Ernildo Stein
Entretanto, a indicação de uma conexão essencial entre a verdade como conformidade e a liberdade abala esses preconceitos, suposto, evidentemente, que estejamos dispostos para uma transformação do pensamento. A meditação sobre a conexão essencial entre a verdade e a liberdade leva-nos a perseguir a questão acerca da essência do homem segundo uma perspectiva que nos garantirá a experiência de um fundamento essencial oculto do homem (do ser-aí), e isto de tal modo, com efeito, que essa meditação nos transporta primeiramente para o âmbito no qual a essência da verdade se essencializa originariamente. Também a partir desse fundamento se mostrará: a liberdade só se mostra como o fundamento da possibilidade interna da conformidade, porque recebe a sua própria essência da essência mais originária da única [200] verdade essencial. A liberdade foi primeiramente determinada como liberdade para aquilo que é manifesto de um aberto. Como é preciso pensar esta essência da liberdade? O manifesto ao qual se adequa a enunciação representativa enquanto algo conforme é o ente respectivamente aberto em um comportamento patentemente aberto. A liberdade em face do que se manifesta no interior do aberto deixa que cada ente seja o ente que ele é. A liberdade revela-se, então, como o que deixa-ser [1] o ente.
Falamos ordinariamente de “deixar” quando, por exemplo, nos abstemos de uma tarefa que nos havíamos proposto. “Deixamos algo ser” significa: não tocamos mais nisto e com isto não mais nos preocupamos. “Deixar” tem aqui, então, o sentido negativo de desviar a atenção de algo, de renunciar a…; exprime uma indiferença ou mesmo uma omissão.
A palavra aqui necessária para expressar o deixar-ser do ente não visa, entretanto, nem uma omissão nem uma indiferença, mas o contrário delas. Deixar-ser significa entregar-se ao ente [2]. Isto, todavia, não deve ser compreendido apenas como simples ocupação, proteção, cuidado ou planejamento de cada ente que se encontra ou que se procurou. Deixar-ser o ente – a saber, como o ente que ele é – significa entregar-se ao aberto e à sua abertura, na qual todo ente entra e permanece, e que cada ente traz, por assim dizer, consigo. Esse aberto foi concebido pelo pensamento ocidental, desde o seu início, como τὰ ἀληθέα, o desvelado. Se traduzimos a palavra ἀλήθεια por “desvelamento”, em lugar de “verdade”, essa tradução não é somente mais “literal”, mas ela compreende a indicação de repensar mais originariamente a noção corrente de verdade como conformidade do enunciado, no sentido, ainda incompreendido, do caráter de ser desvelado e [201] do desvelamento do ente. O entregar-se ao caráter de ser desvelado não quer dizer perder-se nele, mas se desdobra em um recuo diante do ente, a fim de que este se manifeste naquilo que é e como é, de tal modo que a adequação representativa dele receba a medida. Como um tal deixar-ser, ele se expõe ao ente enquanto tal e transpõe todo o comportamento para o aberto. O deixar-se, isto é, a liberdade, é, em si mesmo exposição ao ente, isto é, ek-sistente. A essência da liberdade, entrevista à luz da essência da verdade, aparece como ex-posição ao ente enquanto ele tem o caráter de desvelado.
Waelhens & Biemel
Cependant, l’indication d’une relation essentielle entre la vérité comme conformité et la liberté ébranle ces préjugés, pourvu toutefois que nous soyons disposés à une volte-face de la pensée. La réflexion sur ce lien essentiel entre la vérité et la liberté nous amène à poursuivre le problème de l’essence de l’homme, selon une perspective qui va nous garantir l’expérience d’un fondement [3] caché de celui-ci (du Dasein), et cela de telle manière que cette réflexion nous fasse passer d’emblée [175] dans le domaine où l’essence de la vérité s’épanouit originellement. De là, il se découvrira pareillement : la liberté n’est le fondement de la possibilité intrinsèque de la conformité que parce qu’elle reçoit sa propre essence de l’essence plus originelle de la seule vérité vraiment essentielle.
La liberté a été déterminée d’abord comme liberté à l’égard de ce qui est manifeste au sein de l’ouvert. Comment faut-il penser cette essence de la liberté? Le révélé (ce qui est manifeste), auquel se rend adéquat le jugement apprésentatif en tant qu’il est conforme, est l’étant tel qu’il se manifeste pour et par un comportement ouvert. La liberté vis-à-vis de ce qui se révèle au sein de l’ouvere laisse l’étant être l’étant qu’il est [4]. La liberté se découvre à présent comme ce qui laisse-être l’étant.
On parle ordinairement de « laisser » [5] lorsque par exemple nous nous abstenons d’une entreprist que nous avions projetée. Nous « laissons cela » signifie que nous n’y touchons plus et cessons de nous en préoccuper. « Laisser » a ici le sens négatif de « se détourner de… », de « renoncer à… »; il exprime une indifférence ou même une omission.
