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Marques Cabral (2017:62-64) – existência
quarta-feira 7 de fevereiro de 2024
No acontecimento do projeto forma-se mundo, isto é, no projetar eclode algo, algo abre-se para possibilidades e irrompe, assim, no real enquanto tal, para experimentar a si mesmo como irrupção, como realmente sendo em meio ao que agora pode ser aberto enquanto ente. O ente que chamamos ser-aí é o ente de um gênero originariamente próprio, um ente que irrompe para [62] ser. Deste ente, dizemos que ele existe, isto é, ex-sistit; que ele é na essência de seu ser um movimento para fora de si mesmo, sem, porém, abandonar a si [GA29-30 , § 75, p. 418].
O texto acima mostra claramente que o ser-aí existe porque ex-sistit. Existir é, portanto, ex-sistir, isto é, ser ou estar fora ou, como diz Heidegger: “ser um movimento para fora de si mesmo, sem, porém, abandonar a si”. Existir assinala primeiramente o fato de o ser-aí não ser fechado em si mesmo, ou seja, o ser-aí não é uma subjetividade solipsista, destituída de laços ontológicos para ser quem ele é. Antes, a ipseidade (o si mesmo) do ser-aí se dá em meio a uma abertura. Tal abertura, como ainda será mostrado, refere-se ao campo ou horizonte de mostração dos entes, que também é o horizonte de determinação da ipseidade existencial do ser-aí. Consequentemente, o estar fora de si do ser-aí não se identifica com anulação de si, mas ele é tão-somente o estar “arremessado” no horizonte onto-lógico de determinação e conquista de si. Esse âmbito ou horizonte de realização do ser-aí não está, por sua vez, previamente dado. Porquanto o ser-aí é “na essência de seu ser um movimento para fora de si mesmo”, o descerramento desse campo ontológico de realização da ipseidade do ser-aí responde pela própria formação do campo mencionado. O horizonte de determinação da existência do ser-aí, por seu turno, é aberto como correlato dessa mesma existência. Desse modo, o ser-fora-de-si do ser-aí “produz” ou forma o horizonte onde seu si próprio é conquistado. Disso se infere que, se o ser-aí necessita de um horizonte existencial aberto para determinar a si mesmo, então, seu ser não pode de modo algum possuir propriedades previamente dadas, o que equivale a dizer que o caráter existencial do ser-aí suspende todas as hipóstases metafísicas pensadas pela tradição para caracterizar essencialmente o homem. Por isso, Heidegger afirma:
”A essência do ser-aí consiste em sua existência”. Os caracteres que podem ser destacados deste não são, por conseguinte, [63] ‘propriedades’ simplesmente à vista de um ente simplesmente à vista, um tal ou qual ‘aspecto’, senão sempre modos de ser e somente isso. Todo modo de ser deste ente é primordialmente ser, por isso, o termo ser-aí com que designamos este ente, não expressa sua qualidade, como mesa, casa, árvore, mas sim o ser.” [ST, §9]
[MARQUES CABRAL , Alexandre. Heidegger em Bultmann : da destruição fenomenológica à desmitologização teológica. Rio de Janeiro : Via Verita, 2017]
Ver online : Alexandre Marques Cabral