Extrato de Alain Boutot, Introdução à Filosofia de Heidegger, 1993, p. 104-108
Alguns viram na interpretação heideggeriana da modernidade uma condenação sem apelo equivalente a uma rejeição pura e simples da técnica. Este modo de ver repousa, na realidade, sobre um mal-entendido tenaz que o próprio Heidegger não cessou de denunciar. O discurso heideggeriano não é dirigido contra a técnica e não prega um qualquer retorno à Idade Média ou mesmo à Idade da Pedra, o que seria ridículo, mas (…)
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Seele / seelisch
Seele / l’âme / alma / soul / psychisch / seelisch / psychique / psíquico / psychical
Se traduzirmos a palavra grega ψυχή por “alma”, então não poderemos pensar com esse termo nem o anímico no sentido de vivências, nem tampouco aquilo que sabemos estar na “consciência” do ego cogito, nem ainda o “inconsciente”. ψυχή visa em Aristóteles ao princípio das criaturas viventes como tais, aquilo que faz com que um vivente seja um vivente e que o transpassa de maneira dominante em sua essência. O tratado citado [περὶ ψυχῆς, Sobre a alma] discute a essência da vida e os estágios do vivente. O tratado não contém nenhuma psicologia, nem tampouco uma biologia. Ele é uma metafísica do vivente, à qual o homem também pertence. [GA6 -1MAC:51-52]
Aristóteles diz: "a alma (do homem) é, de certo modo, todo ente". (SZ 14)
LÉXICO DE FILOSOFIA
Matérias
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Boutot (1993:104-108) – O crescimento do que salva
17 de fevereiro de 2017, por Cardoso de Castro -
GA12:57-58 – melancolia da alma (Schwermut der Seele)
9 de dezembro de 2023, por Cardoso de CastroSchuback
A melancolia da alma só arde onde a alma se entrega à sua travessia pela vastidão mais vasta de sua essência viandante. Isso acontece ao visualizar de frente a face do azul e olhar o que dela brilha. Nesse olhar, a alma é a “alma grande”.
Ó dor, olhar inflamado Da alma grande!
A grandeza da alma mede-se pela maneira como o olhar consegue inflamar-se e pela qual a dor se torna familiar. A dor se deixa apropriar por uma essência invertida.
“Inflamando”, a dor dilacera. Seu (…) -
GA5:106-112 – sujeito - subiectum - hypokeimenon
5 de maio de 2017, por Cardoso de CastroExcerto de HEIDEGGER, Martin. Caminhos de Floresta. Coordenação Científica da Edição e Tradução Irene Borges-Duarte. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2002, p. 131-137]
Borges-Duarte
Como é que se chega, de todo, a que o ente se interprete, de um modo acentuado, como subjectum, e a que, consequentemente, o subjectivo alcance um domínio?
Pois até Descartes, e ainda dentro da sua metafísica, o ente é, na medida em que é um ente, um sub-jectum (ύπο-κείμενον), algo subjacente por si (…) -
GA36-37:217-218 – o que é o homem?
31 de maio de 2021, por Cardoso de CastroTERCEIRO CAPÍTULO - A questão sobre a essência da não-verdade
§ 29. O desaparecimento da experiência fundamental da αλήθεια e a necessidade de uma repetição transformada da questão da verdade
a) A questão sobre a essência da verdade como questão sobre a história da essência do homem
[HEIDEGGER, Martin. Ser e Verdade. 1. A questão fundamental da filosofia. 2. Da essência da verdade. Tr. Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis: Petrópolis, 2007, p. 224-225]
Carneiro Leão
É a questão do (…) -
Être et temps : § 12. Esquisse préparatoire de l’être-au-monde à partir de l’orientation sur l’être-à… comme tel.
9 de julho de 2011, por Cardoso de CastroVérsions hors-commerce:
MARTIN HEIDEGGER, Être et temps, traduction par Emmanuel Martineau. ÉDITION NUMÉRIQUE HORS-COMMERCE
HEIDEGGER, Martin. L’Être et le temps. Tr. Jacques Auxenfants. (ebook-pdf)
Au cours de nos élucidations préparatoires (§9), nous avons déjà discerné un certain nombre de caractères d’être, qui doivent jeter sur la suite de notre recherche une lumière sûre, mais n’obtiendront en même temps leur concrétion structurale que de cette recherche même. [53] Le Dasein est (…) -
GA56-57:31-33 – axioma
27 de novembro de 2021, por Cardoso de CastroHEIDEGGER, Martin. Vers une définition de la philosophie. Tr. Sophie-Jan Arrien et Sylvain Camilleri. Paris: Seuil, 2017 (ebook)
HEIDEGGER, Martin. Towards the Definition of Philosophy. Tr. Ted Sadler. London: Continuum, 2008
Arrien et Camilleri
Au fondement de tout connaître reposent ainsi (peu importe l’attitude que l’on adopte par ailleurs à l’égard des théories scientifiques et méthodologiques spécifiques) des concepts, des principes fondamentaux et des axiomes derniers, et ce, (…) -
GA55: Estrutura da Obra
11 de fevereiro de 2017, por Cardoso de CastroTrad. brasileira Marcia Schuback
A ORIGEM DO PENSAMENTO OCIDENTAL HERÁCLITO
Semestre de verão de 1943
Observação Preliminar - A filosofia como o pensamento próprio do a-se-pensar. A origem do pensamento "ocidental"
Introdução - Reflexão preparatória em torno do originário e da palavra
§1 Para introduzir a palavra de Heráclito, duas "estórias" a seu respeito
a) O pensamento de Heráclito na dimensão do fogo e da luta, e na proximidade do jogo
b) A palavra de Heráclito sob a (…) -
Safranski: Filosofia da Vida
14 de fevereiro de 2017, por Cardoso de CastroExcertos de Rüdiger Safranski, Heidegger. Trad. Lia Luft.
