Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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Schürmann (1982:77-78) – Husserl explora questões que são decididamente metafísicas

segunda-feira 18 de dezembro de 2023

destaque

Tomando a descoberta da temporalidade extática, não hesitamos em concordar com o veredito de Heidegger: "Husserl   explora questões que são decididamente metafísicas". [Continuidade metafísica do tempo, e não descontinuidade existencial; preeminência do presente, e não do futuro; retenção e protenção, e não "ter-sido" e "vir-a-ser"; corrente temporal (Zeitstrom), e não o triplo "fora de si" dos êxtases: estas são algumas das oposições que se é tentado a marcar entre Husserl e Heidegger. À primeira vista, porém, não há nada de metafísico no esforço husserliano para reduzir a atitude natural e quotidiana à descrição das essências dos objetos ou das experiências do mundo. Trata-se de um recuo do conhecido para as suas possibilidades, para os atos geradores e formativos do pensamento, um recuo que não envolve qualquer procura de um mundo [77] meta ta physika, para além das coisas sensíveis. Um recuo que, no entanto, assegura uma origem estável para o conhecimento. Que estabilidade é essa? E porque é que a atitude natural é qualificada de pré-filosófica, se não por desconhecer a sua própria origem, por carecer de um fundamento sólido? Ela é colocada entre parênteses para descobrir como os objetos do entendimento vêm à existência, como podem ser ativamente constituídos e auto-evidentes ao mesmo tempo. A disputa entre Heidegger e Husserl joga-se na compreensão do tempo que permite essa colocação entre parêntesis e que preside à redução do olhar natural, bem como à intuição das essências. Para analisar o surgimento dos objetos, o pensamento husserliano afasta-se do empírico, para melhor ver os conteúdos a priori. Será que esta análise escapa ao que Ser e Tempo   chama o domínio do ser subsistente e a temporalidade que constitui este domínio: a presença constante?

original

A le mesurer à la découverte de la temporalité extatique, on n’hésitera pas à s’accorder avec le verdict de Heidegger : «Husserl explore des questions décidément métaphysiques. » [VS 111 /Q IV 311] Continuité métaphysique du temps, et non pas discontinuité existentiale ; prééminence du présent, et non pas de l’avenir; rétention et protention, et non pas « ayant-été » et « à-venir » ; courant temporel (Zeitstrom), et non pas le triple « hors de soi » des extases : telles sont quelques-unes des oppositions qu’on est tenté de marquer entre Husserl et Heidegger. A première vue, pourtant, rien de métaphysique dans l’effort husserlien de réduire l’attitude naturelle, quotidienne, à la description des essences d’objets ou d’expériences dans le monde. Recul du connu vers ses possibilités, vers des actes de pensée générateurs et formateurs, recul dans lequel n’entre aucune recherche d’un monde [77] meta ta physika, au-delà des choses sensibles. Recul qui, cependant, assure une origine stable au savoir. Qu’en est-il de cette stabilité? Et pourquoi l’attitude naturelle est-elle qualifiée de pré-philosophique, sinon parce qu’elle est ignorante de sa propre origine, qu’elle manque d’assise solide? Elle est mise entre parenthèses afin de découvrir comment naissent les objets de l’entendement, comment ils peuvent être en même temps constitués activement et donnés dans l’évidence. Le contentieux entre Heidegger et Husserl se joue dans la compréhension du temps qui permet une telle mise entre parenthèses et qui préside à la réduction du regard naturel, ainsi qu’à l’intuition des essences. Pour analyser la naissance des objets, la pensée husserlienne recule devant l’empirique pour mieux voir les contenus a priori. Cette analyse échappe-t-elle à ce que Être et Temps appelle le domaine de l’être subsistant et à la temporalité qui constitue ce domaine : la présence constante ?

[SCHÜRMANN, Reiner. Le Principe d’anarchie. Heidegger et la question de l’agir. Paris: Seuil, 1982]


Ver online : Reiner Schürmann