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GA4:38-40 – Somos uma conversação…
domingo 3 de março de 2024
Pellegrini Drucker
Deparamo-nos com esta sentença em meio a um esboço longo e intricado para um poema inacabado, que começa por “Ó conciliante, tu que, já não crido…” (IV, 162 ss., 339 ss.):
Muito aprendeu o homem, dos Celestiais muitos nomeou, desde que somos um colóquio e podemos ouvir um dos outros. (IV, 343.)
Destacaremos destes versos, em primeiro lugar, o que se refere de imediato ao contexto de que se trata até aqui: “desde que somos um colóquio…”. Nós — os homens — somos uma conversa. O ser do homem se funda na língua, mas esta acontece, antes de tudo e propriamente, na conversa. Esta não é apenas uma maneira de a língua se consumar; melhor dizendo, somente enquanto conversa a língua é essencial. O que de resto queremos dizer com “língua”, a saber, um estoque de palavras e regras para a junção de palavras, é apenas um primeiro plano da língua. O que significa agora “conversa”? Manifestamente, o falar uns com os outros sobre algo. Por isso, a fala é o intermediário para o encontro de uns com os outros. Só que Hölderlin diz: “Desde que somos um colóquio e podemos ouvir um dos outros”. O poder ouvir não é apenas uma consequência do falar uns com os outros. O oposto é bem antes o caso: poder ouvir é pressuposto pelo falar. Por sua vez, o poder ouvir também é remetido em si mesmo e novamente à possibilidade da palavra, e precisa da palavra. Poder falar e poder ouvir são igualmente originários. Nós somos uma conversa — isto quer dizer: nós podemos ouvir um dos outros. Nós somos uma conversa — isto quer dizer, ao mesmo tempo e sempre: nós somos uma conversa. A unidade desta conversa consiste em que o Um e Mesmo se anuncia na palavra essencial em redor da qual nos unimos e com base na qual estamos unidos e somos nós mesmos em sentido próprio. O conversa e sua unidade carregam o nosso estar-aí.
Mas Hölderlin não diz simplesmente “nós somos um colóquio”, mas antes: “desde que somos um colóquio”. Onde a faculdade da língua humana está disponível à mão e assim é exercida, não se dá sem mais, o acontecimento essencial da língua — o diálogo. Desde quando somos uma conversa? Se deve haver uma conversa, a [49] palavra essencial deve se referir ao Um e Mesmo. Sem esta referência também é impossível uma disputa verbal, e por essa razão. O Um e Mesmo só podem, contudo, se manifestar à luz de algo permanente e constante. Constância e permanência só vêm a aparecer quando a persistência e a presença brilham. Isso acontece no instante em que o tempo se abre nas suas extensões. [1] Uma vez que o homem se instalar na presença de algo permanente, poderá se expor assim, pela primeira vez, ao mutável, ao que vem ao seu encontro e se retira; pois somente o permanente é mutável. Só quando o “tempo devorador” se divide em presente, passado e futuro subsiste a possibilidade de unir-se em tomo de algo permanente. Unia conversa somos nós, desde o tempo em que “o tempo é”. Desde que o tempo surgiu e permaneceu, nós somos históricos. Ambos têm a mesma idade — ser uma conversa e ser histórico cada um implica o outro e ambos são o mesmo.
Desde que somos um colóquio — o homem experimentou muito e deu nome a muitos deuses. Desde que a língua acontece propriamente como conversa, os deuses vêm à palavra e um mundo aparece. Contudo, cabe novamente considerar: a presença dos deuses e o aparecer do mundo não são antes de tudo uma consequência do acontecimento da língua, mas antes lhes são simultâneos. E isto é tanto mais verdadeiro conforme a conversa que somos, em sentido próprio, consiste em nomear os deuses e no tornar-se palavra do mundo.
Os deuses, porém, só podem chegar a ser ditos, então, se eles mesmos nos dirigirem a palavra e nos interpelarem. A palavra que nomeia os deuses é sempre uma resposta a tal exigência. Esta resposta brota, a cada vez, da responsabilidade de um destino. Conforme os deuses trazem à língua o nosso estar-aí, remontamo-nos pela primeira vez ao âmbito da decisão: se nós nos prometemos os deuses ou se nos recusamos a eles.