A filosofia da vida compreende-se como uma filosofia da vida no sentido do genitivo subjetivo: ela não filosofa sobre a vida, mas é a própria vida que filosofa nela. Como filosofia, ela quer ser um órgão dessa vida; quer intensificá-la, abrir-lhe novas formas e figuras. Não quer apenas descobrir quais valores valem, mas é suficientemente imodesta para querer criar valores novos, filosofia da vida é a variante vitalista do (…) -
Derrida (1987:32-36) – Geist
20 de junho de 2023, por Cardoso de CastroDo espírito é um título bem francês, exageradamente francês para fazer ouvir o geistige ou o geistliche do Geist. Mas justamente ouvir-se-á talvez melhor em alemão. Talvez, em todo o caso, sejamos mais corretamente sensíveis à sua germanidade se o deixarmos ressoar em uma língua estrangeira, para pô-lo à prova na tradução, ou antes, se pusermos à prova sua resistência à tradução, e se submetermos nossa língua à mesma prova.
[…]
Há, primeiro, a necessidade de uma explicação essencial, a (…) -
Être et temps : § 78. L’incomplétude de l’analyse temporelle précédente du Dasein.
17 de julho de 2014, por Cardoso de CastroVérsions hors-commerce:
MARTIN HEIDEGGER, Être et temps, traduction par Emmanuel Martineau. ÉDITION NUMÉRIQUE HORS-COMMERCE
HEIDEGGER, Martin. L’Être et le temps. Tr. Jacques Auxenfants. (ebook-pdf)
Afin de manifester que et comment la temporalité constitue l’être du Dasein, nous avons montré que l’historialité comme constitution d’être de l’existence est « en son fond » temporalité. L’interprétation du caractère temporel de l’histoire s’est accomplie sans égard pour le « fait » que (…) -
Être et temps : § 55. Les fondements ontologico-existentiaux de la conscience.
7 de janeiro de 2013, por Cardoso de CastroVérsions hors-commerce:
MARTIN HEIDEGGER, Être et temps, traduction par Emmanuel Martineau. ÉDITION NUMÉRIQUE HORS-COMMERCE
HEIDEGGER, Martin. L’Être et le temps. Tr. Jacques Auxenfants. (ebook-pdf)
L’analyse de la conscience prend pour point de départ un caractère d’abord indifférent de ce phénomène : d’une façon ou d’une autre, il donne quelque chose à comprendre. La conscience ouvre, et elle appartient pour cette raison à l’orbe des phénomènes existentiaux qui constituent l’être du (…) -
LDMH: Verstehen - entente
23 de maio de 2021, por Cardoso de Castro[ARJAKOVSKY, Philippe, FÉDIER, François & FRANCE-LANORD, Hadrien. Le Dictionnaire Martin Heidegger. Paris: CERF, 2013, p. 397-400]
Comme nombre de termes importants d’Être et temps, l’entente ou l’entendre – das Verstehen – a d’abord été employé par Heidegger pour traduire du grec, celui en particulier d’Aristote. Ainsi, dans cette sorte d’antichambre d’Être et temps que sont le Rapport Natorp (1922) et le cours de 1924-1925 sur le Sophiste à partir de l’Éthique à Nicomaque (GA19), (…) -
Haar (1990:9-13) – Homem e Dasein
5 de dezembro de 2023, por Cardoso de CastroAlves
O homem esteve durante muito tempo certo da sua essência: ele era um ser vivo dotado do logos, o animal racional. Pelo preço de um estranho desdobramento, mas tornado «evidente» pela força da banalização, a sua pertença à natureza estava incluída na sua definição. A tradição filosófica esforçou-se por resolver o melhor possível os conflitos entre o corpo e a alma, a sensibilidade e a razão, sem repor em questão a coabitação num só ser substancial destes princípios opostos. Assim, a (…) -
GA6T1:117-119 – corpo [Leib] e corpo [Körper]
20 de maio de 2023, por Cardoso de CastroTodo sentimento traz consigo uma corporificação afinada de tal ou tal maneira, uma tonalidade afetiva que se corporifica de tal ou tal maneira.
