Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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Zimmerman (1982:202-203) – errância [Irre]

segunda-feira 30 de setembro de 2024

Dessa forma, ao clareá-los, o Ser deixa os entes à deriva na errância. Os entes passam a existir nessa errância pela qual eles contornam o Ser e estabelecem o reino do erro (no sentido do reino de um príncipe ou do reino da poesia). O erro é o espaço no qual a história se desenvolve. No erro, o que acontece na história contorna o que é como o Ser. Portanto, o que quer que se desenvolva historicamente é necessariamente mal interpretado…. A incapacidade do homem de ver a si mesmo corresponde à tendência de autovelamento da clareação do Ser. (GA9  :Hw  , 311/26)

A esta altura, sabemos que é enganoso dizer que o Ser “clareia” os entes, porque o Ser não é uma luz que brilha sobre os entes. Os entes se manifestam: O Ser sempre se refere ao Ser (não velamento) dos entes. Clarear os entes significa estabelecer uma clareira (Lichtung) ou ausência na qual eles possam se apresentar. Ser e Tempo   descreve essa clareira como êxtases temporais do Dasein humano. Mais tarde, Heidegger escreveu que a temporalidade humana é um aspecto de um “tempo-mundo” mais fundamental. O mundo ocidental é histórico porque o tempo-mundo tem se alterado continuamente, ou seja, a ausência necessária para a presença tem se tornado cada vez mais velada para nós. Como resultado, fixamos nossa atenção apenas nos entes, que agora parecem ser meros objetos para nós.

A passagem citada acima diz que os entes são lançados à deriva na “errância”, um termo que Heidegger usou já em 1930 em “Sobre a Essência da Verdade” [GA9  ]. Falar de errância não significa que um erro tenha sido cometido na história ou que a humanidade tenha sido reprovada em algum tipo de exame cósmico. O “erro” está no fato de que, enquanto apenas os entes forem revelados, e de uma maneira particular para cada época, e enquanto o Ser se velar, a humanidade não conseguirá ver que sua própria essência (Wesen, “modo de estar presente”) é a abertura para a manifestação dos entes. Quando Heidegger diz que “a incapacidade do homem de ver a si mesmo corresponde ao autovelamento da claridade do Ser”, quer dizer que nossa tendência ao autovelamento (queda) é análoga à tendência do Ser de se velar. De fato, nosso esquecimento em relação ao Ser não é falta nossa, mas acontece porque o Ser desapareceu de nossa vista. “A característica fundamental de presenciar [Anwesen] em si é determinada pelo fato de permanecer velado e não velado.” (GA7  :VA, III, 58/106-107) Em épocas anteriores, a humanidade estava destinada a ter um senso mais profundo do transcendente, mas na época atual esse senso desapareceu completamente.


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