Só agora abarcamos com a vista pela primeira vez o que significa “desde que somos um colóquio…”. Desde que os deuses nos [50] trazem para a conversa, desde o tempo em que há tempo, desde então uma conversa é o fundamento do nosso estar-aí. A sentença que pronuncia a língua o acontecimento supremo do estar-aí humano alcançou, por isso, esclarecimento e fundamentação.
Mas ao mesmo tempo impõe-se a pergunta: como começa esta conversa que nós somos? Quem leva a termo a nomeação dos deuses? Quem apreende, no tempo devorador, um permanente qualquer e fixa-o na palavra? Hölderlin no-lo diz com a simplicidade confiante do poeta. Ouçamos uma quarta sentença.
Hoeller
Let us first choose the line which has a direct bearing on what we have discussed so far: "Since we have been a conversation…." We—human beings—are a conversation. Man’s being is grounded in language; but this actually occurs only in conversation. Conversation, however, is not only a way in which language takes place, but rather language is essential only as conversation. What we usually mean by "language," namely, a stock of words and rules for combining them, is only an exterior aspect of language. But now what is meant by "conversation"? Obviously, the act of speaking with one another about something. Speaking, then, mediates our coming to one another. But Hölderlin says, "Since we have been a conversation and able to hear from one another." Being able to hear is not merely a consequence of speaking with one another, but is on the contrary the presupposition of speaking. But even being able to hear is itself in turn based upon the possibility of the word and has need of it. Being able to talk and being able to hear are co-original. We are a conversation—and that means we are able to hear from one another. We are a conversation, that always also signifies we are one conversation. The unity of a conversation consists in the fact that in the essential word there is always manifest that one and the same on which we agree, on the basis of which we are united and so are authentically ourselves. Conversation and its unity support our existence.
But Hölderlin does not simply say "we are a conversation"—rather— "Since we have been a conversation…." Even where man’s ability to speak is present and is put into practice, the essential event of language—conversation— does not necessarily occur. Since when have we been a conversation? If there is to be one conversation, the essential word must remain related to what is one and the same. Without this relation, even a quarrel is impossible. But the one and the same can be manifest only within the light of something that remains. However, permanence and endurance come to appearance only when persistence and presence light up. But this occurs in the moment in which time opens itself up in its dimensions. Since man has placed himself in the presence of something lasting, he can expose himself to the changeable, to what comes and goes; for only the persistent is changeable. Only since "torrential time" has been broken up into present, past, and future, has it become possible to agree upon something that remains over time. We have been one conversation since the time when there "is time." Ever since time arose and was brought to stand, since then we are historical. Both—to be one conversation and to be historical— are equally ancient, they belong together, and they are the same.
Since we have been a conversation—man has experienced much and named many of the gods. Since language has authentically come to pass as conversation, the gods have come to expression and a world has appeared. But again it is important to see that the presence of the gods and the appearance of the world are not merely a consequence of the occurrence of language; rather, they are simultaneous with it. And this to the extent that it is precisely in the naming of the gods and in the world becoming word that authentic conversation, which we ourselves are, consists.
But the gods can come to expression only if they themselves address us and place us under their claim. A word which names the gods is always an answer to such a claim. Its answer always springs from the responsibility of a destiny. Only because the gods bring our existence to language do we enter the realm of the decision concerning whether we are to promise ourselves to the gods or whether we are to deny ourselves to them. (tr. Keith Hoeller, HEIDEGGER, Martin. Elucidations of Holderlin’s Poetry. Amherst: Humanity Books, 2000, p. 56-58)
Cortés & Leyte
De estos versos nos vamos a fijar primero en lo que guarda relación inmediata con lo que estábamos tratando hasta ahora: «Desde que somos habla…». Nosotros, los hombres, somos habla. El ser del hombre se funda en el lenguaje; pero éste sólo acontece verdaderamente y por vez primera en el habla. Pero tal habla no es sólo una de las maneras en que se realiza el lenguaje, sino que el lenguaje sólo es esencial precisamente en cuanto habla. El resto de lo que solemos entender por «lenguaje», esto es, un montón de palabras y reglas de la sintaxis, no es más que el plano aparente del lenguaje. Pero ¿qué significa aquí «habla»? Aparentemente el acto de hablar unos con otros sobre algo. En ese caso hablar proporciona el medio para acceder unos a otros. Pero Hólderlin dice: «Desde que somos habla y podemos oír unos de otros». Poder oír no es una consecuencia de hablar unos con otros, sino por el contrario el presupuesto que lo permite. Pero resulta que también el hecho de poder oír se encuentra ya en sí mismo orientado hacia la posibilidad de la palabra y tiene necesidad de ella. Poder hablar y poder oír son igual de originarios. Somos habla, y esto quiere decir que podemos oír los unos de los otros. Pero que somos habla también significa paralelamente que somos un habla. Ahora bien, la unidad de un habla consiste en que en cada una de las palabras esenciales se pone de manifiesto eso uno y mismo en lo que concordamos y nos unificamos y que es la base que hace que estemos unidos y por tanto seamos auténticamente nosotros mismos. El habla y su unidad son lo que sustenta nuestro existir.
