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Caron (2005:782) – Jemeinigkeit e senso interno
sexta-feira 15 de dezembro de 2023
tradução
Por outro lado, o ser-sempre-meu [Jemeinigkeit], tal como é exposto no § 9 de Sein und Zeit , não representa qualquer sentimento de ordem psicológica. "O Dasein é sempre meu": isto não significa que o local do seu desdobramento seja o senso interno através do qual nos experimentamos na nossa individualidade. Pelo contrário, qualquer senso interno só é possível na associação operada pelo Dasein entre uma integridade biológica que sou enquanto vivente, e o fato que, como relação ao ser, posso aparecer enquanto eu: só então nasce o senso interno, possibilitado pela pré-compreensão ontológica; nasce quando esta totalidade viva aparece em sua presença a um si mesmo que se identifica com ela e identifica cada sensação com o fato que isto aí são suas sensações. O ser-sempre-meu aplica-se então ao corpo, e neste fenômeno de senso interno encontramo-nos perante o conluio em um de dois fenômenos: o Dasein liga-se a um ente, neste caso a um corpo; e este ente a que se liga, sendo o seu corpo, torna-se para ele um ser insigne na medida em que o sente a cada momento. Relaciona assim a transcendência, que não é nada de ente, com um ente que, enquanto tal, lhe permanece o mais próximo entre os entes. O senso interno nasce da identificação entre o que vejo e o que sinto. O psicologismo que faz dele o princípio nasce do fato de o "eu sinto" se tornar o princípio do "eu penso", esquecendo que o "sentir-se a si mesmo" só é possível num tal grau de intensidade porque este ente, que sinto e que é meu corpo, apareceu, graças à relação ao ser que permite que um ente surja diante dos meus olhos, como o ente privilegiado que está ligado a mim. O senso interno que se tornou um princípio é o esquecimento do fato de que só posso sentir meu corpo como meu porque não estou confinado, como o animal, aos limites deste corpo. Quando o si mesmo se centra nos seus estados, nas suas experiências, na sua interioridade, está precisamente a centrar-se em si próprio. A introspecção só é possível porque é precedida de um espectro, de um ver, porque há um aparecimento de um ente, de meu corpo, de meu eu, contra o fundo de um horizonte prévio de manifestação. A introspecção só é possível porque já estamos sempre noutro lugar que não aquele que visamos nela. Este estado de coisas torna possíveis certas experiências-limite, como a muito instrutiva contada por Cioran neste aforismo: "Sou distinto de todas as minhas sensações. Não consigo perceber como. Nem sequer consigo perceber quem as experimenta. E, além disso, quem é esse eu no início das três proposições? [Cioran, Œuvres, p. 1645].
Original
D’autre part, la mienneté, telle qu’elle est exposée au § 9 de Sein und Zeit , ne représente aucun sentiment d’ordre psychologique. « Le Dasein est toujours mien » : cela ne signifie pas que le site de son déploiement soit le sens interne par lequel nous nous éprouvons en notre individualité. Au contraire, tout sens interne n’est possible que dans l’association opérée par le Dasein entre une intégrité biologique que je suis en tant que vivant, et le fait que, comme rapport à l’être, je puisse m’apparaître en tant que moi : alors seulement naît le sens interne, rendu possible par la précompréhension ontologique ; il naît quand cette totalité vivante apparaît en sa présence à un soi qui s’identifie avec elle et qui identifie chaque sensation avec le fait que ce sont là ses sensations. L’être-sien s’applique alors au corps, et dans ce phénomène qu’est le sens interne, nous nous trouvons face à la collusion en un de deux phénomènes : le Dasein s’attache à un étant, en l’occurrence à un corps ; et cet étant auquel il s’attache étant son corps, devient pour lui un étant insigne en ce que je le sens à chaque instant. Je rapporte ainsi la transcendance, qui n’est rien d’étant, à un étant qui comme tel demeure celui qui m’est le plus proche parmi les étants. Le sens interne naît de l’identification entre ce que je vois et ce que je sens. Le psychologisme qui le met au principe naît de ce que le « je sens » devient principe du « je pense », oubliant que le « se sentir » n’est possible à un tel degré d’intensité que parce que cet étant, que je sens et qui est mon corps, est apparu, grâce au rapport à l’être qui permet de faire surgir sous mes yeux un étant, comme l’étant privilégié qui m’est attaché. Le sens interne devenu principe, c’est l’oubli du fait que je ne peux sentir mon corps comme mien que parce que je ne suis pas cantonné comme l’animal aux limites de ce corps. Quand le soi se centre sur ses états, sur ses vécus, sur son intériorité, précisément il se centre ; c’est donc qu’il était préalablement à l’extérieur. L’introspection n’est possible que parce que la précède une spection, un voir, parce qu’il y a apparaître d’un étant, de mon corps, de mon moi, sur le fond d’un horizon préalable de manifestation. L’introspection n’est réalisable que parce que nous sommes toujours déjà ailleurs que ce que nous visons en elle. Cet état de choses rend possible certaines expériences limites, comme celle très instructive que relate Cioran en cet aphorisme : « Je suis distinct de toutes mes sensations. Je n’arrive pas à comprendre comment. Je n’arrive même pas à comprendre qui les éprouve. Et d’ailleurs qui est ce je au début des trois propositions ? » [ClORAN, Œuvres, p. 1645].
CARON , Maxence. Pensée de l’être et origine de la subjectivité. Paris: CERF, 2005.
Ver online : Maxence Caron