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Fédier (2012:43-45) – ação [Handeln]

segunda-feira 25 de novembro de 2024, por Cardoso de Castro

« Wir bedenken das Wesen des Handelns noch lange nicht entschieden genug [1] »

Nesta frase, a palavra que imediatamente nos alerta é o substantivo Handeln, aqui no genitivo. Das Handeln é a palavra que retoma aquilo a que, no texto de Berne-Joffroy que Beaufret   tinha enviado a Heidegger, se chamava “ação” [2] Em francês, desde a Idade Média que a ação se opõe à contemplação [que é a transposição para a atmosfera escolástica do par aristotélico πρᾶξις — θεωρία].

No programa da classe terminal, há um capítulo intitulado: “Conhecimento e ação”: trata-se da velha distinção de Aristóteles entre θεωρία e πρᾶξις. Mas é aqui que tudo se complica, porque a ação e a contemplação são aqui mutuamente exclusivas. Ora acontece que Aristóteles entende a πρᾶξις como o género do qual a θεωρία é a espécie suprema: o mais fundamental, o mais realizado da πρᾶξις é a θεωρία. O conhecimento é uma πρᾶξις [Ver energeia].

Handeln está, em suma, muito próximo do inglês to handle, cujo significado primário é treat, manage. A ideia é compreensível se tivermos em conta que esta palavra deriva da palavra para a mão humana. A mão humana — die Hand — é o que nos permite “tomar em mão”. Tomar em mão é muito mais do que o gesto de um órgão; implica, antes de mais, uma inclinação de qualquer tipo, um interesse, depois uma preocupação e, finalmente, um comércio com aquilo que se toma em mão.

“Ter comércio com” significa ‘viver com’. Ter comércio com alguém é ter relações e, sobretudo, trocas. O curioso é que das Handeln também significa “comércio” no sentido mais econômico do termo. O significado de das Handeln inclui o comércio como uma forma particularmente intensa de troca. Vender e comprar é uma forma de treat e manage (não deve ser entendido a partir de “tratar” e “manejar”, e ainda menos a partir de “manejo”), porque é preciso tratar bem os clientes, tratá-los bem: dá-se-lhes um pouco mais para que voltem sempre.

Handeln pode ser traduzido como “agir”? A resposta é tão simples quanto decepcionante: como não há outra forma de traduzir, somos obrigados a recorrer a este termo totalmente inadequado. [Nota: na nossa língua, esta palavra, curiosamente, está rodeada de ecos e ressonâncias que vão no sentido oposto ao seu significado original. É assim que a língua compensa as suas insuficiências.

[…]

Etimologicamente, “agir” é o latim ago, agere = “conduzir, impulsionar para a frente” [ler o artigo ago, agere” em Les Mots latins de P. Martin. ἀγω, em grego é “conduzir”. O “ped-agogo” era o escravo encarregado de conduzir as crianças à escola].


Ver online : François Fédier


FÉDIER, François. L’humanisme en question: Pour aborder la lecture de la “Lettre sur l’humanisme” de Martin Heidegger. Paris: Les Éditions du Cerf, 2012


[1Roger Munier traduz: “Ainda não pensamos suficientemente de forma decisiva sobre a essência da ação. »

[2Ver André Berne-Joffroy, Présence de Valéry, Paris, Plon, 1944, p. 221 f. À primeira vista, o intelectual pode parecer tão inútil para o Estado como o poeta ou o jogador de bowling. Mas se olharmos para a gênese de toda a organização social, o que encontramos na origem senão pensadores? Será que os fanáticos da ação social contestam a origem intelectual dessa ação? […] O mundo atual está cheio de consequências de Sócrates, de Jesus e de Descartes.