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NIETZSCHE I [GA6T1]

GA6T1:498-499 – vontade de verdade (Willen zur Wahrheit)

A VONTADE DE PODER COMO CONHECIMENTO

domingo 3 de maio de 2020, por Cardoso de Castro

Se uma vontade de verdade é, contudo, vital para a nossa “vida”, e se, porém, vida significa elevação da vida, uma “realização” cada vez mais elevada da vida e, com isso, uma vitalização do real, então a verdade se transforma, se ela é apenas “ilusão”, “imaginação”, ou seja, algo irreal, em desrealização, em obstáculo, em suma, em aniquilação da vida.

Casanova

Se o pensamento nietzschiano da vontade de poder é o pensamento fundamental de sua filosofia e da metafísica ocidental, então a essência do conhecimento, isto é, a essência da verdade, precisará ser determinada a partir da vontade de poder. A verdade contém e oferece o que é, o ente em meio ao qual o próprio homem é um ente; e, com efeito, de tal modo que ele se relaciona com o ente. Por isso, em todo comportamento, o homem se mantém de alguma maneira junto ao verdadeiro. A verdade é aquilo a que o homem aspira, aquilo a partir do que ele exige que ela reine em tudo o que faz e deixa de fazer, em tudo o que deseja e presenteia, experimenta e configura, sofre e supera. Fala-se de uma "vontade de verdade".

Porque o homem se comporta como ente em relação ao ente na totalidade, sempre explorando e arranjando aí para si a cada vez um domínio do ente, e, nesse domínio, este e aquele ente particular, a verdade é, ao mesmo tempo, requerida, valorizada e honrada de maneira explícita e implícita. Por isso, poderíamos conceber a essência metafísica do homem com a seguinte sentença: o homem é aquele que honra e, consequentemente também, aquele que renega a verdade. Assim, como que por meio do brilho repentino de um raio, a concepção nietzschiana da verdade é esclarecida com uma expressão sobre a veneração da verdade. Em uma anotação oriunda de 1884, na qual a figura do pensamento da vontade de poder começa a se tornar consciente, Nietzsche   observa: "que a veneração da verdade já é a consequência de uma ilusão". (A vontade de poder, n. 602)

O que é dito com isso? Nada menos do que: a verdade mesma é uma “ilusão” – uma miragem. Pois somente nesse caso a veneração da verdade pode ser a consequência de uma “ilusão”. Se uma vontade de verdade é, contudo, vital para a nossa “vida”, e se, porém, vida significa elevação da vida, uma “realização” cada vez mais elevada da vida e, com isso, uma vitalização do real, então a verdade se transforma, se ela é apenas “ilusão”, “imaginação”, ou seja, algo irreal, em desrealização, em obstáculo, em suma, em aniquilação da vida. Dessa forma, a verdade não é nenhuma condição da vida, nenhum valor, mas um não valor.

Mas o que acontece então quando todas as barreiras entre a verdade e a não verdade são derrubadas e tudo passa a vigorar na mesma medida, isto é, tudo se torna igualmente nulo? Nesse caso, o niilismo se torna realidade. Ora, Nietzsche   quer o niilismo ou quer conhecê-lo como tal e superá-lo? Ele quer a superação do niilismo. Por conseguinte, caso a vontade de verdade deva pertencer à vida, a verdade certamente não pode, uma vez que a sua essência permanece uma ilusão: ser o valor supremo. Precisa haver um valor, uma condição de elevação perspectivística da vida, que tenha mais valor do que a verdade.

De fato, Nietzsche   diz

“que a arte possui mais valor do que a verdade” (n. 853, IV; 1887-1888).

Klossowski

Si la pensée de la Volonté de puissance est la pensée fondamentale de la métaphysique nietzschéenne et la dernière de la métaphysique occidentale, c’est alors à partir de la Volonté de puissance qu’il convient de déterminer l’essence de la connaissance, soit l’essence de la vérité. La vérité contient et donne de telle sorte ce qui est, l’étant, au milieu duquel l’homme lui-même est un étant, que l’homme se rapporte toujours à l’étant. C’est pourquoi dans tous ses comportements l’homme s’en tient au vrai d’une manière quelconque. La vérité est ce à quoi l’homme aspire, ce dont il exige que cela règne dans tout ce qu’il fait ou qu’il omet de faire, dans tout ce qu’il désire, dans tout ce qu’il donne de plein gré, dans tout ce qu’il éprouve et dans tout ce qu’il forme, dans tout ce qu’il souffre, comme dans tout ce qui lui permet de vaincre. On parle ainsi d’une « volonté de vérité ».

