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Ernildo Stein (2012b:138-139) – A psicanálise vê no Dasein…
domingo 17 de novembro de 2024
[…] Heidegger tem uma frase que diz o seguinte: “A psicanálise vê no Dasein apenas as modificações da decaída [Verfallen] (que se torna marcada pela e na pulsão [Trieb]). A psicanálise apresenta essa constituição como o propriamente humano e, assim, a psicanálise coisifica o propriamente humano, convertendo-o em uma espécie de pura pulsionalidade”. Um frase dessas, dita com dureza e, ao mesmo tempo, com simplicidade, parece jogar grande parte das tentativas da Psicanálise em um campo em que ela erra propriamente o seu objeto, porque apenas tem acesso ao ser humano enquanto o constrói como uma espécie de “máquina” ou “tipo” de ser para poder aplicar tal ou qual procedimento. Heidegger chama essa operação de perda da dimensão da faticidade e do futuro [Zukunft], transformando o ser humano em um simples movimento pulsional — é, no fundo, a coisificação do humano, na medida em que este é interpretado como pulsionalidade.
Em outra discussão com Boss, Heidegger fala o seguinte das instâncias psíquicas: “O id, ego e superego não é uma novidade em filosofia, porque isso não é mais nada do que a subdivisão de uma velha divisão entre sensibilidade, entendimento e razão, sendo esta última compreendida como lei moral ou imperativo categórico”. Essas três instâncias são especificadas na Psicanálise como três instâncias da estrutura psíquica, mas que novamente aparecem como elementos abstratos. Por isso, Heidegger diz: “Se eu disser, no lugar de eu, eu-sou-no-mundo [In-der-Welt-sein], modifico completamente o enunciado, acrescentando um caráter extremamente concreto, ligando o mundo no qual eu sou”.
[STEIN, Ernildo. Analítica Existencial e Psicanálise. Freud — Binswanger — Lacan — Boss. Ijuí: Editora Unijuí, 2012b]
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