Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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Graham Harman (2007) – o "entre"

sexta-feira 25 de outubro de 2024

Para Heidegger, mundo não significa mais a unidade da natureza e da história, nem algo criado por Deus, nem mesmo a soma de todas as coisas presentes. Em vez disso, o mundo é uma convocação que relaciona mundo a coisa e coisa a mundo. Mundo e coisa não estão lado a lado como realidades separadas, mas interpenetram-se mutuamente. São unificados sem se fundirem, em um meio-termo que Heidegger chama de “o entre”. A linguagem nada mais é do que esse entre. O entre também é chamado de “a diferença”. Heidegger havia escrito anos antes sobre a diferença ontológica entre o ser e os entes específicos. Naquela época, como agora, o ser e os entes não estão separados, mas interpenetram-se mutuamente e encontram-se em um meio-termo.

Essa diferença sustenta o mundo em sua mundanidade e as coisas em sua coisidade. É nessa diferença que o mundo e a coisa se voltam um para o outro: a diferença é o evento no qual o mundo e a coisa correspondem um ao outro. Outras palavras-chave no poema de Trakl [GA12  ] são “dor” e “limiar”. A diferença entre o mundo e a coisa é o limiar onde eles se encontram. A dor é a rachadura que nos revela o rasgo que separa o mundo e a coisa um do outro. O chamado que ocorre na linguagem poética é a convocação da relação íntima entre mundo e coisa — e a verdadeira intimidade sempre exige que as coisas íntimas permaneçam distintas apesar de sua proximidade. Heidegger diz que a diferença abriga a coisa na calma do quádruplo. Continuando a desenvolver a estranha terminologia do ensaio [GA12  ], Heidegger diz que abrigar ou proteger algo nessa calma significa dar paz ou silêncio ao mundo e à coisa em sua relação um com o outro. A reunião pode ser referida como um “som”, que Heidegger (não surpreendentemente) distingue de toda transmissão de som presente. Juntando esses dois pensamentos, Heidegger diz que a linguagem fala porque a linguagem é o som do silêncio do quádruplo. Como o leitor já deve ter adivinhado, esse ensaio é geralmente considerado um dos mais estranhos de Heidegger.

[HARMAN, Graham. Heidegger Explained: From Phenomenon to Thing. Chicago, IL: Open Court, 2007]


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