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Blattner (1999:51-52) – Possibilidade
sexta-feira 14 de novembro de 2008
Heidegger argumenta que há uma conexão intrínseca entre afetividade e compreensão, na medida em que o que é revelado pela afetividade serve como base para o Dasein avançar para a autocompreensão que busca:
A possibilidade como um existencial não significa uma capacidade de ser livremente flutuante no sentido da "indiferença da vontade" (libertas indifferentiae). O Dasein é, como essencialmente afetivo, em todos os casos já preso em possibilidades determinadas. . . . Isso significa, no entanto, que o Dasein é um ser-possível que é entregue a si mesmo; por inteiro é possibilidade lançada [geworfene Möglichkeit]. (SZ :144; ET31)
Jones é afetada por si mesma, ou seja, por suas habilidades, suas possibilidades, as formas possíveis de ser Dasein. Estas lhe são reveladas como sendo importantes de determinadas maneiras, como sustentantes. E essas sustentações a motivam. É por essa razão que o fato de as possibilidades serem lançadas impede que sua capacidade de ser seja "livremente flutuante", uma "liberdade de indiferença". O lançar de suas possibilidades, ou melhor, seu próprio lançar em possibilidades, é precisamente o fato de que suas possibilidades já são importantes para ela.
Jones está sintonizada com o que faz com que certas formas de ser valham a pena, sejam divertidas, desejáveis, assustadoras, nobres, estimulantes e assim por diante. Essa sintonia, por sua vez, torna possível sua capacidade de ser. Sua capacidade de ser uma intérprete é possibilitada por uma disposição afetiva para ser uma intérprete. A habilidade não é, como vimos, uma característica de estado que ela possui, nem é uma capacidade abstrata, puramente intelectual ou puramente física dela. Em vez disso, é o que Heidegger chama de "possibilidade lançada", ou seja, uma habilidade engajada que requer uma certa revelação afetiva de si mesma e do mundo para fazer sentido para ela. Ela não poderia ser uma intérprete, no sentido de que não poderia se lançar nas tarefas subsidiárias e usar a parafernália necessária, se não encontrasse a possibilidade (ainda que tacitamente) como nobre, ou desejável, ou qualquer outra coisa. A possibilidade de ser uma intérprete deve ser importante para ela de alguma forma, deve ser significativa de alguma forma. Se não fosse, então seria totalmente indiferente para ela e, portanto, incapaz de ser.
Ver online : William Blattner