Pero Hólderlin no se limita a decir «somos habla», sino que dice «desde que somos habla». Y es que en donde se da y se ejerce la capacidad de habla del hombre no se da todavía sin más el acontecimiento esencial del lenguaje: el habla. ¿Desde cuándo somos habla? En donde se pretende que haya tal habla la palabra esencial tiene que seguir referiéndose a lo uno y mismo. Sin tal referencia precisamente hasta es imposible una disputa8. Pero lo uno y mismo sólo puede manifestarse a la luz de un elemento que permanece y está siempre ahí. Ahora bien, la permanencia y la estabilidad sólo salen a la superficie cuando destella la persistencia y la presencia. Y esto ocurre en el instante en que el tiempo se abre en sus extensiones. Desde el momento en que el hombre se sitúa en la presencia de algo que permanece, y sólo desde entonces, puede exponerse a lo mutable, a lo que viene y se va; pues sólo lo persistente es mutable. Es sólo desde que el «tiempo desgarrador» se ha desgarrado en presente, pasado y futuro desde cuando existe la posibilidad de unirse en algo permanente. Somos un habla desde el tiempo en que «el tiempo es». Desde que el tiempo ha surgido, desde que ha sido fijado, desde entonces, somos históricos. Ambas cosas, ser habla y ser históricos, son igual de antiguas, van unidas y son lo mismo.
Desde que somos habla el hombre ha experimentado muchas cosas y ha nombrado a muchos dioses. Desde que el lenguaje acontece auténticamente como habla, los dioses llegan a la palabra y aparece un mundo. Pero nuevamente hay que decir que la presencia de los dioses y la aparición del mundo no son una consecuencia del acontecimiento del lenguaje, sino que son uno con él y simultáneos.
Y esto es tan verdad que es precisamente en nombrar a los dioses y en hacerse palabra el mundo en lo que consiste el auténtico habla que nosotros mismos somos.
Pero los dioses sólo pueden llegar a la palabra cuando ellos mismos empiezan por interpelarnos y nos ponen bajo su interpelación. La palabra que nombra a los dioses es siempre respuesta a semejante interpelación. Dicha respuesta nace siempre de la responsabilidad de un destino. Es sólo cuando los dioses llevan nuestro existir al lenguaje cuando podemos penetrar en el ámbito en el que se decide si nos prometemos a los dioses o nos negamos a ellos.
Original
Aus diesen Versen greifen wir zunächst dasjenige heraus, was unmittelbar in den bisher besprochenen Zusammenhang weist: »Seit ein Gespräch wir sind …« Wir – die Menschen – sind ein Gespräch. Das Sein des Menschen gründet in der Sprache; aber diese geschieht erst eigentlich im Gespräch. Dieses ist jedoch nicht nur eine Weise, wie Sprache sich vollzieht, sondern als Gespräch nur ist Sprache wesentlich. Was wir sonst mit [39] »Sprache« meinen, nämlich einen Bestand von Wörtern und Regeln der Wortfügung, ist nur ein Vordergrund der Sprache. Aber was heißt nun ein »Gespräch«? Offenbar das Miteinandersprechen über etwas. Dabei vermittelt dann das Sprechen das Zueinanderkommen. Allein Hölderlin sagt: »Seit ein Gespräch wir sind und hören können voneinander.« Das Hörenkönnen ist nicht erst eine Folge des Miteinandersprechens, sondern eher umgekehrt die Voraussetzung dafür. Allein auch das Hörehkön-nen ist in sich schon wieder auf die Möglichkeit des Wortes ausgerichtet und braucht dieses. Redenkönnen und Hörenkönnen sind gleich ursprünglich. Wir sind ein Gespräch – und das will sagen: wir können voneinander hören. Wir sind ein Gespräch, das bedeutet zugleich immer: wir sind ein Gespräch. Die Einheit eines Gesprächs besteht aber darin, daß jeweils im wesentlichen Wort das Eine und Selbe offenbar ist, worauf wir uns einigen, auf Grund dessen wir einig und so eigentlich wir selbst sind. Das Gespräch und seine Einheit trägt unser Dasein.