[389] Parce que c’est en tant qu’un étant que l’homme se comporte eu égard à l’étant dans sa totalité, et qu’à chaque fois, dans chacun des domaines de celui-ci, il s’occupe et prend soin de tel ou tel étant particulier, à cause de cela aussi la vérité y est exigée explicitement ou implicitement, appréciée et respectée. Pour cette raison on pourrait définir l’essence métaphysique de l’homme par la proposition suivante : L’homme est l’être qui respecte la vérité mais qui à cause de cela même la nie. De ce fait, la conception de la vérité chez Nietzsche   se voit soudain éclairée de façon fulgurante par un mot qu’il donne sur le respect de la vérité. Dans une notation de l’année 1884, où commence à se former consciemment la pensée de la Volonté de puissance, Nietzsche   remarque :

« que le respect de la vérité est déjà la conséquence d’une illusion » (La Volonté de puissance, n° 602).

Que dit-il par là? rien de moins que ceci : la vérité même est une « illusion » – un mirage; car ce n’est que s’il en est ainsi, que le respect de la vérité peut être la conséquence d’une illusion. Or, si dans notre « vie » une volonté de vérité est sans doute vivante, mais que d’autre part la vie signifie intensification de vie, soit telle réalisation plus haute de la vie, et de la sorte, vivification du réel, alors la vérité si elle n’est qu’ « illusion », « imagination », donc « irréalité », n’aura d’autre effet que de déréaliser, d’entraver, même d’anéantir la vie. La vérité ne sera plus une condition de la vie, ni une valeur, mais une non-valeur. Mais qu’arrivera-t-il si toutes les limites entre le vrai et le faux disparaissent et que tout vaille également, c’est-à-dire vaille également rien? C’est alors que le nihilisme devient la réalité. Nietzsche   veut-il le nihilisme ou veut-il uniquement l’identifier pour le surmonter? c’est ce qu’il veut en effet. Par conséquent si la volonté] de vérité devait appartenir à la vie, la vérité même pour autant que son essence demeure illusion, ne saurait assurément pas constituer la suprême valeur. Il faut donc qu’il y ait une valeur, une condition de l’intensification perspectiviste de la vie qui soit plus valable que la vérité.

Nietzsche   dit en effet :

« que l’art a plus de valeur que la vérité » (n° 853, IV ; 1887-1888). [GA6T1FR  :388-389]

Krell

If Nietzsche  ’s thought of will to power is the fundamental thought of his metaphysics and the last thought of Western metaphysics, then the essence of knowledge, that is, the essence of truth, must be defined in terms of will to power. Truth contains and grants that which is, grants beings in the midst of which man himself is a being, in such a way that he relates to beings. Thus in all relating man somehow keeps to what is true. Truth is what man strives for, it is that of which he demands that it dominate all action and letting be, all wishing and giving, experiencing and shaping, suffering and overcoming. One speaks of a “will to truth.”

Because man as a being relates to beings as a whole and thus pursues and takes care of a realm of beings, and within it this or that particular being, truth is both expressly and tacitly demanded, valued, and honored. Thus one could formulate the metaphysical essence of man in the following statement: Man is the one who honors, and consequently also the one who denies, truth. Nietzsche  ’s understanding of truth is thus illuminated – as though by a sudden flash of lightning – by a statement he makes about honoring truth. In a note from the year 1884, when the formation of the thought of will to power consciously begins, Nietzsche   remarks “that honoring truth is already the consequence of an illusion” (WM, 602). What does this say? Nothing less [25] than that truth itself is an “illusion,” a mirage; for only if that is true can honoring truth be the consequence of an “illusion.” Yet if a will to truth is vital to our “life,” and if life is enhancement of life, the ever higher “realization” of life and thus the vitalizing of what is real, and if truth is only “illusion,” “imagination,” thus something unreal, truth becomes a de-realization, a hindrance to and even a destruction of life. Truth is then not a condition of life, not a value, but an unvalue.

