Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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GA65:76 – procedimento da ciência

sexta-feira 22 de novembro de 2024

9) O desdobramento do rigor [Entfaltung der Strenge] de uma ciência realiza-se em meio aos modos de avanço [Weisen des Vorgehens] (da assunção de uma perspectiva sobre a região de objetos [der Hinsichtnahme auf das Sachgebiet]) e de procedimento [Verfahrens] (de execução da investigação e da apresentação), no “método” [Methode]. Esse avanço traz o âmbito do objeto respectivamente para o interior de uma determinada direção da explicabilidade, que já assegura de maneira principial a inevitabilidade de um “resultado”. (Algo sempre vem à tona). O modo fundamental do procedimento em toda explicação é a persecução e a disposição antecipativa de séries e cadeias particulares de relações incessantes de causa-efeito. A essência maquinacional do ente, apesar de não ser reconhecida enquanto tal, não apenas justifica, mas exige uma elevação sem limites desse pensar seguro dos resultados em termos de “causalidades”, que, consideradas rigorosamente, não são senão ligações “se-então” sob a forma do quando-então (ao que também pertence, por isso, a “estatística” da física moderna, que não supera de maneira alguma a causalidade, mas a traz simplesmente à luz em sua essência maquinacional). Achar que se pode conceber antes com essa causalidade aparentemente “livre” o vivente revela apenas a convicção secreta fundamental de que um dia também se colocará o vivente sob a jurisdição da explicação. Esse passo encontra-se tanto mais próximo, uma vez que, do lado da região contrária à natureza, na história, predomina o método puramente “historiológico” ou “pré-historiológico”, que pensa completamente em termos de causalidade e torna acessível a “vida” e o “vivenciável” ao computo causal e vê tão somente aí a forma do “saber” histórico. O fato de se admitir na história o “acaso” e o “destino” como codeterminantes atesta com maior razão o domínio único do pensamento causal, na medida em que, sim, “acaso” e “destino” só representam as ligações de causa-efeito não exata e inequivocamente calculáveis. O fato de, em geral, o ente histórico poder possuir um modo de ser completamente diverso (fundado no ser-aí), nunca pode se tornar passível de ser sabido pela historiologia, porque ela nesse caso precisaria abdicar, então, de si mesma. Pois enquanto ciência ela tem como seu âmbito de transcurso de antemão fixado o autoevidente, aquilo que é incondicionadamente consonante com uma inteligibilidade mediana, inteligibilidade essa que é exigida a partir da essência da ciência como a instituição de correções no interior do domínio e da direção de tudo o que é objetivo a serviço da utilização e do cultivo.

[HEIDEGGER, Martin. Contribuições à Filosofia (Do Acontecimento Apropriador). Tr. Marco Antonio Casanova  . Rio de Janeiro: Via Verita, 2014, §76]


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