Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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Bornheim (1980:14-15) – vivência

domingo 17 de novembro de 2024

[…] a categoria da vivência [Erlebnis] pretende tomar o posto daquilo que o primeiro Sartre   chama de consciência [Gewissen], isto é, daquela realidade avassaladoramente translúcida, um quase-absoluto que encontra o seu fundamento no nada [Nichts] e que constitui, pode-se dizer, o objeto exclusivo de O Ser e o Nada. Pois a consciência é agora engolida pela vivência. Não que o conceito de consciência desapareça de O Idiota da Família [1], mas ele se rarefaz e passa a ser tão-somente como que o satélite de uma realidade mais ampla, ou de um núcleo que confina com o opaco. Ouçamos Sartre  : a vivência “não designa nem os refúgios do pré-consciente, nem o inconsciente, nem o consciente, mas o terreno sobre o qual o indivíduo é constantemente submergido por si mesmo, por suas próprias riquezas, e no qual a consciência tem a astúcia de se determinar a si própria pelo esquecimento”. [2] E ainda, de modo mais abrangente: “O que chamo de vivência é precisamente o conjunto do processo dialético da vida psíquica, um processo que permanece necessariamente opaco a si mesmo porque ele é uma constante totalização, e uma totalização que não pode ser consciente daquilo que ela é. Pode-se, com efeito, ser consciente de uma totalização exterior, mas não de uma totalização que totaliza igualmente a consciência. Neste sentido, a vivência é sempre suscetível de compreensão, jamais de conhecimento”. [3]

[BORNHEIM  , Gerd. O Idiota e o Espírito Objetivo. Porto Alegre: Editora Globo, 1980]


Ver online : Gerd Bornheim


[1SARTRE, Jean Paul. L’idiot de la famille; Gustave Flaubert de 1821 à 1857. Paris, Gallimard, 1972

[2Situations, X. Paris, Gallimard, 1976, p. 108.

[3Id. p. 111.