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Ferreira da Silva (2010:103-104) – experiência idônea do ser
segunda-feira 20 de julho de 2020
É a partir de uma experiência do divino que devemos alçar-nos a uma experiência idônea do Ser. Seguindo as insinuações dessa experiência veremos, em primeira linha, que o fundo oculto da realidade não é uma substância inerte ou indiferente, ou uma Ideia, mas sim uma inexaurível Fonte de Atrações, uma instância mágico-transcendente que suscita o soerguer-se do ente enquanto configuração fascinada. O Ser é o Sugestor, o Fascinator, aquilo cuja manifestação ou fulguração se dá como polo pulsional erótico e que traça ou des-vela as coisas ao fasciná-las. Eis por que Heidegger relaciona a proximidade do Ser com a experiência do estranho, do espantoso (Ungeheure), desde que essa experiência nos remete ao Poder selvagem e incalculável que comanda a instrução dos mundos. A compreensão do Ser, como essência fundante, acompanha a experiência desse mesmo Ser, como propensão abismal além do já fundado, como luta de princípios na sequência do divino. O apelo do sagrado faz-nos romper com as possibilidades dadas, com o ente assegurado, através do vir a nós de novas possibilidades e do sortilégio de uma singular epifania. Inicialmente, entretanto, esse chamado se manifesta unicamente como inquietação do espírito, como vertigem do abismo que ainda não irrompeu num novo meio-dia do sagrado. O “ser fascinado” além do já dado é a experiência da experiência da essência trópico-fascinante do Ser. O domínio do Ser é um Poder Passional, um foco de propensões e de parcialidades, e não um domínio isento e equilibrado. Eis por que a experiência do Ser é uma experiência de arrebatamento e de sugestão. [FERREIRA DA SILVA , Vicente. Transcendência do Mundo. São Paulo: É Realizações, 2010, p. 103-104]
Ver online : Vicente Ferreira da Silva