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Ernildo Stein (2012b:133-134) – poder-ser-doente
domingo 17 de novembro de 2024
[…] Essa necessidade de ajuda, como analisa Heidegger, é uma estrutura intrínseca do próprio Dasein, porque ele está sempre à beira de se perder ou, então, como dizem os alemães, “Mit sich nicht vertig werden”, quer dizer, está à beira de não conseguir resolver-se em situações existenciais. Como isso é uma estrutura fundamental e está ligada à questão da liberdade, esta, como podemos perceber, tem um lado negativo, isto é, o indivíduo, em certas situações, arrisca-se, pois não sabe exatamente o que fazer consigo.
O próprio poder-ser doente, que é outro existencial que Heidegger levanta nessa linha, liga-se à questão da finitude e da temporalidade e, assim, à condição da historicidade. O ser humano problematiza-se como um ser que pode ser doente, porque, de alguma maneira, ele entra em um universo de mal-estar consigo mesmo, que não é simplesmente da ordem das explicações orgânicas ou pela relação causa-efeito. Ou seja, esse fenômeno do poder-ser doente manifesta-se em uma dimensão bastante ampla daquilo que denominamos de sintomático no ser humano, pois não é apenas a manifestação de um sintoma que possui, em algum lugar, uma causa por trás de si. O ser humano como um “animal sintomático” significa, então, a condição de ser necessitado de ajuda, de poder perder-se em determinada situação, de estar ameaçado pela própria liberdade humana. Tudo isso tem a ver com a palavra “imperfeição”, mas este é um termo totalmente inadequado dentro dos quadros da analítica existencial, porque ele nos liga a certo nível comparativo de um ente supostamente perfeito, que foi o grande mal da tradição metafísica. Por outro lado, esse poder-ser-doente é o sinal de uma condição da finitude e da historicidade do ser humano, tendo, inclusive, uma espécie de caráter inibidor da liberdade e das próprias possibilidades de vida.
[STEIN, Ernildo. Analítica Existencial e Psicanálise. Freud — Binswanger — Lacan — Boss. Ijuí: Editora Unijuí, 2012b]
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