A Monadologia quer elucidar o ser do ente (Sein des Seienden). Por isso é preciso adquirir, seja por que via for, uma ideia exemplar de ser (exemplarische Idee des Seins). Ela foi encontrada ali, onde algo semelhante ao ser se [419] manifesta imediatamente ao que questiona filosoficamente. Nós nos relacionamos com o ente, a ele nos reduzimos e nele nos perdemos, por ele somos dominados e possuídos. Mas nós não nos relacionamos apenas com o ente, somos, ao mesmo tempo, nós mesmos, ente. Nós o somos e isto não de maneira indiferente, mas de tal maneira que justamente nosso próprio ser nos importa. É por isso que — prescindindo de outras razões — de certa maneira é sempre o próprio ser de quem questiona, o fio condutor, assim também no projeto da Monadologia. O que aí chega a se revelar certamente permanece inquestionado sob o ponto de vista ontológico.
A constante presença do próprio ser-aí (eigene Dasein), da constituição ontológica (Seinsverfassung) e do modo de ser do próprio eu (Seinsart des eigenen Ich), dá a Leibniz o modelo para a unidade (Einheit) que atribui a cada ente. Isto transparece em várias passagens. A clara visão com relação a este fio condutor é de importância decisiva para a compreensão da Monadologia.
“De plus, par le moyen de l’âme ou forme, il y a une véritable unité qui répond à ce qu’on appelle ΜΟΥ en nous; ce qui ne sauroit avoir lieu ni dans les machines de l’art, ni dans la simple masse de la matière, quelque organisée qu’elle puisse estre; qu’on ne peut considerer que comme une armée ou un troupeau, ou comme un étang plein de poissons, ou comme une montre composée de ressorts et de roues” (Systeme Nouveau, § 11).
“Ademais, por meio da ‘alma’ ou da ‘forma’ há uma unidade verdadeira que corresponde ao que em nós se denomina ‘EU’; mas tal não se encontra nem nas máquinas artificiais nem na simples massa da matéria, esteja ela organizada como quiser. Pois mesmo então deve ser considerada apenas como um exército ou um rebanho, ou como um aquário cheio de peixes ou como um relógio composto de molas e engrenagens.”
(Heidegger, Coleção Pensadores, tr. Ernildo Stein CPSH)