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LDMH: Handeln - Agir
terça-feira 19 de dezembro de 2017
Segundo o Le Dicitionnaire Martin Heidegger, constata-se uma enorme pobreza na ordinária representação do “agir” como produção de um efeito (Wirkung), seja na exaltação do livre poder da vontade de fazer acontecer, seja no “acionamento”, colocação em operação de dispositivos técnicos. Esta representação nos impede de pensar em sua verdadeira amplitude o “agir” para o ser humano. Segundo Heidegger, a aparente evidência do que seja o agir, confundido com sua pobre representação, resulta de uma inflexão singular, denominada a “interpretação técnica do pensar”. Esta teria seu início, segundo Heidegger (GA9 , 314) já em Platão e Aristóteles , ou seja, na fonte do pensamento metafísico.
Atenção, no entanto: o sentido dado à ação, diz Heidegger, repousa em última instância sobre a interpretação do que é “pensar”. Mas aí onde a ação é concebida como produção de um efeito, esta relação não é mais visível., e nenhuma “filosofia da ação” pode retornar ao ponto decisivo. Só o trabalho de “destruição” do modo de pensamento metafísico, que toma forma em Ser e Tempo , permite liberar a via de uma outra compreensão do agir. Mais se avança nesta via, mais pensar e agir não cessam de se remeter um ao outro.
O pensamento é compreendido “tecnicamente” quando começa, em Platão , a ser entendido segundo a única perspectiva da visada que se inquire e se assegura do ente em seu ser, de sorte que tudo o que faz o ser humano não é mais apreensível senão como realização desta visada: como execução de um projeto pelos meios adequados. Assim se estabelece a dualidade para nós tornada familiar do conhecimento e da vontade, a vontade do “sujeito” sendo ela mesma concebida, inclusive compreendida quando ela é regida em testemunha de nossa superioridade sobre as coisas, a partir do modelo do efeito de um ente sobre um outro: a ideia da vontade é o obstáculo mais resistente a toda tentativa de compreender o sentido original do agir humano, pois este sentido só se faz um com a singularidade de um modo de ser, o nosso, que abre a possibilidade de se manter em uma relação ao ente em sua integralidade. Ora esta relação de abertura (Erschlossenheit = ouvertude) não aparece, em seu fenômeno próprio, senão resistindo a toda tentativa de conduzi-lo à algo de ente; e a fortiori à imagem de uma ação (Wirkung) sobre algo.
O sentido do agir humano, tal qual nasce a cada vez desta relação de abertura, é não reduzível à ideia de uma ação sobre algo: é a cada vez de maneira inteira o que temos a ser que se encontra em questão. O fenômeno essencial que aqui se desempenha (e ainda fala de maneira nítida na praxis grega, antes de sua tradução pelo latim agere não vem obstruir todo acesso a sua significação inicialmente não técnica) é aquele da facticidade.
A facticidade é nosso modo de ser: aquilo que faz nossa vida temos (de uma maneira que cabe a cada um descobrir) a isso responder no fazendo. O sentido deste “fazer” está aquém da efetuação. Pois todo gesto humano, toda iniciativa, e sem dúvida antes de tudo toda palavra, porta consigo esta possibilidade (que Heidegger nos convida a compreender como sua relação essencial à verdade) de responder a isto que nos olha e nos concerne, de sorte que nós lhe damos lugar em toda amplitude de sua manifestação. Esta possibilidade é, diz a Carta sobre o humanismo, o agir humano em seu vigor (Wesen). O ser humano é aquele que está sem cessar em instância de portar o que é a sua plenitude (Vollbringen) conduzindo-o a seu ser, e que, de pronto, está sempre sob a ameaça de deixar escapar uma tal possibilidade.
O foro mais próprio do agir, Heidegger o denomina com efeito: “deixar ser” (Seinlassen). Como explica o ensaio Gelassenheit (GA13 , 41), este “fazer no sentido mais alto” não pode mais ser pensado a partir da oposição do ativo e do passivo. A “ação primordial” (Urhandlung) do “deixar ser”, como diz Heidegger em um curso (GA27 , 183), revém a se comensurar à acolhida disto que, pelo fato mesmo que existimos, nos olha, para lhe acordar seu justo lugar. “Este “fazer mais alto” de onde surge como de uma fonte tudo o que na vida humana é verdadeiramente fecundo, é o sentido verdadeiro da liberdade humana, como Heidegger o diz pela primeira vez claramente na conferência de 1930 sobre a verdade (GA9 , 188): se engajar (sich einlassen) a isto que tudo aquilo que fazemos mantém aberta a dimensão onde o que é pode sempre de novo vir a si, o que supõe a tarefa, de maneira alguma passiva, de se liberar disto que nos desvia.
É assim que o pensamento “age enquanto pensa”, de um agir que é “o mais simples e o mais alto”. Fórmula ininteligível para quem permanece na representação do agir como produção de um efeito.
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