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Cordonnier: ser do ente
quinta-feira 9 de junho de 2016
A fim de compreender isto que ser significa, em sua paradoxal aliança de familiaridade e de estranheza, deve-se distingui-lo do ente, particularmente invasivo. O (ente) (isso que participa ao ser) nomeia toda coisa que se encontra no mundo, que nos faz face com suas propriedades, fiáveis ou pelo menos referíveis, quer se trate de um lápis, de uma montanha ou de um pássaro. O (ser), quanto a ele, faz ser o ente, constitui isto pelo que o ente é isto que é, mas não é ele mesmo nada de ente e logo nada de (outro), não é ele mesmo nada: simples surgência na presença, ele porta os entes, maravilha o homem e permanece no entanto inacessível.
Ora, a metafísica falseia esta diferença ontológica entre o ser (do ente) e o ente, reduzindo-a à oposição entre a essência (constante e conhecível) e a existência (efêmera e inapreensível). Ela se desvia da surgência do ser para melhor a rebater sobre isto que, nela, se mantém o mais eficazmente sob o olhar humano: a (presença) que resiste à passagem dos entes como uma espécie de ente eminente. Também a questão diretora da ontologia não é finalmente senão: "O que é o ente?" E a presença, que não caracteriza senão o ente, vem, segundo Heidegger, disto que se define o ser a partir do (tempo), mas compreendendo ele mesmo unilateralmente como (presente). Trata-se portanto de alcançar a uma apreensão mais originária do tempo e do ser.
(CORDONNIER, Vincent, Heidegger. Paris: Quintette, 1995, p. 4.)
Ver online : HyperHeidegger