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Bornheim (1980:13-14) – conceito e noção
domingo 17 de novembro de 2024
[…] não se misturem conceito [Begriff] e noção [Vorstellung]. O primeiro é científico, e o que o caracteriza é uma definição que, além de intemporal, se faz no elemento da exterioridade; a noção, ao contrário, implica outro tipo de rigor, o filosófico, assim definido por Sartre : “Uma noção, para mim, é uma definição com interioridade, e que compreende em si não somente o tempo que pressupõe o objeto do qual se tem a noção, mas também o seu próprio tempo de conhecimento”. [1] Mais claramente: “Por noção entendo essa compreensão global mas estruturada de uma realidade humana que faz entrar a temporalização — enquanto devir orientado — na apercepção sintética que ela quer ter de seu objeto e simultaneamente de si pròpria”. [2] Com outras palavras: a noção pretende dar conta daquilo que se chamou de sujeito-objeto, expressão esta que, do ponto de vista estritamente científico, carece de qualquer sentido, mas que se faz absolutamente necessária, já por uma óbvia razão negativa: é que a objetividade sem compensações da Ciência jamais poderia dar conta da tessitura ambígua da realidade humana. Assim, temos de um lado os conceitos, que integram o conhecimento, a Ciência, e de outro, as noções, que perseguem a compreensão, visada justamente pela empatia. Empatia do quê? Compreensão do quê? Daquilo que Sartre chama de vécu, a vivência, a experiência vivida [Erlebnis]. Tudo gira em torno destes quatro conceitos: a empatia pela vivência leva à compreensão, que gera por sua vez a noção. Pretender-se-á, não sem motivo, que isso tudo nada oferece de realmente novo: nos primeiros lustros do século, alemães de diversas escolas elaboraram estes conceitos à exaustão. O que lhes faltava, porém, é precisamente o que lhes acresce Sartre : a forte carga de psicanálise e de marxismo, num justificado esforço de desanuviar horizontes vagos.
[BORNHEIM , Gerd. O Idiota e o Espírito Objetivo. Porto Alegre: Editora Globo, 1980]
Ver online : Gerd Bornheim
[1] Situations, X. id. p. 95.
[2] SARTRE, Jean Paul. L’idiot de la famille; Gustave Flaubert de 1821 à 1857. Paris, Gallimard, 1972, I, 7