Casanova
[…] Onde fica o fisiológico, o elemento relativo ao estado corporal? Por fim, não podemos cindir as coisas de tal modo como se estivesse alocado em um pavimento inferior o estado corporal, e, em um outro superior, o sentimento. O sentimento como um sentir-se é, precisamente, a maneira como somos corporais; ser corporal não significa (…) -
GA36-37:214-215 – quem é o homem?
31 de maio de 2021, por Cardoso de CastroDA ESSÊNCIA DA VERDADE (1933/1934) §28
d) Para um ponto de partida legítimo da questão sobre a essência do homem
[HEIDEGGER, Martin. Ser e Verdade. 1. A questão fundamental da filosofia. 2. Da essência da verdade. Tr. Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis: Petrópolis, 2007, p. 221-222]
Carneiro Leão
De maneira totalmente esquemática, pode-se dizer: questionamos o homem. Tal é a questão-guia, que em todas nossas reflexões sobre o sentido temos de colocar, a questão sobre o homem (…) -
Mac Dowell: A fundamentação da metafísica através da fenomenologia da vida do espírito
11 de setembro de 2021, por Cardoso de CastroMAC DOWELL, João A.. A Gênese da Ontologia Fundamental de Martin Heidegger. São Paulo: Edições Loyola, 1993, p. 125-138
Ao radicalizar o método fenomenológico, Heidegger não visava senão adquirir um instrumento apto para a análise da historicidade, própria da vida da consciência. Tal fora a tarefa, prevista no seu programa, como meio para a restauração da metafísica. A indagação de Heidegger é coroada de êxito, enquanto ele descobre na “existencialidade” a perspectiva autêntica, que há de (…) -
Greisch (OT:176-178) – Befindlichkeit - Stimmung
22 de abril de 2021, por Cardoso de CastroGREISCH, Jean. Ontologie et temporalité. Paris: PUF, 1994, p. 176-178
nossa tradução
O primeiro existencial que vem concretizar a constituição do aí é o afeto (Befindlichkeit, Vezin traduz: disposibilité). Em alemão, a expressão sich befinden conota “encontrar-se” no sentido espacial (“encontro-me em Paris”), mas também no sentido de indicação de uma disposição interior: “encontrar-se” de bom ou mau humor, "sentir-se" "bem" ou "mal". Além do fato de que em 1924 Heidegger usou esse (…) -
GA22: Estrutura da Obra
3 de fevereiro de 2017, por Cardoso de CastroTrad. Germán Jiménez
ADVERTENCIAS PRELIMINARES
§ 1. Propósito y carácter del curso
§ 2. Determinación provisoria del concepto de filosofía en contraposición a las concepciones corrientes
§ 3. Determinación provisoria del objeto de la filosofía en contraposición a las ciencias positivas: la filosofía como ciencia crítica
§ 4. Función «crítica» de la filosofía como distinción y diferenciación de ente y ser
§ 5. Propósito y método del curso
§ 6. Las referencias más importantes (…) -
Gadamer: Reflection and Self-consciousness
30 de abril de 2017, por Cardoso de CastroExtract p. 277-279, translated by Peter Adamson and David Vessey, from Continental Philosophy Review 33: 275-287, 2000
Thus the structure of reflexivity returned to center stage in philosophy. “Reflection” and “reflexivity” are etymologically derived from the Latin expression reflexio, a familiar term in optics and mirroring. It could not have developed to its newer meaning, its natural meaning for us, before the emergence of the scholastic sciences. Originally it referred merely to the (…) -
Patocka (2002:4) – quando há o princípio vital pode o ente mostrar-se
11 de junho de 2023, por Cardoso de CastroO problema da aparição do ente foi formulado tentativamente por Aristóteles, em Peri psyches, 431b 20 e sgs. Para que as coisas apareçam, quer [13] dizer, para que a sua forma surja e se mostre, é necessário um ente de natureza particular, a saber, a psique, o princípio vital [Lebendigkeit]. Apenas quando há o princípio vital pode o ente mostrar-se. O princípio vital é, porém, a disposição activa para a obra de um corpo orgânico [Leib] não produzido, o qual está dotado de todas as coisas com (…)
Notas
- BH:xxviii – Being-There and Being-True
- Blanc: Que nós ainda não pensamos…
- Brisson & Pradeau (2002) – corpo e alma
- Franck (2014:11-13) – Descartes - o deslocamento que falsifica tudo
- GA18:100-101 – arete
- GA18:132-133 – pathos - psyche
- GA18:198-199 – thinking not an appeal to a brain process
- GA19 – agir - praxis
- GA19: Estrutura de exame dos modos de desvelamento
- GA19: verdade e ser-aí
- GA19:22-23 – a alma desvela
- GA19:38-39 – πρᾶξις - ação
- GA19:59-60 – νοῦς e διανοεῖν
- GA20: Ciências naturais, psicologia e consciência (15-16)
- GA24:8-10 – Jaspers - Weltanschauung
- GA26:20-21 – questão fundamental sobre o homem
- GA33: a habilidade está no cérebro?
- GA4:144-145 – Gemüt - coração
- GA54:217-218 – olho e visão
- GA64:111 – O que meço ao medir o tempo?