Nihilismus, nihilisme, niilismo, nihilism, nihilismo
Nietzsche emprega a palavra “niilismo” como o nome para o movimento histórico por ele reconhecido pela primeira vez que já transpassava de maneira determinante os séculos precedentes e que determina o seu próximo século, um movimento cuja interpretação essencial ele concentra na sentença resumida: “Deus está morto.” Essa sentença quer dizer: o “Deus cristão” perdeu o seu poder sobre o ente e sobre a definição do homem. O “Deus cristão” é ao mesmo tempo a representação diretriz para o “supra-sensível” em geral e para as suas diversas interpretações, para os ideais e para as normas, para os “princípios” e as “regras”, para as “finalidades” e os “valores” que são erigidos “sobre” o ente a fim de “dar” ao ente na totalidade uma meta, uma ordem e – como se diz de maneira sucinta – um “sentido”. Niilismo é aquele processo histórico por meio do qual o domínio do “supra-sensível” se torna nulo e caduco, de tal modo que o ente mesmo perde o seu valor e o seu sentido. Niilismo é a história do próprio ente: uma história por meio da qual a morte do Deus cristão vem à tona de maneira lenta, mas irremediável. Pode ser que ainda se acredite nesse Deus e que ainda tomemos seu mundo por “real”, “eficaz” e “normativo”. Isso é similar àquele (23) processo por meio do qual o brilho de uma estrela que se apagou há milênios continua reluzindo, mas permanece, contudo, uma mera “aparência” com essa sua refulgêncía. Com isso, o niilismo não é, para Nietzsche, de maneira alguma um ponto de vista “defendido” por uma pessoa qualquer, nem tampouco um “dado” histórico arbitrário entre muitos outros, que se pode documentar historiograficamente. O niilismo é muito mais aquele acontecimento apropriativo de longa duração, no qual a verdade sobre o ente na totalidade é transformada essencialmente e é impelida para um fim por ela determinado. (GA6T2MAC:22-23)
O niilismo no sentido de Nietzsche significa: que todas as metas desapareceram. Nietzsche tem em vista aqui as metas que crescem em si e que transformam o homem (para onde?). O pensar em “metas” (o há muito tempo mal interpretado τέλος dos gregos) pressupõe a ιδέα e o “idealismo”. Por isto, apesar de sua essencialidade, essa interpretação “idealista” e moral do niilismo permanece provisória. Se tivermos em vista o outro início, o niilismo precisa ser concebido de maneira mais fundamental como a consequência essencial do abandono do ser. (GA65 §72)
VIDE: (Nihilismus->http://hyperlexikon.hyperlogos.info/modules/lexikon/search.php?option=1&term=Nihilismus)
Nihilismus vem do latim nihil, “nada”. Literalmente diz “nadismo”. Denota, em geral, mais a rejeição da tradição, autoridade e princípios morais e religiosos do que a afirmação de que absolutamente nada existe. Heidegger faz uma breve história do termo (GA6I, 31ss/N4, 3ss): ele foi usado filosoficamente pela primeira vez por Jacobi, em sua Carta a Fichte (1799), que chamou de nihilismus o idealismo de Fichte. Em sua Vorschule der Ästhetik (Propedêutica para a estética), Jean Paul chamou a poesia romântica de “niilismo” poético. Turgeniev popularizou o termo em Pais e filhos (1862), onde Bazarov o aplica à sua própria posição: apenas o que é sensorialmente perceptível é real, ao passo que a tradição e a autoridade devem ser rejeitadas — uma posição chamada frequentemente de “positivismo”. Dostoievski elogiou Puchkin pela sua descrição dos niilistas russos desenraizados.
Heidegger considera o “niilismo” um dos cinco “termos-chave” do pensamento de Nietzsche (GA6I, 31ss/N4, 3ss). Os outros são: “vontade de poder”, “eterno retorno do mesmo”, “o super-homem” e “transvaloração dos valores” (ou “justiça”, NII, 314ss/N3, 234ss). Para Nietzsche, o niilismo é mais do que uma doutrina adotada por alguns radicais, distinguindo-se do positivismo. Trata-se de “movimento histórico”, que afeta a “história ocidental” e que pode ser resumido na frase: “Deus está morto”. O Deus cristão perdeu seu poder sobre os entes e o destino humano. E como uma estrela morta há muito tempo, mas que continua a brilhar ilusoriamente (GA6I, 33/N4, 4). Os resultados de uma “desvalorização dos valores mais elevados”, que surge do que Nietzsche chama de “colapso dos valores cosmológicos” são (Vontade de poder, nos 148-151): o universo não tem “sentido (Sinn)” ou “finalidade”. Não possui “unidade” ou “totalidade”; não há “totalidade de entes” para dar ao homem seu valor: “O niilismo refere-se à posição do homem em meio aos entes como um todo, o modo como o homem vem a relacionar-se com os entes enquanto tais, e como forma e afirma tanto este relacionamento como a si mesmo” (GA6I, 62s/N4, 29). Não há “mundo verdadeiro” acima deste mundo do devir, não há lugar para verdades e valores eternos, não havendo, portanto, ” verdade”. A “causa” do niilismo — e, portanto, o começo da sua longa e complexa história — é a moralidade platônica e cristã, “a colocação dos ideais supra-sensíveis de verdade, bem e beleza, válidos ‘em si mesmos’” (GA6I, 279/N3, 206). (DH)