But what if all barriers between truth and untruth fall and everything is of equal value, which is to say, of no value? Then nihilism becomes reality. Does Nietzsche   want nihilism or does he precisely want to recognize it as such and overcome it? He wants to overcome it. If, accordingly, the will to truth belongs to life, then truth, since its essence is illusion, cannot be the highest value. There must be a value, a condition of perspectival life-enhancement, that is of greater value than truth. Indeed Nietzsche   does say “that art is worth more than truth” (WM, 853, IV; from 1887-88).” [GA6T2EN  :24-25]

Original

Wenn Nietzsches Gedanke des Willens zur Macht der Grundgedanke seiner und der letzte Gedanke der abendländischen Metaphysik ist, dann wird das Wesen der Erkenntnis, d.h. das Wesen der Wahrheit, aus dem Willen zur Macht bestimmt werden müssen. Die Wahrheit enthält und gibt das, was ist, das Seiende, inmitten dessen der Mensch selbst ein Seiender ist, so zwar, daß er sich zum Seienden verhält. In allem Verhalten hält sich deshalb der Mensch in irgendeiner Weise an das Wahre. Die Wahrheit ist jenes, wonach der Mensch strebt, wovon er fordert, daß es in allem Tun und Lassen, Wünschen und Schenken, Erfahren und Gestalten, Leiden und Uberwinden herrsche. Man spricht von einem »Willen zur Wahrheit«.

Weil der Mensch als ein Seiender zum Seienden im Ganzen sich verhält und dabei je einen Bereich des Seienden und darin jeweils dieses und jenes besondere Seiende betreibt und besorgt, wird die Wahrheit ausgesprochen und unausgesprochen gefordert, geschätzt und verehrt. Daher könnte man das metaphysische Wesen des Menschen in den Satz fassen: Der Mensch ist der Verehrer und demzufolge aber auch der Verleugner der Wahrheit. Nietzsches Auffassung der Wahrheit wird deshalb wie durch die plötzliche Leuchte eines Blitzes ins Helle gestellt mit einem Wort, das er über die Verehrung der Wahrheit sagt. In einer Aufzeichnung aus dem Jahre 1884, in dem die Gestaltung des Gedankens vom Willen zur Macht bewußt beginnt, vermerkt Nietzsche  :

»daß die Verehrung der Wahrheit schon die Folge einer Illusion ist« (»Der Wille zur Macht«, n. 602).

Was wird damit gesagt? Nichts Geringeres als: die Wahrheit selbst ist eine »Illusion« — eine Vorspiegelung; denn nur, wenn es so steht, kann die Verehrung der Wahrheit die Folge einer »Illusion« sein. Wenn aber in unserem »Leben« ein Wille zur Wahrheit lebendig ist, Leben aber Lebens Steigerung, je und je höhere »Verwirklichung« des Lebens und somit Verlebendigung des Wirklichen bedeutet, dann wird die Wahrheit, wenn sie nur »Illusion«, »Einbildung«, also Unwirkliches ist, zu einer Entwirklichung, zur Hemmung, ja zur Vernichtung des Lebens. Wahrheit ist dann keine Bedingung des Lebens, kein Wert sondern ein Unwert.

Wie aber, wenn alle Schranken zwischen Wahrheit und Unwahrheit fallen und alles gleichviel gilt, d. h. gleich nichtig ist? Dann wird der Nihilismus zur Wirklichkeit. Will Nietzsche   den Nihilismus, oder will er ihn gerade als solchen [499] erkennen und überwinden ? Er will die Überwindung. Sollte demnach der Wille zur Wahrheit zum Leben gehören, dann kann die Wahrheit, sofern ihr Wesen Illusion bleibt, allerdings nicht der oberste Wert sein. Es muß einen Wert geben, eine Bedingung der perspektivischen Lebenssteigerung, der mehr wert ist als die Wahrheit.

In der Tat sagt Nietzsche  :

»daß die Kunst mehr wert ist, als die Wahrheit« (n. 853 IV; 1887/88).


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