Aber Hölderlin sagt nicht einfach: wir sind ein Gespräch – sondern: »Seit ein Gespräch wir sind – « Wo Sprachfähigkeit des Menschen vorhanden ist und ausgeübt wird, da ist noch nicht ohne weiteres das wesentliche Ereignis der Sprache – das Gespräch. Seit wann sind wir ein Gespräch? Wo ein Gespräch sein soll, muß das wesentliche Wort auf das Eine und Selbe bezogen bleiben. Ohne diesen Bezug ist auch und gerade ein Streitgespräch unmöglich. Das Eine und Selbe aber kann nur offenbar sein im Lichte eines Bleibenden und Ständigen. Beständigkeit und Bleiben kommen jedoch dann zum Vorschein, wenn Beharren und Gegenwart aufleuchten. Das aber geschieht in dem Augenblick, da die Zeit in ihren Erstreckungen sich öffnet. [2] Seitdem der Mensch sich in die Gegenwart eines Bleibenden stellt, seitdem kann er sich erst dem Wandelbaren, dem Kommenden und Gehenden aussetzen; denn nur das Beharrliche ist wandelbar. Erst seitdem die »reißende Zeit« aufgerissen ist in [40] Gegenwart, Vergangenheit und Zukunft, besteht die Möglichkeit, sich auf ein Bleibendes zu einigen. Ein Gespräch sind wir seit der Zeit, da es »die Zeit ist«. Seitdem die Zeit aufgestanden und zum Stehen gebracht ist, seitdem sind wir geschichtlich. Beides – ein Gesprächsein und Geschichtlichsein – ist gleich alt, gehört zusammen und ist dasselbe.
Seit ein Gespräch wir sind – hat der Mensch viel erfahren und der Götter viele genannt. Seitdem die Sprache eigentlich als Gespräch geschieht, kommen die Götter zu Wort und erscheint eine Welt. Aber wiederum gilt es zu sehen: die Gegenwart der Götter und das Erscheinen der Welt sind nicht erst eine Folge des Geschehnisses der Sprache, sondern sie sind damit gleichzeitig. Und das so sehr, daß im Nennen der Götter und im Wort-Werden der Welt gerade das eigentliche Gespräch besteht, das wir selbst sind.
Aber die Götter können nur dann ins Wort kommen, wenn sie selbst uns ansprechen und unter ihren Anspruch stellen. Das Wort, das die Götter nennt, ist immer Antwort auf solchen Anspruch. Diese Antwort entspringt jeweils aus der Verantwortung eines Schicksals. Indem die Götter unser Dasein zur Sprache bringen, rücken wir erst ein in den Bereich der Entscheidung darüber, ob wir uns den Göttern Zusagen oder ob wir uns ihnen versagen.
Von hier aus ermessen wir erst ganz, was es heißt: »Seit ein Gespräch wir sind …« Seit die Götter uns in das Gespräch bringen, seit der Zeit ist es die Zeit, seitdem ist der Grund unseres Daseins ein Gespräch. Der Satz, die Sprache sei das höchste Ereignis des menschlichen Daseins, hat damit seine Deutung und Begründung erhalten.
Aber sogleich erhebt sich die Frage: wie fängt dieses Gespräch, das wir sind, an? Wer vollzieht jenes Nennen der Götter? Wer faßt in der reißenden Zeit ein Bleibendes und bringt es im Wort zum Stehen? Hölderlin sagt es uns in der sicheren Einfalt des Dichters. Wir hören ein viertes Wort.
Ver online : Erläuterungen zu Hölderlins Dichtung [GA4]