Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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GA7:35-36 – onde mora o perigo

sábado 16 de maio de 2020

Carneiro Leão

Outrora, não apenas a técnica trazia o nome de τέχνη. Outrora, chamava-se também de τέχνη o desencobrimento [Entbergen] que levava a verdade a fulgurar em seu próprio brilho.

Outrora, chamava-se também de τέχνη a pro-dução da verdade na beleza [Hervorbringen des Wahren in das Schöne]. Τέχνη designava também a ποίησις das belas-artes.

No começo do destino [Geschick] ocidental na Grécia, as artes ascenderam às alturas mais elevadas do desencobrimento concedido [gewährten Entbergens]. Elas faziam resplandecer a presença dos deuses e o encontro entre o destino de deuses e homens. A arte chamava-se apenas τέχνη. Era um des-encobrir-se único numa multiplicidade de desdobramentos. A arte era piedade, πρόμος, isto é, integrada na regência e preservação da verdade [Walten und Verwahren der Wahrheit].

As artes não provinham do artístico. As obras de arte não provocavam prazer estético. A arte não era setor de uma atividade cultural.

Mas, então, como era a arte? Talvez somente por poucos anos, embora anos sublimes? Por que a arte tinha o nome simples e singelo de τέχνη? Porque era um des-encobrir pro-dutor [her-und vor-bringendes Entbergen] e pertencia à ποίησις. O último des-velo, que atravessa toda arte do belo [Kunst des Schönen], era ποίησις, era poesia.

O mesmo poeta [Hölderlin  ], de quem escutamos a palavra da salvação:

“Ora, onde mora o perigo é lá que também cresce o que salva”,

nos diz ainda:

"… poeticamente o homem habita esta terra”.

É o poético que leva a verdade ao esplendor superlativo que, no Fedro, Platão   chama de tò ἐκφανέστατον, “o que sai a brilhar da forma superlativa”. O poético atravessa, com seu vigor, toda arte, todo desencobrimento do que vige na beleza.

Será que as belas-artes são convocadas ao des-encobrir poético? Será que o desencobrimento há de reivindicá-las mais originariamente para que fomentem, por sua parte, o crescimento do que salva, para que despertem e instaurem em nova forma, a visão e a confiança no que se concede e outorga? [GA7CFS:36-37]

Original

Einstmals trug nicht nur die Technik den Namen τέχνη. Einstmals hieß τέχνη auch jenes Entbergen, das die Wahrheit in den Glanz des Scheinenden hervorbringt.

Einstmals hieß τέχνη auch das Hervorbringen des Wahren in das Schöne. Τέχνη hieß auch die ποίησις der schönen Künste.

Am Beginn des abendländischen Geschickes stiegen in Griechenland die Künste in die höchste Höhe des ihnen gewährten Entbergens. Sie brachten die Gegenwart der Götter, brachten die Zwiesprache des göttlichen und menschlichen Geschickes zum Leuchten. Und die Kunst hieß nur τέχνη. Sie war ein einziges, vielfältiges Entbergen. Sie war fromm, προμος, d.h. fügsam dem Walten und Verwahren der Wahrheit.

Die Künste entstammten nicht dem Artistischen. Die Kunstwerke wurden nicht ästhetisch genossen. Die Kunst war nicht Sektor eines Kulturschaffens.

Was war die Kunst? Vielleicht nur für kurze, aber hohe Zeiten? Warum trug sie den schlichten Namen τέχνη? Weil sie ein her-und vor-bringendes Entbergen war und darum in die ποίησις gehörte. Diesen Namen erhielt zuletzt jenes Entbergen als Eigennamen, das alle Kunst des Schönen durchwaltet, die Poesie, das Dichterische.

Der selbe Dichter, von dem wir das Wort holten:

»Wo aber Gefahr ist, wächst Das Rettende auch.«

sagt uns:

»… dichterisch wohnet der Mensch auf dieser Erde.«

Das Dichterische bringt das Wahre in den Glanz dessen, was Platon   im »Phaidros« τὸ ἐκφανέστατον nennt, das am reinsten Hervorscheinende. Das Dicherische durchwest jede Kunst, jede Ent-bergung des Wesenden ins Schöne.

Sollten die schönen Künste in das dichterische Entbergen gerufen sein? Sollte das Entbergen sie anfänglicher in den Anspruch nehmen, damit sie so an ihrem Teil das Wachstum des Rettenden eigens hegen, Blick und Zutrauen in das Gewährende neu wecken und stiften? (p. 35-36)

[Excerto de HEIDEGGER, Martin. Ensaios e Conferências. Tr. Emmanuel Carneiro Leão  , Gilvan Fogel   e Marcia Schuback  . Petrópolis: Vozes, 2002, p. 36-37)


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