Le mot qui est ici nécessaire pour rendre le laisser-être de l’étant ne vise cependant ni l’omission ni l’indifférence mais leur contraire. Laisser-être signifie « s’adonner à l’étant ». Ceci ne doit pas être compris comme une simple façon de manier, de conserver, de prendre soin, d’organiser l’étant rencontré ou recherché. Laisser-être l’étant — à [176] savoir, comme l’étant qu’il est — signifie s’adonner à l’ouvert et à son ouverture, dans laquelle tout étant entre et demeure (hereinsteht) et que celui-ci apporte, pour ainsi dire, avec lui. Cet ouvert, la pensée occidentale l’a conçu à son début comme τὰ άληθέα, le non-voilé [6]. Lorsque nous traduisons ἀλήθεια par « non-voilement », au lieu de le traduire par « vérité », cette traduction n’est pas seulement plus « littérale », mais elle comprend l’indication de repenser plus originellement la notion courante de vérité comme conformité de l’énoncé au sens, encore incompris, du caractère d’être dévoilé (Entborgenheit) et du dévoilement de l’étant (Entbergung). S’adonner au premier (c’est-à-dire au caractère d’être dévoilé), ce n’est pas se perdre en lui mais déployer un recul devant l’étant, afin qu’il se manifeste en ce qu’il est et comme il est, de sorte que l’adéquation apprésentative puisse prendre mesure sur lui. Pareil laisser-être signifie que nous nous exposons à l’étant comme tel et que nous transposons dans l’ouvert tout notre comportement. Le laisser-être, c’est-à-dire’ la liberté, est en lui-même ex-position à l’étant, il est ek-sistant. L’essence de la liberté, vue à la lumière de l’essence de la vérité, apparaît comme ex-position [à l’étant] en tant qu’il a le caractère d’être dévoilé.
Original
Aber der Hinweis auf den Wesenszusammenhang zwischen der Wahrheit als Richtigkeit und der Freiheit erschüttert diese Vormeinungen, gesetzt freilich, daß wir zu einer Wandlung des Denkens bereit sind. Die Besinnung auf den Wesenszusammenhang zwischen Wahrheit und Freiheit bringt uns dahin, die Frage nach dem Wesen des Menschen in einer Hinsicht zu verfolgen, die uns die Erfahrung eines verborgenen Wesensgrundes des Menschen (des Daseins) verbürgt, so zwar, daß sie uns zuvor in den ursprünglich wesenden Bereich der Wahrheit versetzt. Von hier aus zeigt sich aber auch: die Freiheit ist nur deshalb der Grund der inneren Möglichkeit der Richtigkeit, weil sie ihr eigenes Wesen aus dem ursprünglicheren Wesen der einzig wesentlichen Wahrheit empfängt. Die Freiheit wurde zunächst als Freiheit für das Offenbare eines Offenen bestimmt. Wie ist [188] dieses Wesen der Freiheit zu denken? Das Offenbare, dem sich ein vorstellendes Aussagen als richtiges angleicht, ist das jeweils in einem offenständigen Verhalten offene Seiende. Die Freiheit zum Offenbaren eines Offenen läßt das jeweilige Seiende das Seiende sein, das es ist. Freiheit enthüllt sich jetzt als das Seinlassen [7] von Seiendem.
Gewöhnlich sprechen wir vom Seinlassen, wenn wir z.B. von einem geplanten Unternehmen abstehen. »Wir lassen etwas sein«, heißt: wir rühren nicht mehr daran und machen uns dabei nicht weiter zu schaffen. Das Seinlassen von etwas hat hier den verneinenden Sinn des Absehens von etwas, des Ver-zichtens auf etwas, der Gleichgültigkeit und gar der Unterlassung.
Das hier nötige Wort vom Sein-lassen des Seienden denkt jedoch nicht an Unterlassung und Gleichgültigkeit, sondern an das Gegenteil. Sein-lassen ist das Sicheinlassen auf dasSeiende [8]. Dies wird freilich wiederum nicht nur als bloße Betreibung, Behütung, Pflege und Planung des jeweils begegnenden oder aufgesuchten Seienden verstanden. Seinlassen – das Seiende nämlich als das Seiende, das es ist – bedeutet, sich einlassen auf das Offene und dessen Offenheit, in die jegliches Seiende hereinsteht, das jene gleichsam mit sich bringt. Dieses Offene hat das abendländische Denken in seinem Anfang begriffen als τὰ ἀληθέα,das Unverborgene. Wenn wir ἀλήθεια statt mit »Wahrheit« durch »Unverborgenheit« übersetzen, dann ist diese Übersetzung nicht nur »wörtlicher«, sondern sie enthält die Weisung, den gewohnten Begriff der Wahrheit im Sinne der Richtigkeit der Aussage um- und zurückzudenken in jenes noch Unbegriffene der Entborgenheit und der Entbergung des Seienden. Das Sicheinlassen auf die Entborgenheit des Seienden verliert sich nicht in dieser, sondern entfaltet sich zu einem Zurücktreten [189] vor dem Seienden, damit dieses in dem, was es ist und wie es ist, sich offenbare und die vorstellende Angleichung aus ihm das Richtmaß nehme. Als dieses Sein-lassen setzt es sich dem Seienden als einem solchen aus und versetzt alles Verhalten ins Offene. Das Sein-lassen, d. h. die Freiheit ist in sich aus-setzend, ek-sistent. Das auf das Wesen der Wahrheit hin erblickte Wesen der Freiheit zeigt sich als die Aussetzung in die Entborgenheit des Seienden.