Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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LDMH: Dasein após Ser e Tempo

sábado 10 de junho de 2017

Incomparável, Dasein o é em primeiro lugar porque não é um ente, nem mesmo uma nova determinação do homem por relação a outros (alma, espírito, consciência, razão, etc.) precisa ainda Heidegger (GA66:95 – ser-aí (Da-sein)). É a escuta inteiramente nova de uma palavra que não é nova que é preciso então ensaiar de entender, em seguindo a escolha que fez Heidegger, "inabilmente e como pude", dirá em 1973 a Zähringen (breve), e certamente consciente, como ele o escreveu em uma passagem muito esclarecedora da "Introdução ao Que é a metafísica? ", "que a metafísica o emprega para o que é de hábito designado por existentia, realidade efetiva, realidade e objetividade e embora a expressão usual de menschliches Dasein emprega de ordinário a palavra em sua significação metafísica" (GA9:372-374 – Dasein; GA9  , 372).

De certa maneira, nada era mais arriscado do que chamar Dasein o que Heidegger buscou dizer no início dos anos 1920 em substituição à palavra Leben (vida) em sua acepção filosófica de não biológica), que Heidegger herdou de seu predecessores (notadamente Dilthey  ) e do qual não tarda a experimentar a insuficiência. O risco se dá pelo fato que o que Heidegger tenta dizer com a palavra Dasein se opõe precisamente à acepção habitual e metafísica do termo, a saber: a presença, seja no sentido grego disto que entra em presença à medida da physis, no sentido escolástico da existentia (por oposição a essentia), ou no sentido moderno da realidade efetiva. Cada uma destas formas de presença designa tanto modulações metafísicas disto que Heidegger denomina em Ser e Tempo  : die Vorhandenheit, o ser aí-diante (no sentido amplo do termo, que inclui aquele de Zuhandenheit, a utilizabilidade). Ser e Tempo   é a primeira obra da história da filosofia que tematiza a diferença ente o que é da ordem do Dasein (daseinmässig) e o que não decorre do ser do Dasein, a ponto de fazer desta diferença (que encontra ela mesma seu assento nesta outra diferença que é a cisma — Unterschied — da diferença ontológica) a ancoragem essencial da meditação. Após a "exposição da questão do sentido de ser", é portanto por uma "análise fundamental preparatória do Dasein" que começa Ser e Tempo   e é com o Dasein ainda que termina o livro permanecido inacabado.

Tudo parece assim claro: centrando seu propósito sobre uma analítica do Dasein, Ser e Tempo   é a primeira obra que dá direito em fim verdadeiramente à questão da existência do homem, ao passo que toda a metafísica desde Platão   não teria jamais posto a questão do homem senão por conta de uma ontologia categorial do ente aí-diante. Que a metafísica não ponha a questão do homem senão a partir de conceitos forjados para apreender a presença do ente aí-diante, o reino das categorias — esboçados por Platão   (Sofista 262d s.), definidos por Aristóteles  , repensados por Kant   ou Hegel   — o atesta suficientemente. Mas daí a deduzir, inversamente, que Heidegger funda a questão do sentido do ser sobre a existência do homem, há um salto… que Heidegger não dá, mas que fará, a partir dele o existencialismo. Poderíamos dizer plagiando Kant  , que, se para Heidegger a questão do sentido do ser começa COM a existência, ela não resulta por conseguinte inteiramente DE a existência. Mas o contrassenso existencialista repousa em realidade sobre um mal-entendimento a respeito do termo Dasein pura e simplesmente assimilado à realidade humana. É desta maneira também que Husserl  Ser e Tempo  , decepcionado por seu melhor aluno que ele crê a ponto de esboçar uma nova antropologia. (p. 301-302)


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