Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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Ernildo Stein (2012b:152-153) – Habermas e as Ciências Humanas

domingo 17 de novembro de 2024

[…] poderíamos mencionar Habermas  , que se refere a dois modos de visualizar o universo das Ciências Humanas. Segundo ele, existem duas maneiras de abordar a realidade. Nós poderíamos considerá-la mediante a produção de conhecimentos, de conteúdos cognitivos e do desenvolvimento de universos de racionalidade cada vez mais amplos, o que nos daria explicações, por meio do corpus das ciências, sobre essa realidade. Ou, diz Habermas  , poderíamos olhá-la como um bloco ou como um todo, em que, não podendo determinar objetos nítidos para abordarmos as diversas ciências, teríamos que considerá-la um todo engimático no qual apenas nos aproximamos parcialmente sem nunca constituir uma ciência com total independência de seu objeto.

A abordagem naturalista, que é sugerida na primeira abordagem proposta por Habermas  , contrasta com a segunda abordagem da realidade, que se articula em um universo significativo que não pode ser decifrado completamente. Ou seja, o mundo abordado pelas Ciências Exatas [153] é despedaçado, pois não possui nada de sacral ou enigmático, enquanto o mundo das Ciências Humanas é “fatiado”, isto é, é recortado de diversos aspectos que constituem o enigma da totalidade do mundo. Por isso, nessa última abordagem, algo de mistério ou de não esgotado sempre sobra. Ora, esse tipo de abordagem não é realizada com o método explicativo, mas com o compreensivo. É claro que o trabalho compreensivo também implica saber ou conhecer, assim como no explicativo, mas estes não são, de maneira alguma, independentes do sujeito que os aborda e, por isso, uma total objetividade não é possível. De modo simultâneo, porém, este saber e conhecer emergem não apenas de mim, mas desde o mundo, isto é, surpreendem-se ao fazerem parte do enigma do mundo, que não pode ser despedaçado inteiramente como objeto. O problema da interpretação, portanto, constitui-se como o problema da inseparabilidade entre sujeito e objeto.

[STEIN, Ernildo. Analítica Existencial e Psicanálise. Freud  Binswanger  Lacan   — Boss. Ijuí: Editora Unijuí, 2012b]


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