderá tudo, já que, no final, só acredita em si mesmo na medida da imagem individualizada e relativa que seu inconsciente sócio-histórico-linguístico lhe dá de si mesmo. Agora, o ego deve reaprender que, ao perder a si mesmo, ele se encontrará, não na evidência clara de uma "natureza superior", mas no poder obscuro que acena na Ideia do Mundo, a Panrealidade que o deseja antes que ele mesmo tenha a ideia de desejá-la, de buscá-la. Permanecendo na origem que o sustenta, o ser humano se torna o guardião do Ser, "Da", simples e silenciosamente.


Ver online : Jean-François Duval